Rio Grande do Sul

Segurança Alimentar

Frente Nacional contra a Fome é lançada em atividade do Fórum Social das Resistências

Para debatedores, só a organização popular apresenta saídas para o problema que é fruto da crise do capitalismo

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Lançada na na Assembleia Legislativa do RS, organização é uma resposta da sociedade civil na busca de formas de enfrentamento da fome - Foto: Kátia Marko

O lançamento da Frente Nacional contra a Fome aconteceu na manhã desta quinta-feira (28), na Assembleia Legislativa do RS, integrando as atividades do Fórum Social das Resistências. Segundo o Comitê Gestor da Frente, a organização é uma resposta da sociedade civil na busca de formas de enfrentamento da fome, que a pandemia explicitou que já atingia os povos do campo e da cidade. Citando dados dados da Rede Pensan, foi demonstrado que atualmente mais de 116 milhões de brasileiros não têm acesso pleno e permanente à comida.

É possível conhecer todas as entidades que compõem a Frente e um pouco da história de sua criação neste link. O evento de lançamento foi transmitido ao vivo pela Rede Soberania e pode ser conferido na íntegra abaixo. Na sequência, confira o relato sobre a fala de apresentação da Frente e a análise de conjuntura.

 

Construção da Frente é um chamado à ação

O engenheiro agrônomo Santiago Matos conduziu uma fala de apresentação da construção da Frente e seus objetivos. Segundo ele, será um espaço de convocação popular para juntar as forças no combate à fome, a partir das experiências dos movimentos e comunidades que têm experiências nessa trajetória de luta pela segurança alimentar. Principalmente das ações de educação popular, e também das que tenham incidência política.

"A convocação parte diante dos alarmantes índices, que visa denunciar a fome, buscar suas causas e se organizar para conseguirmos atacar e enfrentar essas causas, buscando agir de forma estratégica e articulada", disse Santiago, afirmando também que a solidariedade é entendida como uma prática de enfrentamento desse problema.

Recordou a importância da atuação do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) na construção da Frente, indicando o relatório "Fome Como Prato Principal – Um retrato do enfrentamento à fome durante a pandemia no Brasil", produzido pela mesma entidade.

Fome é problema político e estrutural

Reforçou que o entendimento das entidades que agora compõem a Frente é de que a fome é um problema político e estrutural, apontando quatro eixos principais para nortear as ações da Frente: participação e mobilização; organização popular na construção de teias de solidariedade; produção de evidências, estudos e documentos técnicos sobre a fome no Brasil; e ação política para garantir uma agenda afirmativa no combate à fome.

"O objetivo da Frente é enfrentar a fome, em suas perspectivas estrutural, mas também emergencial, a partir da educação, formação, mobilização e organização popular, para uma agenda de convergências coletivas, com ações diretas e que tenha incidência política sobre a insegurança alimentar e nutricional", resumiu Santiago.

Matos também fez a relação de que, com esses objetivos, a Frente não pretende ser somente uma entidade que atua diretamente sobre a institucionalidade, propondo projetos e leis. Ao contrário, visa atuar a partir da base organizada dos movimentos, com suas experiências e saberes nesse combate, ao momento em que se fortalece a perspectiva institucional e um projeto de país.

Crise do capitalismo ameaça a vida no planeta

Vanessa Aguiar Borges, militante do MST/RS, realizou uma análise de conjuntura trazendo o tema de fundo do debate sobre a fome e as desigualdades. Começou sua análise saudando as organizações e pessoas presentes por estarem resistindo a "esse processo tão nefasto que viemos vivendo desde o golpe e sua preparação, cujas consequências temos sofrido até hoje".

Prosseguindo, afirmou que, na tentativa de entender a atual conjuntura, se faz necessário trazer alguns elementos que considera estruturantes. "O fundamental é entender que estamos vivendo uma crise na estrutura de funcionamento do sistema capitalista. Essa crise começa a aparecer já nos anos 70, mas apresenta seus rompantes com a crise financeira de 2008."

Alertou também que essa crise estrutural não necessariamente vai levar ao fim do capitalismo, mas sim da própria vida no planeta terra. Este sistema só será superado pela luta dos povos organizados. "Estamos observando a destruição das condições biológicas de existência e da própria construção social dos seres humanos. Essa crise do capitalismo é gravíssima e somente os povos que almejam uma nova sociedade é que podem construir a superação desse sistema", avaliou.

Reforçou que os indicadores sociais (a fome entre um deles) demonstram que o desenvolvimento do planeta está desacelerando em termos da lógica do próprio capitalismo. O que torna o sistema se torna ainda mais nefasto, com o avança sobre territórios geográficos e também sobre o próprio território do corpo humano, que passa a ser cada mais controlado em busca de maiores taxas de lucro.

Nesse sentido, Vanessa ressaltou que a crise sanitária e ambiental se inserem perfeitamente na lógica do sistema, dando indicações de que esses problemas se tornarão comuns dentro do seguimento da dinâmica capitalista. Dessa forma, em paralelo com a questão da fome, alertou que a situação atual é emergente, em termos de que o capitalismo gerou todas essas crises e não consegue mais viver sem essas desigualdades.

Concluindo a análise, reforçou que a fome é resultado no Brasil de uma construção histórica, calcada na superexploração do trabalho e, principalmente na estrutura agrária.

Agricultura familiar e agroecológica como solução

Segundo Vanessa, uma alternativa para o país combater a fome de fato é a realização da uma reforma agrária popular, que tenha como objetivo a produção de alimentos saudáveis, para toda a população. E que possibilite às famílias agricultores a constituição de uma vida digna no campo.

"O agronegócio e a grande agricultura empresarial não produzem de alimentos, produzem mercadorias para o mercado internacional, vinculado à interesses capitalistas que não são nacionais. De maneira nenhuma, o objetivo deles não é produzir alimentos", avaliou.

Em sentido oposto, disse que a agricultura familiar e camponesa, organizada e cooperativada, com base na agroecologia, tem condições de produzir alimentos de qualidade, em larga escala, e distribuir essa produção de forma justa para toda a população.

Sobre os Fóruns Sociais em Porto Alegre

O Fórum Social das Resistências (FSR) e o Fórum Social Mundial Justiça (FSMJD) iniciaram nesta terça-feira (26) em Porto Alegre, com a marcha de abertura. Os dois eventos contam com atividades presenciais e híbridas. Centenas de debates vão ocorrer até o sábado (30), quando acontece a plenária de encerramento que organizará um documento preparatório para o Fórum Social Mundial que será realizado no México entre os dias 1º e 6 de maio.

O FSMJD tem atividades focadas na transformação do sistema de justiça e na defesa da democracia, reunindo membros do judiciário com movimentos sociais para repensar as estruturas que perpetuam as desigualdades. Já o FSR traz movimentos sociais e organizações que para debater saídas para as crises que se abatem sobre o mundo e o Brasil, que penalizam a população mais pobre e vulnerabilizada e o meio ambiente.

Fórum Social das Resistências: Programação

Fórum Social Mundial Justiça e Democracia: Programação


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Edição: Marcelo Ferreira