DESISTIU

Pressionado por declarações misóginas, Arthur do Val retira pré-candidatura ao governo de SP

O deputado estadual confirmou a veracidade dos áudios em que diz que as ucranianas "são fáceis porque são pobres"

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em vídeo publicado no YouTube, Arthur do Val confirma a veracidade dos áudios e se defende das declarações misóginas - Reprodução/YouTube

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), conhecido como Mamãe Falei, comunicou por meio das redes sociais a retirada de sua pré-candidatura ao governo do estado de São Paulo. Em nota, publicada no Instagram, neste sábado (5), ele diz que "não tem compromisso com o erro" e que havia entrado em contato com a presidente do partido, Renata Abreu, para "retirar a pré-candidatura ao governo de São Paulo".

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A decisão ocorre horas após o vazamento de áudios em que o deputado faz declarações misóginas em relação às mulheres ucranianas Em arquivos de áudio obtidos pelo Brasil de Fato, Arthur do Val afirma que mulheres ucranianas são "fáceis, porque são pobres", entre outros comentários misóginos e machistas. 

“São fáceis, porque elas são pobres. E, aqui, minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas minas, em dois grupos de mina. É inacreditável a facilidade. Essas minas, em São Paulo, você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara. E aqui são super simpáticas".

Na fronteira com a Eslováquia, o autor do áudio compara a fila de refugiados ucranianos - que somam mais de 1 milhão, segundo a ONU - com a "fila da melhor balada do Brasil".

O conteúdo gerou revolta e indignação. A própria presidente da legenda à qual Arthur do Val é filiado se manifestou contra o conteúdo dos áudios. Renta Abreu classificou as declarações como "gravíssimas e inaceitáveis".

No mesmo texto em que anuncia a retirada da pré-candidatura, Arthur do Val diz que toma esta decisão também para "preservar o árduo trabalho de todos aqueles que se dedicam na construção de uma terceira via". Em São Paulo, o parlamentar é aliado e defensor da pré-candidatura do ex-juiz Sérgio Moro, também filiado ao Podemos, à presidência da república. Moro repudiou o comportamento do aliado em nota nas redes sociais. 
 


Em nota, parlamentar anuncia a retirada da pré-candidatura ao governo do estado de São Paulo / Reprodução/Instagram

Reações

A organização Uneafro solicitou ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que investigue o deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) por declarações consideradas misóginas e pela suposta prática de turismo sexual. No pedido da Uneafro, é citado também uma suposta associação entre integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e grupos de extrema direita da Ucrânia responsáveis pela propagação de ideologia nazista.

O pedido, direcionado à Promotoria do Núcleo de Direitos Humanos do MP-SP, cita trecho da entrevista do deputado federal Kim Kataguiri (Podemos) ao youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, no podcast Flow. No dia 7 de fevereiro, o parlamentar afirmou que “foi um erro a Alemanha ter criminalizado o partido nazista”.  

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Após o caso repercutir nacionalmente, Kim Kataguiri fez uma publicação nas redes sociais afirmando que errou e pedindo desculpa à comunidade judaica. "Eu errei e a comunidade judaica tem razão de me criticar por eu ter dito esse absurdo", afirmou o parlamentar à época.

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Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor e ativista político Douglas Belchior, coordenador da Uneafro Brasil e integrante da Coalizão Negra por Direitos, acrescenta uma publicação nas redes sociais do deputado estadual Arthur do Val durante à viagem ao país europeu.

Na imagem, ele aparece ao lado de centenas de coquetéis molotov, dispositivo incendiário caseiro utilizado no conflito com a Rússia. Na publicação, Arthur do Val afirma estar ajudando o exército ucraniano.

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Em São Paulo, a deputada estadual Isa Penna (PSOL) encaminhou solicitação ao Conselho de Ética da Alesp para a cassação do mandato de Arthur do Val, por causa do conteúdo dos áudios vazados.

O Senador Humberto Costa (PT - PE), em publicação no twitter, também anunciou que, como  presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, irá apresentar um requerimento solicitando a convocação de Arthur do Val para prestar esclarecimentos sobre o conteúdo dos áudios. 

 

Procurado pelo Brasil de Fato, o MBL criticou o ofício da Uneafro. "A representação não passa de um delírio oportunista que tenta criar conexões inexistentes. Trata-se de uma ação puramente publicitária, com a plena ciência de que não existem fundamentos para se chegar a algum resultado jurídico, mas apenas midiatico." 

Edição: Lucas Weber