ARTE SILENCIADA

RS: universidades denunciam censura da prefeitura de Bagé a exposição sobre a covid-19

Mostra na Casa de Cultura do município foi encerrada antecipadamente sob a alegação de calúnia

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Obra com o título "Tarde Demais" foi uma das que motivou o encerramento da exposição por parte da prefeitura por trazer a expressão "Fora, Bolsonaro" - Foto: Diego Vieira Lopes/ Reprodução

A exposição "Sobre Vivências", que reúne obras de arte que promovem reflexão sobre a pandemia e as mudanças sociais impostas pela covid-19, foi precocemente encerrada por ordem da prefeitura de Bagé, município do Rio Grande do Sul. 

A mostra trazia poemas, fotografias e materiais audiovisuais, selecionados a partir da inscrição de 581 trabalhos no Prêmio Cultural Pindorama, e teve início no dia 18 de março, na Casa de Cultura Pedro Wayne, do município de Bagé. O encerramento estava previsto para o dia 31. Contudo, a prefeitura ordenou o término antecipado da exposição nesta quarta-feira (23).

As obras fazem parte do Prêmio Cultural Pindorama, iniciativa das universidades Federal do Pampa (Unipampa), Federal de Santa Maria (UFSM) e Federal de Pelotas (UFPel).

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Confira, neste link, as obras que compunham a exposição, selecionadas no Resultado Final do Prêmio Cultural Pindorama.

Universidades se posicionam sobre a censura

Em nota, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proext) da Unipampa “repudia a censura imposta” e afirma reforçar “sua ação em defesa da liberdade de expressão e de pensamento que alicerçam as universidades públicas brasileiras”. Assinada pelos pró-reitores de Educação e Cultura, Paulo Rodinei Soares Lopes e Franck Maciel Peçanha, a nota encerra ressaltando: "Independência e liberdade são valores inegociáveis".

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A UFPel também manifestou “total contrariedade e repúdio ao ato de censura praticado pela Prefeitura de Bagé ao fechar a exposição total contrariedade e repúdio ao ato de censura praticado pela Prefeitura de Bagé ao fechar a exposição”.

No entendimento da Universidade, “a liberdade de expressão é necessária a uma sociedade democrática que precisa refletir sobre as consequências da pandemia que assola o mundo. A arte é um dos modos de propor mudanças a partir do que impacta a sociedade. Entendemos que somente estimulando os valores de diversidade, pluralidade, respeito e tolerância teremos uma sociedade livre”.

Denúncia ao MP

O vereador bageense Flavius Dajulia (PT) informou, via redes sociais, que apresentou uma denúncia contra a censura ao Ministério Público, na quinta-feira (24), junto da vereadora correligionária Caren da Rosa Castencio. “Fatos graves”, disse o vereador.

O outro lado

A Secretaria de Cultura e Turismo de Bagé, em nota, contesta a afirmação de a prefeitura teria cerceado a liberdade de expressão em relação às obras. “Ao contrário do que foi acordado para a liberação do espaço cultural, as obras expostas detinham nítido conteúdo político”, diz trecho da nota.

“Continham, ainda, imputações que podem configurar o crime de calúnia, utilizando expressões incompatíveis com o uso de um espaço público voltado a cultura”, complementa.

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A Secretaria diz ainda que “a liberdade de expressão não é absoluta, encontrando restrições na esfera do respeito aos direitos fundamentais da personalidade dos demais individuas”, alegando abusos por parte da exposição.

Ao site de notícias G1, o secretário João Schardosim disse que duas fotografias traziam posições política. Um delas mostra um adesivo com a inscrição "Fora, Bolsonaro". A outra mostra uma passeata com bandeiras do Partido dos Trabalhadores (PT). Citou também poemas que acusam Bolsonaro de genocida.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira