Ceará

Agroecologia

Assentados do MST conquistam certificação orgânica no Vale do Jaguaribe

Produtores explicam que a certificação fortalece a comercialização e incentiva a produção agroecológica

Russas, CE |
agricultura familiar
Assentados do MST em Russas mostram produção agroecológica - Brito Júnior

Fartura, assim pode ser definida a produção do Assentamento Bernardo Marin II, localizado a oito quilômetros do município de Russas, no Ceará. “A gente tem a berinjela, tem a couve, a cenoura, pepino, melancia, cebola”, enumera Maria de Nazaré enquanto mostra com orgulho o tamanho da produção do assentamento. 

Com uma grande variedade de insumos, é daqui que sai boa parte dos alimentos que compõem a mesa e também a renda diária das cerca de 40 famílias assentadas: “Na nossa área hoje são cinco hectares plantados e a nossa ideia é expandir para 10, 15 hectares. Temos frutíferas, hortaliças e tubérculos”, enfatiza Brito Júnior, Técnico em Agropecuária, que colabora na formação das famílias para o correto manuseio agroecológico da terra. Ele conta que a produção, de cerca de 1000 toneladas de alimentos, é distribuída para a Feira da Reforma Agrária do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Fortaleza, feiras na região do Vale do Jaguaribe e doações, além das mesas dos assentados e assentadas: “ A gente não pensa só em vender, a gente pensa em garantir o alimento da casa de cada família’’, destaca Brito Júnior.

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A plantação verdinha e livre de veneno é resultado de 18 anos de luta e resistência. Agora, quem vive no Bernardo Marin tem mais um motivo para celebrar: parte da produção acabou de receber a certificação de alimento orgânico. É a primeira vez no Ceará que esse documento é concedido e uma área de assentamento.  “O impacto mais importante que traz a certificação orgânica é a melhoria contínua da sua produção orgânica, pois a partir do momento que ele ou ela estão certificados têm um cuidado maior com a produção, buscando métodos para o manejo orgânico. Outro impacto muito importante é a questão financeira, pois o produto orgânico ele tem um valor maior no mercado, tanto o mercado convencional como o mercado institucional”, explica a agrônoma Cristina Feitosa. 

Das 40 famílias assentadas, cinco receberam a certificação. A ideia é que, aos poucos, todas conquistem o documento, fornecido por Organizações de Controle Social (OCS). Para os produtores esse reconhecimento representa o acesso a uma via legal de comercialização de orgânicos. Para quem consome, é a garantia de uma alimentação saudável e livre de veneno. “É uma grande conquista da nossa luta. Nós estamos vivenciando como assentadas a experiência de participar da certificação orgânica da OSC, estamos aqui com este entendimento da importância da reforma agrária popular para, principalmente, massificar a agroecologia. Estamos aqui nos organizando, num grupo coletivo de mulheres, para fortalecer essa experiência que é do conjunto do MST”, celebra a assentada e Dirigente do MST Ceará, Maria de Jesus Santos.

A conquista é coletiva, mas a dirigente do MST lembra que para garantir a ampliação desse direito é preciso que haja mais incentivos e políticas públicas com o olhar para a agroecologia como possibilidade de uma agricultura sustentável e não como alternativa. “A agroecologia precisa de políticas públicas de incentivo, de crédito especial, de apoio a nós, mulheres, para vender a nossa produção nas feiras. Também reivindicamos a conquista de políticas públicas para o fortalecimento da agroecologia. A nossa luta é por uma produção agroecológica saudável, livre de agrotóxicos, livre de transgênicos, livre das explorações do capital no campo do agronegócio e do hidronegócio”, finaliza Maria de Jesus. 

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Edição: Camila Garcia