ABC ELEITORAL

Colômbia realiza eleições legislativas neste domingo: veja o que está em jogo

Pela primeira vez na história, plataformas de centro e centro-esquerda são favoritas nas pesquisas de opinião

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cerca de 38 milhões de colombianos são convocados a votar neste domingo (13) para renovar o Congresso Nacional - Juan Barreto / AFP

Neste domingo (13), a Colômbia irá eleger 172 deputados e 107 senadores para renovar o Congresso do país. Entre as 8h e 16h (horário local), cerca de 38 milhões de eleitores são chamados a participar do processo nas 112.897 mesas instaladas no país. Outros 908 mil colombianos também estão habilitados para votar no exterior.

Ao todo há cerca de 1.500 candidatos divididos em três grandes chapas: Pacto Histórico, que reúne partidos de esquerda e do campo popular progressista; a coalizão Centro Esperança, com o partido Verde e outros setores de centro-esquerda e centro-direita; e a aliança de direita Equipe pela Colômbia.

Segundo as últimas pesquisas de opinião da empresa Ivamer, o Pacto Histórico é favorito para ganhar as parlamentares com cerca de 38% de intenção de voto, seguido da chapa Equipe pela Colômba com 19% e Centro Esperança com 14,5%.

Neste ano também foi criada a iniciativa "voto por elas", promovida pela ONG Sisma Mulheres, que busca apoiar 20 candidaturas femininas e com uma agenda feminista para o Legislativo. Atualmente as colombianas ocupam apenas 20% das cadeiras no Congresso. 

O filósofo Alejandro Mantilla defende que as novas plataformas são um reflexo da greve geral de 2021, mas pondera as expectativas sobre o cenário eleitoral.

"Por um lado temos um aumento da presença e aceitação de plataformas de esquerda, mas por outro, vemos que os poderes estabelecidos e a direita tradicional ainda têm grande capacidade de mobilização eleitoral, de capital e capacidade de provocar medo", comenta.

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O país atravessa uma crise econômica profunda, com cerca de 21 milhões de pessoas em situação de pobreza, inflação de 5,62% - a mais alta dos últimos cinco anos -  e 12,6% de desemprego, segundo o Departamento Administrativo Nacional de Estadística (DANE).

Entre as principais propostas do Pacto Histórico está a consolidação dos Acordos de Paz, com a retomada das negociações com a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN); reforma prvidenciária; a criação de subsídios para erradicar a fome e a pobreza, assim como controle de preços aos produtos importados.

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Já a chapa Centro Esperança propõe o combate à corrupção e a recuperção da confiança na democracia, com a criação de novas estruturas de representação nos territórios do interior do país; uma reforma tributária; e a consolidação de mecanismos de economia verde.

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"Creio que estamos a portas de uma ruptura histórica. A pergunta é sobre qual o grau dessa ruptura", defende Mantilla.

Para Olimpo Cárdenas ainda há esperança de mais unidade. "Se o Pacto Histórico tiver uma boa votação para o Congresso também irá pressionar para que os representantes de Centro Esperança se unam em uma única bancada", comenta.

Primárias 

Neste fim de semana também serão realizadas eleições primárias para definir os candidatos das alianças de centro-esquerda e de direita. Há cerca de 20 pré-candidaturas para disputar a presidência em maio. Enquanto Gustavo Petro é o favorito para tornar-se o candidato à presidência pelo Pacto Histórico, Federico Gutierrez possui 33% da preferência nas eleições internas da chapa Equipe pela Colômbia e Sergio Fajardo, ex-governador de Antioquia pela Aliança Social Independente é o pré-candidato favorito dentro da coalização Centro Esperança, com 37%.

Já para a disputa presidencial no dia 29 de maio, o pré-candidato do Pacto Histórico, senador Gustavo Petro é favorito para vencer em todos os cenários, com cerca de 42% de intenções de voto, seguido de Sérgio Fajardo, quem também já se candidatou à presidência em 2018, e agora possui 18,9% da preferência, de acordo com as últimas pesquisas de opinião.

Processo de paz 

Pela primeira vez serão efetivadas as "cadeiras especiais pela paz", vagas dentro do Legislativo que deverão ser ocupadas por vítimas do conflito armado colombiano. Os Acordos de Paz, assinados em 2016, previam a inclusão de 16 vítimas, líderes sociais e ex-combatentes na vida política com suporte do Estado.

"A imensa maioria de combatentes honrou o acordo e hoje é uma realidade que um dos maiores grupos insurgentes da América Latina hoje se comporta como um partido político.Porém o partido Comunes não tem garantias para fazer política de maneira democrática, porque a cada dia aumenta o número de ex-guerrilheiros assassinados em todo o país. Há um esforço massivo de aniquilamento dos ex-combatentes das FARC em todo o país", relata Mantilla.

O sistema de cotas especiais já deveria ter entrado em vigência nas eleições de 2018, no entanto por entraves burocráticos, acabou sendo efetivado somente neste processo eleitoral e ainda há denúncias de irregularidades.

"Não garantiu nem a propaganda, nem a segurança, nem qualquer suporte para a campanha eleitoral que o Estado deveria oferecer a vítimas do conflito que pela primeira vez têm a oportunidade de ocupar um lugar no Congresso. E, paralelamente, o governo promoveu por debaixo dos holofotes o filho de um paramilitar como principal candidato para representar uma das vítimas", denuncia o defensor de direitos humanos, Olimpo Cárdenas Delgado.

Somente em 2022, foram registrados 20 chacinas na Colômbia, com 36 líderes sociais mortos e sete ex-guerrilheiros, segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz). Em 2021 foram 96 massacres com 338 vítimas e em 2020, 91 chacinas com 381 pessoas assassinadas.

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"Esperamos que o clima eleitoral generalizado ajude as pessoas no interior do país a perderem o medo e votarem pelas vítimas, algo que é difícil, porque são zonas muito controladas pelo paramilitarismo e afetadas pela violência de Estado", comenta Olimpo Cárdenas.
 

Edição: Rodrigo Durão Coelho