tiro pela culatra

Medidas eleitoreiras de Bolsonaro são corroídas pela inflação e pelos bancos, aponta Dieese

Supervisor do órgão, Vitor Pagani, afirma que custo de vida, endividamento e juros altos tornam medidas sem efeito

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Preços em alta nos supermercados - e não só neles - diminuem o impacto do pacote eleitoral de Bolsonaro - EBC

A alta taxa de inflação e de juros prejudica os trabalhadores a ponto de as medidas eleitoreiras do governo não surtirem efeito. “O governo anunciou o pacote eleitoreiro, prevendo a liberação de recursos do FGTS, antecipando o pagamento 13º do INSS, entre outras medidas. Isso dá um respiro insuficiente para a economia do país”, afirma o supervisor do Dieese em São Paulo, Vitor Pagani.

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Segundo Pagani, o sistema financeiro acaba se apropriando de parte desses recursos. “Então, não vai estimular nem o consumo, nem a atividade econômica como propagandeou o governo. Como isso se dá num contexto de escalada inflacionária, esses recursos são insuficientes”, avalia.

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O especialista aponta que parte desse dinheiro vai pagar dívidas e parte é corroída pela inflação. “Além disso, essa política de liberação do Fundo de Garantia é um problema, pois desconsidera o objetivo do próprio fundo”. Desse modo, os recursos do FGTS teriam um impacto maior na atividade econômica se fossem destinados a investimentos públicos. Por exemplo, em obras de infraestrutura, saneamento e moradia. 

Auxílio Brasil e renda

Outro indicador preocupante do cenário de queda na renda e na atividade econômica é que o número de beneficiários do programa Auxílio Brasil é maior que o de empregos com carteira assinada em 12 dos 27 estados da Federação. Os dados são de estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) em parceria com o site Poder360.

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Os resultados mostram que há prevalência do Auxílio Brasil no Norte e no Nordeste do país, nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe, Amazonas, Amapá e Acre. O Rio Grande do Norte é o único nordestino que registra mais empregos formais com carteira assinada do que beneficiários do Auxílio Brasil – mas a diferença é mínima: 437.717 potiguares recebem o benefício e há 438.871 empregos formais no estado.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Vitor Pagani afirmou que os dados são reflexo do desemprego elevado e da alta taxa de informalidade. O número de informais chegou a 25,9 milhões no 4º trimestre de 2021. “Isso está relacionado à ampliação do Auxílio Brasil e à deterioração do mercado de trabalho brasileiro. A retomada das ocupações ocorre no meio informal, somado aos trabalhadores que se tornam autônomos”, afirmou ele, em entrevista ao jornalista Glauco Faria.

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Em fevereiro de 2022, eram 18 milhões de beneficiários do Auxílio Brasil e 41 milhões de empregados com carteira de trabalho. O número de benefíciários chegou ao inédito patamar de 44% dos empregos formais com carteira.