COMITIVA

Bolsonaro levou à Rússia três assessores da Secom para atuar em suposta função de Carlos

Presidente justificou ida do filho por "trabalho excepcional" nas redes sociais, mas levou servidores para mesma tarefa

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Chefe do Executivo defendeu ida do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) em viagem diplomática; PGR se recusou a investigar caso - Alan Santos/PR

A comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) na Rússia teve a presença de três assessores da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, responsáveis pela divulgação da viagem nas redes sociais e nos canais institucionais do governo brasileiro.

O chefe do Executivo chegou a justificar a presença do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), seu filho, sob a alegação de que ele seria responsável pela comunicação da viagem presidencial. A oposição aponta que a ida de Carlos pode ter o objetivo de afetar a integridade das eleições brasileiras de 2022.

A lista de integrantes da comitiva foi revelada pelo Brasil de Fato na última quarta-feira (2) com informações do Portal da Transparência. Além dos profissionais da Secom, outros dois integrantes do chamado "Gabinete do Ódio", os assessores presidenciais Tércio Arnaud e Coronel Cid, foram a Moscou para atuar na comunicação.

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Bolsonaro esteve em Moscou entre os dias 14 e 16 de fevereiro a convite do presidente russo Vladimir Putin. Durante a viagem, o presidente defendeu a presença de Carlos em sua comitiva. Disse que o filho “se comporta melhor” que os ajudantes de ordem da Presidência da República e que ele atuaria na gestão de redes sociais.

“Eu levei o meu Carlos para a Rússia. Ele me ajuda bastante nas redes sociais, faz um trabalho muito bom. É um trabalho em conjunto, eu não tenho como fazer esse trabalho. Preciso de alguém para fazer esse trabalho comigo. Faz um trabalho excepcional, por isso a perseguição em cima dele. Por isso a invenção do gabinete do ódio”, afirmou.

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“Ele aqui, para mim, com todo respeito, se comporta melhor que os meus ajudantes de ordem. Dorme no meu quarto. Aqui temos 5 quartos de cortesia do governo russo. Não tenho qualquer despesa. E ele é uma pessoa que também trabalhou comigo muito na última noite”, declarou, em entrevista à Jovem Pan.

Leia a lista dos assessores da Secom presentes na comitiva:

Ana Letícia Barreto, subsecretária de Imprensa da Secom: major da Polícia Militar do Distrito Federal, é bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) e em Direito pela Universidade Cidade de São Paulo, possui MBA em Gestão da Comunicação nas Organizações, pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e pós-graduação em Língua Portuguesa pelo UniCEUB.

Valdenio de Jesus Vieira, assistente técnico da Secom: atua no órgão desde 2011, quando foi nomeado para um cargo comissionado na Presidência. Chegou a ser alocado no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em 2020, mas retornou ao Palácio do Planalto em 2021. Seu currículo não está disponível no site oficial.

José Marcelo Santos Monteiro, analista da Secom: advogado com nove anos de atuação em escritórios de advocacia de Brasília, tem um cargo comissionado na Secom desde novembro de 2020. Em seu LinkedIn, cita experiência em "venda de equipamentos para telecomunicações". Seu currículo não está disponível no site oficial.

PGR se recusa a investigar

A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou, em manifestação enviada na noite de quarta-feira (2) ao Supremo Tribunal Federal (STF), que não há “plausibilidade jurídica” no pedido de investigação contra Carlos Bolsonaro por causa da participação na comitiva presidencial. O pedido havia sido feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

“A petição além de não ter pertinência com o objeto investigado nos presentes autos, veio desacompanhada de elementos mínimos indiciários de qualquer prática delitiva, ainda que em tese, tratando-se mais de uma crítica à viagem presidencial à Rússia”, afirmou a subprocuradora-geral da República, Lindôra Maria Araújo, que assina o documento.

“Os demais apontamentos, em uma análise preliminar, afiguram-se como suposições que, a princípio, não angariam plausibilidade jurídica. Ressalte-se, que as críticas e opiniões pessoais do Senador serão bem-vindas na tribuna ou como matéria midiática, mas não como representação criminal, não tendo qualquer pertinência ou prevenção com o INQ 4874”, completou.

Edição: Vivian Virissimo