SAÚDE INTEGRAL

Algo cientificamente ineficaz pode ser usado pela medicina?

Como no capitalismo tudo visa ao lucro, é óbvia a lógica de que para manter nossa saúde precisamos consumir medicamentos

Quando defendo a ciência como a melhor forma de produção de conhecimento para a promoção da saúde, não penso muito em remédio - Foto: Rovena Rosa
Ideias de saúde e de medicina hegemônicas se centram no remédio e no médico

Outro dia, postei em uma rede social uma crítica ao termo Medicina Alternativa. Minha amiga Sofia, que é médica, discordou um pouquinho da postagem. Daí, iniciamos uma prosa tão legal que quis compartilhar aqui com vocês. 

Muitas vezes, se usa o termo Medicina Alternativa para nomear práticas supostamente terapêuticas que não possuem evidência científica de eficácia. Por exemplo, a homeopatia, a ozonioterapia e o reiki. Na conversa, defendi que se algo não é científico não deveria ser utilizado.

Sofia argumentou que muitas dessas terapias alternativas, mesmo sem eficácia científica, contribuem em sua prática como médica. Pois evitam outro problema bastante comum nos consultórios e na cabeça da maioria dos médicos, que é a hipermedicalização.

As ideias de saúde e de medicina hegemônicas se centram nas figuras do remédio e do médico. Procuramos esse profissional quando sentimos alguma dor ou desconforto. E esperamos dele a prescrição de um medicamento que o mais rápido possível elimine aquele problema.

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Tal ideia é bastante interessante para a indústria farmacêutica, não é mesmo? Como no capitalismo tudo visa ao lucro, é óbvia a lógica de que para manter nossa saúde precisamos consumir medicamentos.

Bilhões são movimentados em todo o mundo e todo um setor de empresários se enriquece às custas do uso exagerado de remédios pela população. Vários desses medicamentos vendidos e legitimados pela indústria farmacêutica trazem efeitos colaterais. Inclusive, podem apresentar pouca ou nenhuma eficácia real. E são usados em excesso.

Daí, argumentei com ela que a dita Medicina Alternativa não fugia muito dessa lógica quase mágica de lidar com a saúde, focada no fim da doença. Quando defendo a ciência como a melhor forma de produção de conhecimento para a promoção da saúde, não penso muito em remédio. Penso, por exemplo, em higiene pessoal, vacinação, boa alimentação, prática de atividade física e antitabagismo. Contribuições que a ciência trouxe para a humanidade e que nos ajudam a viver mais e melhor.

Por fim, eu e Sofia percebemos que concordávamos bastante. “Temos uma luta que é por uma saúde mais integral e multiprofissional. O maior intuito seria abrir espaço para outros campos do conhecimento que podem contribuir em atividades terapêuticas, como arte e ioga. Pensar saúde para além da ausência de doença simplesmente”, sintetizou muito bem minha amiga.

Um abraço (especial pra Sofia, desta vez) e até a próxima! 

 

* Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.

 

Edição: Larissa Costa