Pernambuco

POVOS INDÍGENAS

Conheça os Pipipã, etnia quase extinta em Pernambuco que luta pela demarcação da Serra Negra

Desde o século XVIII há registros do povo Pipipã na região, mas só em 2005 iniciaram os estudos para demarcação de terra

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
Atualmente, os Pipipã reivindicam a demarcação da área da Serra Negra - Foto: Divulgação/Facebook

Em mais um programa Prosa e Fato, o Brasil de Fato Pernambuco se dedica a conhecer mais um povo indígena do estado: os Pipipã. Os Pipipã constituem uma das etnias historicamente habitantes da Serra Negra, no município de Floresta, sertão de Pernambuco. 

Somente em 2005 tiveram início os estudos para identificação e demarcação de suas terras indígenas. No entanto, até hoje a luta pelo território ainda é prioridade, como explica o cacique Valdemir Pipipã em entrevista exclusiva para o BdF PE. 

Confira os principais trechos:

O cacique conta que atualmente a população aldeada do povo Pipipã está em torno de 1.050 indígenas, segundo dados do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI). Desde o século XVIII há registros do povo Pipipã na região Moxotó e do contato desses indígenas com o colonizador europeu e com o religioso italiano Frei Vital de Frescarolo. 

Ouça aqui: Povos Pankará e Pipipã debatem sobre a demora na demarcação de suas terras em Pernambuco

Segundo relatos do religioso, apenas em 1802 é que os Pipipã foram aldeados. No entanto, na metade do século XIX, foram considerados extintos. “Mas nós vamos encontrar relatos da presença desses indígenas na região de Santa Cruz da Baixa Verde, na região do Araripe e do Pajeú e pela cidade de São José do Egito”, pontua Valdemir. 

O cacique compartilha, ainda, que durante um bom tempo, os Pipipãs viveram junto com o povo Kambiwá, também do sertão pernambucano, mas que por desentendimentos de lideranças, houve uma separação dos povos. “Hoje os Pipipãs se concentram próximos a reserva biológica de Serra Negra, que é seu solo sagrado, um local usado como referência na identidade e no reconhecimento dos Pipipã”, explica.

Serra Negra: o solo sagrado 


A administração da reserva está a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) / Foto: ICMBio

A Reserva Biológica de Serra Negra é uma das primeiras do Brasil e está localizada entre os municípios de Tacaratu, Floresta e Inajá. Atualmente, a região é habitada por indígenas e a visitação ao local não é permitida, apenas para fins educativos e de pesquisa científica. 

Valdemir afirma que a Serra Negra tem um valor extraordinário para o seu povo, por isso se denominam “os Pipipã de Kambixuru”, os Pipipã da Serra Negra. “Enquanto os órgãos governamentais olham para Serra Negra com um valor ambiental, o povo Pipipã e outros povos indígenas dessa região olham e veem nela um valor histórico, porque foi ali um foco de resistência”, enfatiza. 

E além do valor histórico e ambiental, o cacique reforça o valor antropológico e espiritual. “Ali é a morada dos nossos encantados. Nós acreditamos que os nossos que saem do plano material e vão para uma outra dimensão, o local de descanso deles é ali na mata da Serra Negra”. 

Expressão de fé: o ritual do Aricuri 


Pipipãs durante ritual do Aricuri em 2011 / Foto: Divulgação/Youtube

É na Serra Negra também que acontece a maior expressão de religiosidade dos Pipipã: o Aricuri. Esse é um ritual que acontece anualmente, com início no dia 10 até o dia 20 de outubro e tem o Pajé como principal articulador. Durante esse período, toda a aldeia para suas atividades cotidianas e se isolam dentro da mata. 

De recém-nascido até pessoas da terceira idade: todos participam do momento. “Durante dez dias, nós abandonamos nossas casas, as nossas escolas são fechadas, os nossos postos de saúde são fechados. A gente se dirige para a Serra Negra e vivemos essa experiência de retorno aos nossos antepassados”, partilha o cacique. 

Direito à comunicação


O acesso a internet tem fortalecido a presença de povos indígenas em debates públicos e novas formas de se conectar com o mundo / Foto: WWF-Brasil / Renan Santini

O direito à comunicação é uma necessidade para os Pipipã. Valdemir defende que é preciso ter uma política de acesso à internet para os povos indígenas. Apesar da ideia preconceituosa de que os indígenas vivem isolados e sem internet ou energia elétrica, o cacique afirma que essa não é a realidade. No entanto, garantir que esse acesso seja para todos e com qualidade é a prioridade. 

“A gente aqui paga uma internet particular. Não é uma internet de qualidade, oscila muito e é razoavelmente cara. Mas nós precisamos estar ligados ao mundo”, afirma. 

Além disso, Valdemir faz uma crítica aos questionamentos que recebe sobre indígenas usarem celulares, notebooks e terem acesso à internet. “Nós podemos fazer isso tudo sem deixar de ser quem somos”, defende. 

A luta pelo território continua

Quando perguntado sobre as principais lutas do povo Pipipã para este ano de 2022, o cacique Valdemir afirma que a centralidade ainda reside na luta pelo território. Isso porque o território dos Pipipã adentra a reserva biológica de Serra Negra, que também é uma área federal. “Havia uma perspectiva de a gente abrir mão da Serra Negra, mas nós não vamos fazer isso, porque a Serra Negra é o principal elemento de identificação dos Pipipã”, reafirma.

Além disso, o cacique também pontua a educação escolar indígena e a transposição do Rio São Francisco como prioridades. Para ouvir a entrevista na íntegra, clique aqui

Edição: Vanessa Gonzaga