Abril de luta

Acampamento Marielle Vive celebra quatro anos de resistência em ato contra a violência no campo

Ação faz parte de protestos que marcam o mês do massacre de Eldorado do Carajás, que resultou na morte de 21 camponeses

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ato em apoio ao acampamento Marielle Vive pede o fim da violência no campo - Reprodução Acampamento Marielle Vive

Lideranças, parlamentares, ativistas, artistas, educadores e movimentos sociais se juntaram a famílias camponesas em um ato de apoio ao acampamento Marielle Vive neste sábado (16). O local, que fica no interior de São Paulo, sofreu dois atentados a tiros no domingo passado (10)

Participantes se reuniram em uma celebração de resistência e um grito de denúncia contra a crescente violência no campo. Com mais de 450 famílias, o Marielle Vive é o maior acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado de São Paulo e foi criado em abril de 2018.

::Em menos de 24h, Acampamento Marielle Vive é alvo de dois atentados a tiros no interior de SP::

“É um dia de luta para nós, de defesa do território e da nossa comunidade. Esse ato ganhou um novo significado frente a esses ataques. É uma reação frente a isso, de que não vamos nos submeter e não vamos ficar calados frente a esse grave ataque que a gente sofreu nos últimos dias”, afirma Gerson Oliveira, da coordenação estadual do MST em São Paulo.

Durante o evento, apresentações culturais, oficinas e rodas de conversa reafirmaram a coletividade das manifestações. O acampamento é formado por famílias das periferias de Valinhos, Campinas, Hortolândia, Americana e Valinhos.

 

“A nossa união se fortalece a partir desses momentos. Assim como o povo brasileiro, o povo sem terra se junta nas dificuldades. A própria ocupação e a própria luta pela terra partem de uma dificuldade, das carências concretas que a classe trabalhadora sofre na periferia, vivendo de forma muito precária.”

Além da denúncia aos ataques, o ato também é parte do Abril Vermelho, mês de luta camponesa que rememora a chacina de Eldorado do Carajás (PA), quando 21 sem terra, em um protesto pacífico, foram mortos por policiais militares.

“Não é por acaso que, após 26 anos do massacre de Eldorado do Carajás, nós estejamos sofrendo esse ataque. Não é só o Marielle Vive, existem outros acampamentos do MST Brasil afora e outras comunidades organizadas que estão sofrendo ataques neste momento”, pontua Gerson Oliveira.

::Em carta, Noam Chomsky e Vijay Prashad declaram apoio ao acampamento Marielle Vive, do MST::

Ele lembra que, na década de 1990, quando ocorreu o crime de Eldorado do Carajás, havia uma movimento organizado de grandes latifundiários para organizar ataques.

“A oligarquia agrária, os latifundiários estavam organizando milícias no campo. Essas forças reacionárias e retrógradas não estão desativadas. Elas continuam atuando nas sombras, nos escombros, no submundo. Eles continuam atuando e cometendo crimes. Isso aqui não é exceção” alerta o ativista.

Os ataques ao acampamento

Testemunhas que estavam no acampamento contam que, no domingo passado (10), um homem fez disparos de arma de fogo na entrada do local. O suspeito estava em um carro preto com a placa coberta e passou algumas vezes pelo portaria do acampamento em baixa velocidade. Na última vez, ele colocou a mão para fora da janela com uma arma e fez os disparos.  

Ninguém ficou ferido e o homem não foi identificado. Cápsulas de arma foram encontradas no chão. Em junho de 2019, o acampamento já havia vivido uma tragédia, com a morte do pedreiro Luís Ferreira, de 72 anos.

Morador da comunidade, ele participava de uma manifestação por água e foi atropelado por uma caminhonete que invadiu o ato. Os tiros disparados nos ataques da semana passada ocorreram no mesmo lugar em que Luís Ferreira morreu. O MST cobra apuração do atentado a tiros.

“A prefeitura de Valinhos está assistindo a estas violências cometidas ao longo dos quatro anos de existência do acampamento”, afirmou o movimento em nota.

Manifestações pelo país

O Massacre de Eldorado dos Carajás, que completa 26 anos neste domingo (17), foi relembrado em outras partes do Brasil no sábado (16).

No local do crime, militantes do assentamento 17 de Abril inauguraram o Bosque da Resistência, em memória às vítimas do massacre. O plantio foi feito por crianças da Escola Oziel Alves e pela juventude Sem Terra.

Na Curva do S, local onde ocorreu o crime, um ato fechou a estrada e reuniu trabalhares e trabalhadoras.

 

 

 

Edição: José Eduardo Bernardes