Escassez na guerra

Ministra diz que Brasil errou ao parar de produzir fertilizantes: "Segurança nacional"

Petrobras fechou três fábricas de insumos desde 2016 e aumentou dependência brasileira de importações

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Tereza Cristina condenou decisões de governo que aumentaram dependência brasileira de importações - Guilherme Martimon/MAPA

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (União Brasil), afirmou nesta quarta-feira (2) que o Brasil tomou uma decisão equivocada ao paralisar a produção nacional de fertilizantes usados em lavouras. Para ela, a autossuficiência no insumo é uma questão de segurança alimentar e até de segurança nacional.

“Por que tomamos lá no passado a decisão equivocada de não produzir fertilizantes?”, disse ela, em entrevista coletiva. “No passado, a decisão era de importar pois era mais barato. Mas o Brasil precisa tratar esse assunto como segurança nacional e segurança alimentar.”

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Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) tabulados pela consultoria StoneX indicavam que, ainda em 2020, cerca de 84% dos fertilizantes usados por agricultores brasileiros já eram importados. Esse percentual de importação é o maior já registrado em mais de 20 anos – e deve aumentar.

Estimativas da StoneX apontam que, em 2021, 85% de todo fertilizante consumido no Brasil foi importado. A Rússia, que entrou em guerra contra a Ucrânia há uma semana, é o maior fornecedor de fertilizante para o país.

O fechamento de três fábricas de fertilizantes da Petrobras durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) aumentou a dependência do Brasil em relação aos adubos vindos do país presidido por Vladimir Putin.

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Não dava lucro

A Petrobras resolveu deixar o mercado de fertilizantes em 2016, após Temer chegar à Presidência. A decisão fez parte de um plano de negócios da estatal, elaborado depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Naquela época, a Petrobras alegava que produzir fertilizantes dava prejuízo. Por conta disso, primeiramente, decidiu desativar duas fábricas de adubos que mantinha no Nordeste.

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A decisão foi anunciada em março de 2018 e atingiu as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), localizada no polo petroquímico de Camaçari, inaugurada em 1971, e de Sergipe (Fafen-SE), em Laranjeiras, ativada em 1982.

Em novembro de 2019, a Petrobras arrendou as duas plantas para a Proquigel Química SA. A empresa, entretanto, só conseguiu reativar a produção delas em 2021.

Outros unidades fechadas

De 2016 para cá, a Petrobras também fechou a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenadas do Paraná (Fafen-PR), em Araucária. O fechamento ocorreu em fevereiro de 2020, já durante o governo Bolsonaro. A desativação da fábrica, que havia sido comprada em 2013, causou a demissão de cerca de mil trabalhadores.

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Também durante este governo, a Petrobras vendeu a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, para o grupo empresarial russo Acron. A planta estava em fase de construção. O anúncio da venda foi feito pela própria ministra Tereza Cristina, em fevereiro deste ano.

Plano para setor

A Tereza Cristina não falou especificamente da Petrobras na entrevista coletiva. Avisou, porém, que o governo entendeu que reduzir a dependência externa do Brasil e vai lançar um plano sobre fertilizantes neste mês.

Segundo a ministra, neste momento, o país não enfrenta problemas de abastecimento do insumo. Ela disse que, a partir de outubro, o país necessitará de adubos para semear uma nova safra. Esses fertilizantes não estão garantidos. Isso preocupa.

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Tereza Cristina afirmou também que o governo pretende estreitar contatos com outros países para suprir uma eventual falta de fertilizantes vindos da Rússia. Pretende ainda incentivar pesquisas para produção agrícola com menor quantidade de adubos.

“Temos que ter calma e equilíbrio”, afirmou. “A safra vai acontecer. Se tivesse que ocorrer hoje, teríamos produto [fertilizante] para isso."

Edição: Vivian Virissimo