ENTRE VISTAS

Maria do Rosário: armas que Bolsonaro liberou estão apontadas para as mulheres

Para deputada, a violência contra as mulheres e baixa representação feminina na política estão intimamente relacionadas

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"O que nós almejamos realmente é a equidade e a igualdade", disse a deputada, que já foi atacada por Bolsonaro, sobre a representação das mulheres na política - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) afirma que o governo Jair Bolsonaro representa a “naturalização da morte” no Brasil. No programa Entre Vistas, na TVT, parlamentar classificou a atuação do governo federal durante a pandemia como a “maior violação” dos direitos humanos da história do país. Ela lembrou ainda que, além do vírus, durante esse período, Bolsonaro também flexibilizou o acesso às armas para caçadores e colecionadores. “Na verdade essas armas estão apontadas para a cabeça das mulheres, dentro de casa”, disse ela ao jornalista Juca Kfouri.

Nesse sentido, ela destacou que, apesar da queda geral nos índices de homicídios, houve um “crescimento contínuo” nos casos de feminicídio no país. Para ela, a violência contra a mulher no Brasil se relaciona também com a baixa representação feminina na política.

“Temos que romper com a cultura do ódio que nos afasta da política, da discriminação que nos afasta da vida pública. Nós precisamos ser mais”. Em todo o mundo, as mulheres ocupam em média cerca de 25% das vagas nos parlamentos, de acordo com dados da União Interparlamentar (UPI). No Brasil, elas são apenas 15%.

Nas eleições de 2022, Maria do Rosário aposta num cenário mais favorável para as mulheres. Isso porque o Congresso Nacional aprovou, no ano passado, um percentual mínimo de 30% de candidaturas femininas pelos partidos. Contudo, “o que nós almejamos realmente é a equidade e a igualdade”, ressaltou a deputada.

Mas Maria do Rosário lembra que não basta apenas eleger mais mulheres. Por exemplo, ela ressaltou que as eleições de 2018 resultaram na maior bancada feminina da história da Câmara dos Deputados. Diversas delas, contudo, eleitas na onda do bolsonarismo. De lá para cá, no entanto, as representantes desse campo conservador foram “descartadas” pelos mesmos “machões” que elas também ajudaram a eleger, ressaltou a entrevistada.

Ataques covardes

Em dezembro de 2014, Bolsonaro atacou Maria do Rosário numa das cenas mais conhecidas e reveladoras de seu machismo. No Salão Verde da Câmara, área anexa ao plenário da Casa, ele disse que a parlamentar não “merecia” ser estuprada. Também a chamou de “vagabunda”. A deputada reagiu às agressões. Em agosto de 2017, ele foi obrigado a pagar R$ 10 mil de indenização à deputada por danos morais.

“Reagi porque aquilo é tão absurdo de ouvir que ninguém ouviria calada. Foi por mim, mas também por todas as outras mulheres”, ela declarou. Após esse episódio, ela disse que foi obrigada a conviver com “risinhos” de outros parlamentares. Ou até mesmo pessoas na rua que reproduziam as agressões de Bolsonaro destinadas a ela. Nesse contexto, ela disse que o apoio das mulheres foi fundamental para se fortalecer diante dos ataques.

“Esses ataques não me diminuíram. Ou não me atingiram de forma a me destruir. Porque eu encontrei muitas mulheres capazes de fazer a resistência junto comigo, capazes de lutar. Acho que é isso que nós fazemos”. Maria do Rosário disse a Juca Kfouri que não se vê como um exemplo de “coragem” ou “bravura”. Em vez disso, sente-se “apenas mais uma” que se soma à luta pelo fim definitivo da violência contra a mulher. “Mas temos que ser fortes, para fortalecer as demais.”

Desmonte nas políticas de direitos humanos

Maria do Rosário, que foi ministra dos Direitos Humanos no primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, também denunciou o completo desmonte das políticas públicas nessa área pelo governo Bolsonaro. Ela denunciou que a atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, aplicou somente 5% do orçamento voltado para políticas de prevenção ao feminicídio e para o atendimento a mulheres vítimas de violência.

Da mesma forma, a parlamentar e ativista também denunciou a desarticulação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), o mesmo ocorrendo também nas políticas de combate ao trabalho análogo à escravidão. “Vivemos hoje as trevas trazidas por alguém que se diz cristã“, criticou.

Os ataques aos direitos humanos, explicou, foram transversais, incluindo todas as áreas do governo, até mesmo a Saúde e Educação.

Confira a entrevista na íntegra: