Paraná

Pandemia

As sequelas da covid-19 na periferia de Curitiba

Há poucos dados sobre efeitos da contaminação, ainda mais em bairros com atendimento de saúde precário

Curitiba (PR) |
Acompanhamento do paciente, sobretudo nas periferias, ainda é uma questão em aberto - Foto: Giorgia Prates

Rosane Schulka Fonseca trabalha como cuidadora de quatro netos. O marido, coletor de materiais recicláveis, desde o início da pandemia, em 2020, está exposto à contaminação de forma acentuada.

Moradora há vinte anos da vila Maria e Uberlândia, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, numa área ainda sem escritura da casa e regularização fundiária, Rosane é uma entre os mais de 2,2 milhões de infectados no Paraná. No caso dela, no período anterior à vacinação.

Se a vacina reduz fortemente o risco de morte, sabe-se, porém, que sequelas do coronavírus atingem de 10% a 30% das pessoas acometidas pela covid-19, de acordo com reportagem do jornal O Globo. As consequências vão de cansaço, passando por problemas nas vias respiratórias, além de dor de cabeça, disfunção cognitiva, perda de olfato e paladar, chegando a transtornos psiquiátricos.

Ao contrário do filho de Rosane, Bruno, que se recuperou prontamente, ela sofre até hoje as sequelas da infecção. “Tive muita dor de cabeça e febre alta, mas hoje tenho muita falta de ar”, afirma, completando que “estou andando pelo bairro e às vezes tenho que parar para respirar.”

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Problema na periferia

O acompanhamento do paciente, sobretudo nas periferias, ainda é uma questão em aberto. Rosane se soma às pessoas que tiveram sequelas, mas que não têm acompanhamento médico e seguem tocando a vida.

A Secretaria Municipal de Saúde, por meio de sua assessoria de imprensa, aponta que desde o início da pandemia tem ofertado serviços para tratamento. “Para pacientes com sequelas da covid-19 no Hospital de Clínicas, no Complexo Hospitalar de Reabilitação e no Hospital Cajuru. Há, ainda, oferta de atendimento em clínicas de fisioterapia”, afirma a gestão.

Apesar das dificuldades, algumas pessoas retomam uma rotina. A aposentada Irma Maria Prestes Araújo, 72 anos, moradora da Ferrovila, também no bairro Novo Mundo, integra a cozinha comunitária da União de Moradores e segue mantendo as atividades, em que pese mais dificuldade e os impactos que teve no olfato.

“Não sinto mais o cheiro de nada, sinto um pouco mais de cansaço, mas tento me manter ativa na associação”, relata.

 


Dona Irma segue mantendo as atividades, em que pese mais dificuldade e os impactos que teve no olfato / Foto: Giorgia Prates

Conselhos locais de saúde  

Uma consulta a grupos especializados no Sistema Únicos de Saúde (SUS), caso dos Agentes Populares de Saúde e da Rede de Médicos Populares, aponta que há base deficiente de dados públicos sobre o tema.

Especialista da vigilância sanitária de Campo Largo, ouvida pelo Brasil de Fato Paraná, opina que a dificuldade se deve, em parte, à subnotificação dos casos de sequelas. Isso porque, ao contrário da notificação obrigatória dos casos de covid-19, as marcas posteriores da doença não são registradas.

Sobre possíveis procedimentos para o atendimento das consequências da covid, Hugo Leme, da Rede de Médicos Populares de Londrina, aponta que a atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS) é municipalizada. Há, nesse sentido, diretrizes gerais, mas a definição de políticas se dá de acordo com cada cidade, tendo como local de referência, para a população, a Unidade Básica de Saúde.

Leme aponta também que, no caso de Londrina, houve a criação de ambulatório de fisioterapia respiratória e de pneumologia pós-covid, para as sequelas nas vias respiratórias, ao lado do acompanhamento de profissionais da fisioterapia.

Já integrantes dos Agentes Populares de Saúde, agrupamento que envolve sindicalistas, estudantes, profissionais da saúde e movimentos populares, ressaltam a urgência de fortalecimento do controle social e da participação de entidades comunitárias nos conselhos locais de saúde.

Prefeitura de Curitiba diz oferecer tratamento adequado

A assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba também afirmou, em nota, que a gestão se preparou “para o acolhimento desses pacientes pós internamento” e que “as próprias equipes das unidades de saúde estão aptas a atender esses casos e, se for necessário, encaminhar para as equipes multiprofissionais próprias, com fisioterapeutas, nutricionistas e fonoaudiólogos que também prestam suporte a esses pacientes.”

A prefeitura completa ainda que há a possibilidade de atendimento em casa por parte do SUS para pacientes que necessitam acompanhamento após o internamento, quando necessitam manter o uso do oxigênio.

 

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Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini