direitos humanos

Crianças discutem conflito entre Ucrânia e Rússia a partir de sentimentos e percepções

Conflito teve início em 24 de fevereiro. Milhões de crianças e adultos deixaram a Ucrânia na condição de refugiados

Ouça o áudio:

"Parem a guerra", mulher segura cartaz pelo fim do conflito em manifestação na Espanha; protestos ocorreram em diversas cidades - ©Cesar Manso/AFP
Quando eu vejo as notícias sobre a guerra eu penso como se eu estivesse lá

Como as crianças recebem as informações sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia? O que sentem a partir das notícias? Que dúvidas têm para entender o que ocorre no leste europeu? Com essas perguntas em vista, a edição de hoje (6) do Radinho BdF conversou com meninos e meninas de diferentes partes do país para discutir as causas e as consequências do evento geopolítico que desde 24 de fevereiro domina o noticiário do Brasil e do mundo.

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“Eu ontem estive vendo o jornal e parece que a parece que as coisas só se resolvem com guerra. Não é que eu defenda da Ucrânia, eu defendo todos os países. Eu defendo a paz”, diz descendente de ucranianos Lucas Chmilouski, de 10 anos, que mora em Prudentópolis (PR). O município inclusive é conhecido por concentrar o maior número de ucranianos fora da Ucrânia. “E me sinto muito triste e com medo ao mesmo tempo.”

A crise já deixou marcas profundas na vida de milhares de pessoas. E embora seja assunto triste, que desperta preocupações, o Radinho BdF acredita que as crianças têm o direito de entender o que está ocorre e de expressar suas opiniões.

“Quando eu vejo as notícias sobre a guerra eu penso como se eu estivesse lá, como se eu fosse uma daquelas crianças refugiadas. Isso é muito triste”, diz Pietra Saccomori Ponce, que tem 10 anos, e mora em Porto Alegre.

Pelo menos 4 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar a Ucrânia para protegerem suas vidas e a de suas famílias e se tornaram refugiadas. Os números foram divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refúgio (Acnur).

“Eu sou a quarta geração de descendentes ucranianos no Brasil e minha tataravó por parte de mãe veio da Ucrânia com toda a família. Eu sinto uma ligação muito forte com a Ucrânia, porque desde pequena tive muito contato com a língua e a cultura do país, principalmente a dança. Eu amo ter isso como uma parte de mim”, conta Laura Emanuelly Kryvyi Gresele.

A equipe do Radinho BdF tentou contatar crianças russas ou de descendência russa, mas não tive respostas positivas, devido a delicadeza e do desconforto causados pela situação.

Geopolítica para os pequenos

“O que eu estou sabendo é que a Rússia ficou brava com a Ucrânia, porque ela quis se juntar com outros países da Europa”, contou Luna Cortês Medeiros de 11 anos, que mora em São Paulo e conversou sobre o assunto na escola, com o professor de História.

No passado a Rússia e a Ucrânia faziam parte de uma mesma nação, conhecida como União Soviética. Depois de se tornar independente como país, a Ucrânia passou a se aproximar de países que reúnem seus exércitos em um grupo chamado Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Os países membros desse “clube”, como definiram os pequenos, usam a sua força de guerra contra nações que consideram inimigas. E uma delas é justamente a Rússia. A Ucrânia seria uma aliada importante porque seu território faz fronteira com a Rússia e poderia ser estratégico para possível ataque aos russos.

“A Rússia e a Ucrânia tem problemas entre eles e não conseguiram mais resolver na base da conversa”, diz Flávio Rocha de Oliveira, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC. “Quando a União Soviética deixou de existir, os Estados Unidos e a Otan disseram para Rússia que a Otan não ia se expandir mais. Acontece que eles não cumpriram o combinado e a organização cresceu muito. A última fase desse crescimento tinha o objetivo de trazer para dentro a Ucrânia, vizinha da Rússia. Os russos falaram: ‘não, isso par a gente é muito perigoso!’”.

Mas a pergunta que não quer calar é feita pela Nina Miranda, que tem 5 anos e mora no Rio de Janeiro: “por que essa guera não acaba?”

“A gente pode torcer por um acordo de paz, porque vai chegar um momento em que tanto a Rússia como a Ucrânia vão chegar a conclusão que guerra tem que acabar porque esta causando muitos prejuízos para muitas pessoas. Agora se depois dessa guerra a Ucrânia e a Rússia vão voltar a convier normalmente, isso é uma coisa que vai demorar, porque o que vai surgir dessa guerra é uma desconfiança de quem está envolvido”, diz Flávio.


Fotógrafa brasileira capta as expressões de crianças em campos de refugiados / Karine Garcês/ Divulgação

Outras guerras

Embora as notícias sobre o conflito entre Ucrânia e Rússia pareçam saídas de um filme ou de um livro, este não é o único conflito que ocorre neste momento no mundo. Síria, Iêmen, Etiópia, Mianmar e Afeganistão são alguns exemplos de países envolvidos em conflitos que ameaçam crianças e adultos.

A guerra na Ucrânia, no entanto, teve destaque na imprensa porque ela ocorre na Europa, um dos continentes mais ricos do mundo, formado na maioria por pessoas brancas que tem uma boa qualidade de vida.

“Muitas famílias brasileiras ficaram presas na Ucrânia, sem conseguir voltar para cá”, disse Nina Miranda, de 5 anos, que mora no Rio de Janeiro. “Eu fico um pouco triste porque eu fico com medo de as pessoas se machucarem e de acontecer alguma coisa com elas”.

Mensagens de esperança

“Eu desejo que elas não fiquem tristes e nem com muito medo. Que consigam ficar calmas e tenham certeza que isso tudo logo vai passar”. Esse foi o recado do Lucas para as crianças que estão na zona de conflito de entre Ucrânia e Rússia.

Os meninos e meninas que participaram desse episódio aproveitaram para mandar recados para as crianças que vivem em regiões que passam por guerras, como a Laura, que tem familiares e amigos na Ucrânia. “Eu queria dizer para eles jamais perderem a esperança e a fé e se manterem fortes. Nós aqui de Prudentópolis estamos com todos vocês.”

Músicas, histórias e brincadeiras

Que forma melhor de lidar com sentimentos de tristeza, insegurança e medo causados pela guerra do que brincando? O educador Victor Cantagesso, parceiro do Radinho, dá dicas especiais para as crianças organizarem e expressarem seus sentimentos, de forma leve e acolhedora.

Além disso, os ouvintes mirins conhecem a trajetória de uma criança que foi vítima de um conflito e que deu a ele um novo significado, tornando-se uma das principais defensoras do direito à educação de meninos e meninas. Essa história especial ganha vida na voz da contadora parceira Lara Chacon, emocionando crianças e adultos.

E para encerrar, a Vitrolinha BdF põe som na caixa com “A Paz”, na voz de Gilberto Gil e “Eu Vou Torcer”, de Jorge Ben Jor.


Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais. / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

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Edição: Camila Salmazio