BARBÁRIE

Garimpeiros estupram e matam indígena Yanomami de 12 anos, denuncia liderança

Outra criança segue desaparecida após cair em um rio; Yanomami vivem tragédia social sob ataque do garimpo

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

Ouça o áudio:

Garimpo na foz do rio Aracaçá em janeiro de 2022 - Bruno Kelly/Relatório Yanomami Sob Ataque

Uma indígena de 12 anos morreu após ser sequestrada e sofrer violência sexual por parte de garimpeiros que invadiram na comunidade Aracaçá, na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima. 

A denúncia foi divulgada nesta segunda-feira (25) pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

“Os garimpeiros violentaram e estupraram ela. Ocasionou o óbito. O corpo da adolescente está na comunidade”, afirmou a liderança no vídeo publicado em uma rede social. 

:: PL que autoriza mineração por decreto presidencial é inconstitucional, dizem especialistas ::

Segundo Hekurari, a ação dos invasores também resultou no desaparecimento de outra menina, que teria caído do barco em que estava junto com garimpeiros. “A criança está desaparecida dentro do rio. Comunico as autoridades, Ministério Público Federal”, declarou o presidente do Condisi. 

“Amanhã também irei na comunidade buscar o corpo da adolescente que os garimpeiros ocasionaram o óbito por violência. Estou muito triste que está acontecendo isso com meu povo”, lamentou a liderança. 

Comunidade "em vias de desaparecimento"

Local dos crimes, a comunidade de Aracaçá fica próximo ao rio Uraricoera, uma das áreas mais devastadas pelo garimpo ilegal, que vem provocando uma tragédia social junto aos Yanomami. 

O relatório “Yanomami Sob Ataque”, divulgado neste mês pela Hutukara Associação Yanomami, aponta que a comunidade Aracaçá está “em vias de desaparecimento” em função da desagregação social provocada pela atividade. 

:: Garimpo ilegal provocou 90% das mortes por conflitos no campo em 2021, aponta CPT ::

Além da introdução de bebidas alcoólicas pelos garimpeiros e do acirramento de conflitos internos, o relatório aponta que indígenas “deixaram de abrir roças e hoje dependem da alimentação oferecida pelos garimpeiros em troca de serviços, como carregar combustível e realizar pequenos fretes de canoa”.

“Lá, ainda de acordo com os [indígenas] Palimiu Theli, os garimpeiros introduziram bebidas e um 'pó branco' que deixaram os [indígenas] Sanöma viciados, alterados e violentos”, afirma trecho do documento. 

Lideranças responsabilizam Bolsonaro 

O garimpo ilegal na TI Yanomami disparou 3.350% entre 2016 e 2021. A consequência direta é o crescimento da malária, da desnutrição infantil, da contaminação por mercúrio e da exploração sexual.

Para os Yanomami, a invasão garimpeira é fruto, principalmente, das escolhas de Jair Bolsonaro (PL). Segundo o documento, a “política do atual governo” é de “incentivo e apoio à atividade, apesar do seu caráter ilegal, produzindo assim a expectativa de regularização da prática”. 

:: Garimpo ilegal leva fome, doença e exploração sexual para território Yanomami, diz estudo ::

“Nós, lideranças, não queremos seus garimpeiros! Nossos animais de caça já acabaram! As crianças já estão sofrendo com doenças de pele e diarreias! Nossos filhos já estão doentes! Bolsonaro, busque seus filhos garimpeiros e os leve de volta!”, diz uma liderança indígena, em trecho da fala destacado no relatório “Yanomami Sob Ataque”.

Edição: Felipe Mendes