Varre varre vassourinha, varre varre a roubalheira
Vocês já repararam que muitos políticos que se dizem diferentes dos outros, que são mais honestos, fazem suas campanhas eleitorais jurando que vão acabar com a ladroagem, pôr corruptos na cadeia, coisas por aí, mas depois que tomam posse revelam-se iguais ou piores?
Não só não acabam com a corrupção como às vezes até aumentam. Já vimos por aí presidente impedindo que a polícia investigue mutretas de familiares, né?
O humorista Barão de Itararé implicava muito com Jânio Quadros, que tinha uma vassoura como símbolo de campanha, desde quando foi candidato a governador de São Paulo. Dizia que ia varrer a roubalheira. Seu jingle de campanha era assim:
“Varre varre vassourinha
Varre varre a roubalheira
Que o povo já está cansado
De sofrer dessa maneira”.
O Barão de Itararé, gozando, alterou a letra dessa musiquinha, que ficou assim na versão dele:
“Varre varre vassourinha
Varre varre a bandalheira
Varre a dos outros
Mas varre também a minha”.
Segundo uma crônica do Barão, os primeiros meses da administração de Jânio Quadros como governador foram no sentido de dar ao povo a ideia delirante de que ele estava moralizando tudo, acabando com tudo o que estava errado.
Assim, tornaram-se cotidianos despachos ditatoriais, ordens inflexíveis com uma linguagem rebuscada, prisões arbitrárias, espancamentos e demissões em massa de funcionários humildes.
Ainda segundo o Barão, pessoas geralmente bem informadas e frequentadoras dos corredores do Palácio do Governo contavam, em surdina, que certa vez o general Honorato Pradel, ex-secretário de Segurança, conversando com um amigo íntimo e fraternal a respeito da situação do país, depois de deixar o amigo à vontade perguntou:
- Diga-me com toda franqueza, o que pensa a respeito do governador Jânio Quadros?
O velho amigo pensou um pouco, passou a mão no queixo, coçou a cabeça e respondeu cautelosamente:
- O meu pensamento a respeito de tudo isso é o mesmo que o seu...
- Neste caso, meu amigo - respondeu com energia o general -, lamento muito, mas tenho o dever indeclinável de dar-lhe voz de prisão imediatamente. Sobre o governador não pode pairar a menor suspeita e muito menos um juízo tão desabonador como está revelando.
E levou o amigo para o xadrez.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Douglas Matos