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Morre artista gráfico Elifas Andreato aos 76 anos, autor de mais de 300 capas de disco

Ilustrador morreu em SP, onde ficou uma semana internado após sofrer um infarto

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Capas dos discos Nação (1982), Canta Canta, Minha Gente (1974), Espiral de Ilusão (2017), Nervos de Aço (1973), Luz das Estrelas (1984) e Clementina, Cadê Você? (1970) - Reprodução

Considerado um ícone das artes gráficas do país, Elifas Andreato morreu na manhã desta terça-feira (29), aos 76 anos, em São Paulo. Ele estava internado desde a semana passada em decorrência de um infarto. Segundo a família, seu corpo será velado ainda hoje no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste da capital paulista, a partir das 16h.

Nascido em Rolândia, interior do Paraná, o ilustrador é autor de mais de 300 capas de disco para músicos da MPB, como Adoniran Barbosa, Carmen Miranda, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Noel Rosa, Tim Maia, Pixinguinha, Martinho da Vila, entre outros. Também produziu capas de livros. Fez cartazes para o teatro, entre os quais é muito citado o trabalho para a peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, de Mortos Sem Sepultura, adaptação de texto de Jean-Paul Sartre, de A Morte do Caixeiro Viajante, dirigido por Flávio Rangel em 1984.

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Ele trabalhou a coleção de fascículos História da Música Popular Brasileira, da Editora Abril, nos anos 1970. Seu último trabalho foi para o teatro: o cenário do musical Morte e Vida Severina, com direção de seu irmão, com estreia marcada para o Tuca (teatro da PUC-SP) em 16 de abril.

Em 2018, Andreato lançou um livro, Traços e Cores, reunindo as reproduções de cerca de mil de suas obras. Uma delas é o painel que fez a convite da Comissão da Verdade, instalado no corredor de acesso à Câmara dos Deputados sob o título “A Verdade Ainda que Tardia”, com retrato das torturas promovidas pela ditadura.

Entre seus trabalhos mais conhecidos estão para Ópera do Malandro (Chico Buarque), A Rosa do Povo, de Martinho da Vila, Arca de Noé, clássico infantil, e Nervos de Aço, de Paulinho da Viola.

“Obrigado por sua arte”

Elias Andreato, irmão do artista, comunicou a morte em tom emocionado em rede social. “Meu irmão amado, obrigado por sua arte”, escreveu. “Tudo o que ele tocava com as suas mãos, virava coisa colorida, até a dor que ele sentia era motivo de tinta que sorria”, disse ainda Elias na postagem no Instagram.

Como mostra texto de Guilherme Bryan na Revista do Brasil, em 2013, até a adolescência Andreato era analfabeto. Foi operário, militante político e professor de artes na Universidade de São Paulo. De família humilde, o artista se tornou um dos mais importantes da área gráfica do país, a partir da década de 1970.