Minas Gerais

BIOGRAFIA

Artigo | Marx, do proletariado à intelectualidade

Karl Marx viveu na Alemanha, na França e na Inglaterra de onde incorporou a filosofia, o socialismo e a causa operária

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Para entendê-lo é preciso sempre ler e reler - Foto: AFP

Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818, na pequena cidade de Treves, no Sul da Prússia Renana, região que futuramente seria a Alemanha, nas fronteiras com a França, era o terceiro dos nove filhos. De 1798 até 1814, a cidade em que Marx nasceu havia pertencido à França, tendo sido sede da administração francesa da região de Sarre.

Engels, no enterro de Marx: “o maior pensador de nossos dias parou de pensar”

Em 1815, após a derrota de Napoleão, a Prússia anexou a região do Reno, onde se achava Treves, afetando a situação dos pais de Marx. Seu pai era advogado, Hirschel Marx, filho de um rabino judeu, mas era afastado da religião, sendo um livre-pensador que se familiarizava com os livros ideólogos da Revolução Francesa, admirador de Lessing, Voltaire e de Rousseau. Sua mãe, Henriette, era holandesa; descendia também de rabinos judeus. Pela sua condição social e econômica, seus pais pertenciam à pequena burguesia de Treves.

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Ao longo de sua vida, Marx passa por diversos países, estabelecendo-se principalmente em três deles: Inglaterra, França e Alemanha, tendo seu pensamento, fortes e diretas influências de elementos característicos desses países.

A Inglaterra vivia o auge da Revolução Industrial, com uma grande população operária, que começava a se organizar, dando início ao movimento operário. Com grande desigualdade social e más condições de trabalho, aliadas aos baixos salários, o que favorecia à união da classe. Nesse auge de desenvolvimento do capitalismo inglês, Marx analisa esse sistema, fazendo uma dura crítica, que mais tarde apareceria em sua principal obra, O Capital.     

Em 1848, vivencia forte crise do capitalismo

A Europa, ainda estava sob o impacto da Revolução Francesa e de seus ideais, tendo inspirado o socialismo científico ou socialismo francês. Já a Alemanha, contribuiria com a sua filosofia clássica, com Hegel e Feuerbach, criadores de conceitos que foram desenvolvidos na teoria de Marx, como a dialética e o materialismo.

Difusão do marxismo

Em 1848, Marx vivencia uma forte crise do capitalismo, que resulta no fechamento de fábricas e diminuição de salários. Sem contar que a França vinha de dois anos de uma colheita ruim, essa instabilidade provoca uma revolução na França e se espalha por toda a Europa, chamada de “Primavera dos Povos”, revoluções se espalham por todo o continente, baseadas nas três ideologias do século XIX: o liberalismo, o socialismo e o nacionalismo. Nesse mesmo ano, Marx lança o Manifesto Comunista, com Friedrich Engels. É a partir dessa época, que o marxismo define-se como uma doutrina independente, com vida própria, mas ainda com uma pequena influência.

Muitos intelectuais daquela época o criticavam, ignorando-o. Até, que um dos grandes historiadores da atualidade, o americano Eric Hobsbawn, faz a seguinte observação do legado de Marx, em vida: “Não se pode dizer que ele morreu fracassado em 1883, porque seus escritos começaram a ter algum impacto na Rússia e um movimento político na Alemanha já estava sob a liderança de seus discípulos”.

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Um trecho da despedida de Marx, por Friedrich Engels em 17 de março de 1883, no cemitério de Highgate, diante do túmulo de Marx: “No dia 14 de março, às três horas e quarenta e cinco minutos da tarde, o maior pensador de nossos dias parou de pensar. Nós o deixamos apenas por dois minutos a sós e, quando voltamos, o encontramos dormindo suavemente na sua poltrona, mas para sempre. É praticamente impossível calcular o que o proletariado militante da Europa e da América e a ciência histórica perderam com a morte deste homem. Imediatamente se perceberá o buraco que foi aberto com a morte desta personalidade gigantesca”.

A obra de Marx era pouco conhecida, mas, em 1889, seis anos após a sua morte, e a partir da Segunda Internacional, já tinha adquirido maior repercussão entre os intelectuais, como a pensadora polonesa, Rosa de Luxemburgo e os russos Lênin e Trotsky, que iniciaram a gloriosa revolução de 1917, que implantariam o regime socialista na Rússia, criando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Contudo, seu legado continuava restrito aos dirigentes políticos.

O marxismo começava, então, a contribuir para outras áreas do conhecimento, além da política e da economia, na Europa; surgindo no fim da década de 1920 e começo dos anos de 1930, a Escola de Frankfurt, um grupo de cientistas sociais e filósofos de tendências marxistas que se associam à Teoria Crítica da Sociedade, desenvolvida na faculdade de Frankfurt. Esse grupo, afasta-se do chamado socialismo operário, associando o pensamento de Marx à pesquisa social e cultural, à filosofia e até mesmo à psicanálise. A Escola, chamava o materialismo de Marx de materialismo interdisciplinar. O que para eles serviria para aprofundar a compreensão da sociedade.

Leitura obrigatória

Foi na década de 1970, quando ingressei na Universidade, que Marx torna-se leitura obrigatória, e para entendê-lo é preciso sempre ler e reler, para ver que seus ensinamentos são atuais, para o momento em que vivemos nos dias de hoje. Foi nessa época, portanto há 46 anos que me tornei na concepção da palavra, marxista! Apesar de na década de 1960, escutar meu pai dizer que só uma pessoa daria jeito nos políticos da época, essa pessoa era Fidel Castro.

 

Antonio Manoel Mendonça de Araújo é professor de Economia, conselheiro do Sindicados dos Economistas de Minas Gerais (SINDECON/MG) e ex-Coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida