Emergência climática

“Ruína ou revolução”? Greve pelo Clima acontece em cidades brasileiras e do mundo na sexta (25)

Protestos exigem a interrupção do modelo socioeconômico que destrói o planeta

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Mobilizações estão confirmadas em aproximadamente 1000 cidades de 80 países - Manifestação em Glasgow, Reino Unido, durante a COP-26

Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Manaus, Belém, Cuiabá, Curitiba, Natal e Recife. Nessas capitais brasileiras protestos em defesa do meio ambiente estão marcados para essa sexta-feira (25). 

Organizados pela Marcha Mundial por Justiça Climática e pelo o braço brasileiro da Fridays for Future (FFF), os atos – que no Brasil tem o tema “Ruína ou revolução” - integram o dia da Greve Global pelo Clima.  

No Brasil, outras seis cidades também terão manifestações: Santo André, Volta Redonda, Altamira, Mossoró, Viamão e Pelotas. Segundo os organizadores, as mobilizações desta sexta-feira (25) estão confirmadas em aproximadamente 1000 cidades de 80 países.

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Marcado em diversas cidades pelo país, o ato em Brasília se concentrará de tarde em frente ao Congresso Nacional / Divulgação

Por condições dignas de vida no planeta e reparações climáticas 

Caracterizando o atual cenário climático no mundo como “catastrófico”, a Greve Global pelo Clima reivindica que líderes mundiais “parem com suas negociações supostamente ‘verdes’ e tomem ações ‘honestas e eficientes’”.  

O comunicado das entidades também demanda que governos e empresas do Norte global reparem os danos climáticos que o modelo socioeconômico capitalista extrativista provoca no Sul global.  

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O coordenador da Marcha Mundial por Justiça Climática, Roberto Ferdinand, define que vivemos sob um sistema em que “os 1% mais ricos da população mundial são responsáveis pelo dobro da poluição produzida pelos 50% mais pobres”.  

Citando o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), Ferdinand chama a atenção para a necessidade de acabar com as emissões de gases do efeito estufa em 100% até 2030. Para cumprir a meta, a humanidade tem apenas oito anos. 

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Greve Global pelo Clima na Avenida Paulista, em 2019, antes da pandemia / Roberto Parizotti

"Mas nós não estamos diminuindo as emissões. Estamos aumentando. Caminhamos para subir em quatro graus a temperatura média do planeta", descreve, ao argumentar que isso coloca em risco a vida de 4 bilhões de pessoas. "Hoje vivemos com a possibilidade que a civilização se extinga. Isso está absolutamente no cenário", alerta. 

O desmatamento zero e o fim da geração de energia por meio de combustíveis fósseis são duas das principais reivindicações da mobilização. 

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"Carvão, petróleo e gás: acabou. Qual a energia que tem que usar? Sol, vento, marés, biomassa e geotérmica", defende Ferdinand. 

Interrupção de retrocessos 

Entre as pautas específicas do Brasil, estão a demarcação de terras indígenas e a não aprovação da tese do Marco Temporal; a reversão do desmonte de órgãos como o Ibama, o ICMBio e a Funai; e a implementação de políticas de prevenção a desastres ambientais. 

Além disso, os atos reivindicam a suspensão de Projetos de Lei (PLs) que estão tramitando na Câmara dos Deputados e que são denominados pelos organizadores da Greve Global do Clima como “de destruição”.  

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São aqueles conhecidos como PLs da mineração (191/2020), do veneno (2.699/2002), da grilagem (2.633/2020 e 510/2021), do marco temporal (490/2007) e do não licenciamento ambiental (3.729/2004). 

Emergência climática 

Incêndios florestais, o avanço do nível do mar, secas severas, além de inundações e deslizamentos - como as que aconteceram desde a virada do ano no sul da Bahia, nos estados de Minas Gerais e Maranhão e, mais recentemente, na cidade carioca de Petrópolis -, são citados pela convocatória das manifestações como exemplos de que a emergência climática não é apenas uma ameaça, mas “já nos atinge e mata agora”. 

“Precisamos todos reagir agora enquanto é tempo”, alerta o chamado. 

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Greta e a origem da Greve Global pelo Clima 

Em agosto de 2018, a jovem sueca Greta Thunberg distribuiu panfletos sobre o aquecimento global e sentou em frente ao parlamento do seu país, sozinha, com um cartaz onde se lia “Greve escolar pelo clima”.  


Manifestação do Greve pelo Futuro em Berlim. Ao centro, Greta Thunberg / AFP/Tobias Schwarz

Em protesto contra a inércia dos governantes para conter os desastres climáticos, Greta repetiu o protesto todos os dias ao longo de três semanas e compartilhou suas ações nas redes. A mobilização ganhou grandes proporções e engajou milhares de estudantes, inicialmente na Europa.  

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No mês seguinte, decidiu-se por fazer o protesto todas as sextas-feiras, daí o surgimento do Fridays for Future (FFF), que se espalhou pelo mundo. É esse movimento que convoca a Greve Global pelo Clima. 

 

Edição: Vivian Virissimo