Rio Grande do Sul

Presidenciável

Leite fala como presidenciável, mas diz ser ‘doloroso’ abandonar o governo do RS

Governador se esquivou de confirmar troca de partido, mas garantiu que decisão sobre futuro político sai semana que vem

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Leite tem até o dia 1º de abril para decidir se renuncia ao mandato de governador, o que seria necessário para concorrer à presidência - Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira (16), o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou que deve definir o seu futuro político até a próxima semana. Falando abertamente sobre como seria sua possível campanha presidencial, Leite deu a entender que deverá deixar o PSDB e migrar para o PSD, onde há um convite para que concorra à presidência, mas evitou anunciar qualquer decisão.

Convidado para ser o primeiro palestrante do ano em evento promovido pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Leite respondeu perguntas de diversos veículos por cerca de meia hora, toda elas versando sobre a sua situação eleitoral. Conforme os prazos da Justiça eleitoral e para troca de partidos, ele tem até o dia 1º de abril para decidir se renuncia ao mandato de governador, o que seria necessário para concorrer à presidência, e se aceita o convite para ingressar no PSD.

Leite afirmou que ainda não tomou uma decisão, mas disse que tem “convicção que uma alternativa é possível” à polarização entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Em tom eleitoral, disse acreditar que é possível a construção de uma candidatura que seja uma “esperança de um futuro” que não seja nem o “presente ruim”, referindo-se a Bolsonaro, e nem o “passado que nos deixou más lembranças”, referindo-se a Lula. “Eu tenho convicção que é possível”, disse.

Em sua avaliação, as pesquisas têm mostrando que os atuais nomes colocados como pré-candidatos da chamada “terceira via”, entre os quais estão o de João Doria (PSDB) e de Sergio Moro (Podemos), não ganharam força, o que abriria as portas para sua eventual candidatura. Para o governador, o principal elemento a ser levado em conta seria a alta rejeição apresentada por esses candidatos.

“Não sou eu que estou dizendo que são inviáveis ou pouco viáveis, as pesquisas estão mostrando isso. Eu digo que as pesquisas, nesse momento, têm que ser analisadas muito mais pelo que a população está dizendo que não quer do que aquilo que ela demonstra querer. A rejeição é muito importante de ser analisada, porque ela que dá a noção sobre a capacidade de crescimento”, diz, acrescentando que acha pouco viável que candidatos que hoje gozam de alta rejeição possam ter tempo de reverter o cenário. “Daqui a pouco existe uma fórmula a ser apresentar (para reverter a rejeição), mas até aqui não conseguiram construir uma perspectiva de vitória”.

Leite avaliou ainda que os nomes colocados na disputa são velhos conhecidos da população e que o Brasil precisaria, na verdade, de algo “verdadeiramente novo que possa reconstruir a esperança no futuro do País”. O governador disse não acreditar que seja possível ganhar a eleição se apresentando como “nem Lula nem Bolsonaro”, porque ambos já ocupam o espaço que representa a contrariedade a um e a outro. Para ele, até o momento, os demais candidatos estão focados em desqualificar os seus adversários.

“Eu não acho que tenha que ser uma campanha contra um ou contra os dois”, disse. “Eu quero ajudar a construir uma candidatura que fale de futuro, do que deva vir pela frente, que ganhe por um caminho melhor, não simplesmente porque os outros são piores. Essa candidatura eu não estou vendo nesses nomes”, complementou.

Ele disse ainda acreditar que alguns dos nomes colocados, incluindo João Doria, poderiam ser mais competitivos em eleições anteriores, mas que o contexto não os beneficia.

“Eu sempre dou o exemplo de Geraldo Alckmin que, em 2006, fez 40% dos votos para a presidência da República, em 2018 fez 4%. Não mudou o Geraldo Alckmin, mudou o contexto, o que a população buscava diante da circunstância. Talvez João Doria fosse um candidato melhor em 2018 diante do que se buscava de alguém de fora da política, que de certa forma negasse a política. Nesse momento, o que se busca algo diferente. Eu acho que a oportunidade está em alguém que consiga falar efetivamente de futuro, porque teremos um tensionamento entre o passado e o presente e ambos não deixaram bons resultados”, disse.

O governador ponderou que é “doloroso” abandonar o governo do Estado no momento em que, na sua avaliação, está realizando entregas e que uma renúncia não deve ser feita na “excitação de um momento”, mas disse sentir que tem “condições de liderar um projeto” de candidatura à presidência da República.

Quando pressionado a responder o que faltava para tomar a decisão, Leite disse que ainda está num processo de “maturação” e de diálogo com lideranças políticas e apoiadores. “Vou usar a pista toda”, disse. Por outro lado, ponderou que não deve entrar na disputa se acreditar que sua candidatura só irá servir para “congestionar a 3ª via”.

Antes do evento na Federasul, Leite participou nesta manhã da cerimônia de filiação partidária da ex-senador Ana Amélia Lemos ao PSD. Leite negou que a participação sinalize que ele trocará de partido e disse que se tratou de uma oportunidade para “dar um abraço” em uma liderança política que participou de seu governo e que apoiou a sua candidatura ao Palácio Piratini em 2018.

Por outro lado, ao ser questionado se outros integrantes do PSDB gaúcho o acompanhariam na troca de partido, disse ter confiança de que “muita gente virá conosco se o projeto se confirmar”. “Não estou falando em debandada, estou falando que é natural que muitas pessoas que apostam em nós queiram acompanhar nessa direção”.

Questionado sobre como vê o movimento de alguns nomes de peso do PSD em defesa de um apoio à candidatura de Lula, como é o caso do senador Omar Aziz (PSD-AM), Leite disse ver com naturalidade que o atual cenário de polarização se reflita dentro dos partidos, mas expressou confiança na ideia de que o presidente do partido, Gilberto Kassab, quer construir uma candidatura própria.

O governador, que esteve em Brasília nesta terça-feira (15) para conversar com colegas do PSDB, destacou que ainda dialoga com o atual partido sobre os rumos das eleições. Na coletiva, ele tratou de negar desentendimentos com os tucanos e criticou o tesoureiro nacional do partido, César Gontijo, que ontem cobrou ética do governador por ele ter pressionado pela realização de prévias internas e agora ter a possibilidade de deixar o PSDB.

Leite também negou estar realizando um “leilão” entre partidos para concorrer à presidência, dizendo que foi convidado para participar da disputa. “Eu não procurei, fui procurado”.

Ao final, garantiu que deve tomar uma decisão sobre o seu futuro na próxima semana. “Imagino que semana que vem a gente conclua esse processo. Tem que ser na semana que vem”, disse.

Edição: Sul 21