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Vijay Prashad: “O liberalismo colapsou”

Jornalista e historiador indiano é o entrevistado do Caminhos para o Mundo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Vijay Prashad possui uma obra de orientação marxista, com cerca de 20 livros publicados - Arquivo Pessoal

O sistema econômico mundial atingiu sua fase imperialista, o que para alguns autores significa que o momento é de maior acumulação de capital na mão de poucos; de incentivo ao latifúndio e concentração de terras; e aumento das disputas por territórios e recursos naturais. 

E tudo isso às custas de mais desigualdade, fome, e miséria em todo o mundo: de acordo com a ONU, cerca de 274 milhões de pessoas em todo o planeta precisam de ajuda humanitária.  

O acirramento das disputas entre os super ricos e as potências econômicas globais sugerem a iminência de novos conflitos armados e o aprofundamento da crise internacional. 

Após o conflito armado entre Rússia e Ucrânia, o mundo parece entrar numa nova fase geopolítica, e o medo de uma Terceira Guerra Mundial volta a estar presente. 

Para aprofundar esse tema, o Caminhos para o Mundo desta terça (17) entrevista Vijay Prashad, jornalista e historiador indiano com cerca de 20 livros publicados - seu último lançamento, de 2020, é “Balas de Washington: Uma história da CIA, golpes e assassinatos”. 

Em uma de suas falas, Prashad destaca que a situação geopolítica atual indica o colapso do liberalismo: 

“A afinidade do liberalismo com a privatização, com o que chamamos de políticas neoliberais, colapsou há pelo menos uma geração. Nenhuma resposta para os problemas materiais correntes que as pessoas enfrentam. E pelo fato de o liberalismo não possuir respostas para os problemas materiais que as pessoas enfrentam, porque a esquerda é fraca, a extrema direita conseguiu emergir. É uma consequência do colapso do liberalismo, não do colapso da esquerda”. 

Confira a entrevista na íntegra. 

Brasil de Fato: O que é o imperialismo? E como você acha que ele se expressa no mundo hoje?

Vijay Prashad: Então, existem algumas maneiras de responder essa pergunta. Vamos começar sobre como nós experienciamos algo como o imperialismo. Veja, o mundo tem 7,9 bilhões de pessoas. Há alguns países com 10, 15 milhões de pessoas, populações relativamente pequenas. Estes países decidem “Nós queremos exercer nossa soberania sobre matérias-primas, queremos criar um projeto de soberania alimentar, nós mesmos cultivarmos a comida, queremos que as pessoas vivam com dignidade” e por aí vai. Conforme o país avança neste processo, o líder desse processo é subitamente assassinado ou dizem aos militares para deixarem seus quartéis e tomar o poder. Ou, ainda, sanções são impostas a esse país e ele é sufocado, é impedido de conseguir divisas estrangeiras, negociar livremente, etc.

Por que há os assassinatos de líderes? Por que existem golpes de Estado? Por que são impostas sanções aos países? Bem, os poderosos do mundo de alguma forma decidiram que o sistema internacional deve ser estruturado para beneficiar o capital global. E se um, dois ou três países decidem “Veja, queremos criar o nosso próprio grupo”, eles podem estabelecer um exemplo para outros países. O que um país está fazendo quando diz “Quero exercer soberania”? O ele está fazendo é dizer que “Nós queremos pagamentos melhores para as nossas matérias-primas”. Poderia ser cobre, lítio, petróleo. “Nós queremos preços melhores”.

Eles também podem dizer “Queremos que nossos trabalhadores tenham um salário mais alto”. O que dá a um país estrangeiro o direito de dizer “Não, o cobre deve custar menos” ou “Não, os seus trabalhadores – os trabalhadores do seu país – não podem receber um salário maior”. O que essas forças de fora estão fazendo é essencialmente manter baixos preços para as matérias-primas, o que beneficia as grandes corporações, e estão mantendo salários baixos, salários globais, para o proveito das grandes corporações. Eu não estou falando de um cenário hipotético. O governo do Haiti, um dos países mais pobres do mundo, tentou aumentar o salário mínimo, e o governo dos Estados Unidos interveio, por meio de seu embaixador no país, para evitar que o legislador haitiano aumentasse o salário [mínimo]. Isso é incrível! Thomas Sankara tentou conseguir um acordo melhor para as pessoas de Burkina Fasso; foi deposto por um golpe de Estado. A Venezuela tentou desenvolver uma nova abordagem para seu povo no que diz respeito aos preços do petróleo e sobre o que fazer com o dinheiro proveniente da venda do petróleo; sofreu sanções e uma tentativa de golpe de Estado. Bem, as pessoas dizem que o imperialismo não existe. Se o imperialismo não existe como princípio estruturante, por que existem os golpes, os assassinatos? Por que há as sanções? Você poderia me explicar com alguma outra teoria por que as coisas são assim?

Você notou alguma mudança nas características ou em como o imperialismo opera agora, com o Biden na presidência dos Estados Unidos há mais de um ano?

O imperialismo não conta de fato nas mudanças de liderança política nos países poderosos do mundo, seja Trump ou Biden, Obama ou Bush, não importa. Isso não importa, porque há uma estrutura no sistema mundial que deve ser mantida. Nós podemos discutir sobre o porquê de os Estados Unidos serem tão focados em derrubar o governo de Cuba. Cuba é um país muito pequeno, 11 milhões de habitantes. Por que os Estados Unidos não podem simplesmente dizer “Façam o que quiserem, Cuba. Vocês querem desenvolver um sistema socialista? Façam isso! São apenas 11 milhões de pessoas”.

A população de Cuba é menor do que a população da cidade de Nova Iorque. E ainda assim os Estados Unidos estão obcecados em derrubar o governo cubano. Por quê? Porque desde 1969, eles não foram capazes – e não querem – permitir qualquer país como Cuba desenvolver um sistema socialista. Se Cuba é bem sucedida, mais uma vez, é contagioso, isso envia uma mensagem para o Haiti, para a República Dominicana, para a Jamaica, para todos este países que são pequenas ilhas no Caribe que dirão “Olhem para Cuba, eles têm assistência médica, um excelente sistema educacional”. Cuba já é um modelo para muitas pessoas. Imagine se não houvesse o bloqueio a Cuba, o que poderia ser feito em Cuba. Veja, não uma pergunta sobre idem, Obama. É sobre a estrutura. E essa estrutura está aí há muito tempo.

Com a ascensão da China que provavelmente se tornará a maior potência econômica por volta de 2025, ainda é possível falar em um mundo que esteja sob a influência de apenas um superpoder, digamos, talvez os Estados Unidos?

Olhemos para os principais vetores de poder. Olhemos para dois vetores de poder. O primeiro vetor de poder é o poderio militar. Nenhum país tem a capacidade dos Estados Unidos. Eles têm 800 bases em 80 países por todo o mundo. A China não tem 800 bases militares. No máximo – e é bastante forçado chamá-las de “bases” –, duas bases em Djibouti, no Chifre da África, e elas são bases navais para dar suporte à missão da ONU contra pirataria. Elas não são bases para desafiar os Estados Unidos. A China não tem bases militares no Caribe ou no México, na América Central, no Canadá. Por Deus, isso é uma fantasia! A força militar dos Estados Unidos é esmagadora. Cerca de 1 trilhão de dólares são gastos por ano no orçamento [militar], incluindo o orçamento nuclear, de inteligência e outros. Isso está muito mais à frente do que o orçamento somado de quaisquer outros países. Não há dúvidas de que quando o assunto é poderio militar, não há o que contestar: os Estados Unidos são os mais poderosos. Eles podem destruir um país, [mas] podem não ser capazes de governar um país. Eles destruíram o Afeganistão, não puderam governá-lo. Destruíram o Afeganistão.

O segundo vetor de poder é o poder financeiro. Os Estados Unidos controlam as principais instituições de comércio e desenvolvimento. Isso inclui o comércio com o setor financeiro. Portanto, se você precisa enviar dinheiro para fora, para o país A ou B, você terá que utilizar o sistema bancário internacional, o que significa que terá que usar o sistema Swift. O sistema Swift está sediado em Bruxelas, Bélgica. Está basicamente sob a autoridade do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Quando os Estados Unidos põe sanções sobre um país, eles podem facilmente tirá-lo do sistema Swift e fica difícil reestabelecer os negócios.

Quando falamos de desenvolvimento, a maioria das agências de desenvolvimento, o Fundo Internacional Monetário, Banco Mundial e outros, seguem as regras do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. No desenvolvimento, há um desafio. A Iniciativa do Cinturão e Rota chinesa é um sério desafio para a abordagem que os Estados Unidos dá ao desenvolvimento por meio do FMI. Mas mesmo nesse ponto os países que estão se juntando à Iniciativa do Cinturão e Rota continuam a manter seus ativos em dólares, e não em yuans, remimbi, rublos ou euros. Eles devem ter alguns rublos, euros, remembi, mas até 50% da riqueza dos países é mantida em dólares estadunidenses. Isso será difícil de mudar, porque se dois países estão negociando um com o outro e um deles tem superávit comercial e mantém outra moeda, digamos, o peso cubano, você terá que depender de um terceiro país que receba o peso. Do contrário, você estará sentado sobre pesos que ninguém quer. Esse é o motivo pelo qual os países usam o dólar. É difícil se valer de algo que não o dólar. E sim, a China é um país muito poderoso, mas não é capaz de suplantar facilmente o poder dos Estados Unidos.

A pandemia acelerou este estado de crise geral no qual estamos já há algum tempo, com o crescimento da fome, desemprego, miséria. Quando olhamos para a história, nós vemos que o capitalismo frequentemente usa conflitos armados, guerras, para se dar algo como um empurrão para a frente. Você acha que no contexto atual faria sentido para nós temermos uma Terceira Guerra Mundial?

Não tenho certeza se chegaremos necessariamente a uma Terceira Guerra Mundial. Penso que o conflito na Ucrânia é um conflito entre os Estados Unidos e as potências da Eurásia. Há grande tensão em curso entre a Rússia, China e Estados Unidos. Muitos movimentos ocorrendo. De fato, os japoneses e os russos disputam algumas ilhas que começaram a ser reivindicadas pelo governo japonês. Este é um sério problema que pode sobrevir. Eu não acho que haja a necessidade de uma guerra. Sinto que há muitas pessoas chateadas com a guerra em curso na Ucrânia. Muitos países... o presidente da África do Sul tem sido muito claro sobre achar que o Ocidente tem se comportado de modo a provocar ou acelerar o conflito.

Em outros países, como no Brasil, ainda que o governo de direita de Bolsonaro seja próximo aos Estados Unidos, acho que ele tem sentimentos conflitantes sobre este conflito. O Brasil tem laços econômicos muito fortes com a China, as pessoas não querem ver o tipo de economia mundial frágil interrompida pela guerra. Os preços de combustíveis e alimentos já começaram a aumentar. Acho que há um grande eleitorado global, um grande eleitorado global que é contra este tipo de conflito. Não acho que seja inevitável que nós cheguemos em algum tipo de guerra mundial. Espero que não, espero que as mentes sãs prevaleçam, mas eu sinto que, de repente, o Ocidente está acelerando uma campanha para pressionar a Rússia e a China, e isso é bastante lastimável.

Como você acha que esse conflito entre a Rússia e a Ucrânia, pode, deve ou irá acelerar esta nova configuração da geopolítica mundial? Você acha que ao isolar a Rússia, o Ocidente pode acabar forçando a criação de, talvez, uma União Euroasiática que pode ser liderada por Moscou ou Pequim?

Eu acho que nem Pequim nem qualquer outro dos países na Ásia está interessado na divisão do mundo em algo como um bloco russo-chinês e outro ocidental. Eles não querem isso. A economia chinesa está totalmente integrada com a Europa e Estados Unidos, portanto, custaria muito ao povo chinês se houvesse uma nova Cortina de Ferro ao redor do Ocidente, se ocorresse uma ruptura. Acho que isso custaria muito para eles. Não tenho certeza nem mesmo sobre se os russos estão interessados nisso. Sendo honesto mais uma vez, a Rússia vende muito de seu gás natural para a Europa. Ela quer continuar vendendo gás natural. Os europeus continuam a comprar gás natural, apesar deste conflito. Então, eu sinto que o apetite na China e Rússia por criar uma grande ruptura não existe. Os chineses estão muito interessados em levar esse conflito ao fim.

Eu não estou convencido que haverá no mundo uma divisão em grandes blocos. Não é possível. O nível de sofrimento internacional seria enorme. Imagine se o Brasil fosse forçado a escolher entre os Estados Unidos e um bloco russo-chinês? Peça a um brasileiro para ir a um mercado ou loja e ver quantos dos produtos na loja são provenientes da China. Onde você conseguiria baldes? Onde você conseguiria as peças do seu carro? Seus computadores? Muitos deles são construídos na China. Ao mesmo tempo, uma considerável porcentagem do comércio é feita com os Estados Unidos, particularmente para os financiadores e outros. Portanto, diferentes classes seriam atingidas se fosse preciso escolher se se deseja fazer parte desse ou daquele bloco. Eu realmente não acho que o mundo está interessado agora em ser dividido e separado por uma Cortina de Ferro. Acho que as pessoas entendem que a globalização tem mantido as pessoas e as economias juntas, e que será bem difícil desfazer isso. O custo seria muito alto.

Você acha que haverá grandes mudanças ou significantes reconfigurações na geopolítica mundial?

Bem, a questão não é se haverá mudança, mas sim quanto tempo levará [para ela ocorrer] e com o que ela se parecerá. Sempre haverá mudanças. Com a ascensão dos chineses, com a Iniciativa do Cinturão e Rota, nós já estamos presenciando grandes mudanças. A Argentina assinou para se juntar a esta iniciativa. A Polônia tem um governo de direita, não é necessário ser um governo progressista para se juntar à Iniciativa do Cinturão e Rota. Essas coisas são muito contraditórias. A Polônia se juntou à Iniciativa do Cinturão e Rota da China em 2015, não por questões ideológicas, mas sim por questões práticas. Eles querem investimentos chineses e tal. Eu sinto que não veremos nada acontecer imediatamente. Sinto que não há dúvidas de que a China quer desesperadamente que a guerra na Ucrânia acabe e que não seja envolvida no conflito. A China não quer um conflito militar, pois isso poderia ser catastrófico. Portanto, não acho que a pergunta seja “Haverá mudança?”, pois a mudança já está em curso. Mas com o que ela se parecerá. Eu não acho que ela se parecerá com a criação de dois mundos, nem mesmo que será, necessariamente, multipolar. Acho que não é fácil, por agora, dizer o que acontecerá.

Uma coisa que ocorrerá é que os chineses e outros dirão “Vamos reviver os BRICs, dar alguma vida a eles”, isso será interessante. Será que o governo de direita na Índia e o governo de direita no Brasil escolherá a iniciativa? O que acontecerá na eleição [presidencial] brasileira este ano? Se a esquerda vencer no Brasil, veremos um dos BRICs renascer. Os BRICs não morreram, só têm tido menos energia nos últimos anos. Isso pode ser interessante. Sei que os sul-africanos estão muito interessados em reviver os BRICs. Os BRICs não são necessariamente anti-Ocidente, pois suas economias estão fundamentalmente integradas ao Ocidente. Então, mais uma vez, a pergunta não é sobre se haverá mudanças, as mudanças já estão acontecendo. A pergunta é em que ritmo ela ocorrerá e com o que se parecerá. Acho que ela se parecerá com uma rede ao invés de blocos, separados. Será uma rede. Por sinal, as pessoas deveriam saber que durante a época da URSS, eles negociaram com os Estados Unidos durante toda a sua história. Não é como se a Cortina de Ferro separasse esses lugares. Não foi assim que as coisas funcionaram.

Você mencionou várias mudanças, e nós podemos mencionar ainda mais que mesmo com a substituição do dólar que vimos com a Rússia utilizando um outro sistema no lugar do Swift para realizar suas transações econômicas com a China, você acha que isso talvez possa alterar substancialmente as instituições internacionais? Por exemplo, veremos as Nações Unidas agindo ou veremos o fim da OTAN?

Não acho que a OTAN acabará. Na verdade, a OTAN se reunirá no verão de 2022 [no Hemisfério Norte] em Madri. Eles vão lançar um novo documento conceitual, o que sugere uma OTAN global. Eles estão num ritmo de guerra para se tornar, de certa forma, a “polícia do mundo”, é como eles se veem. Eles já estão conversando sobre uma OTAN global. As Nações Unidas são uma vítima das diferenças políticas no mundo. Ela não é um ator independente. Se há diferenças políticas imensas, particularmente nas chamadas grandes potências, a ONU não consegue atuar. Nos assentos permanentes do Conselho de Segurança estão a Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, Rússia e China. Portanto, se há uma ruptura entre esses dois poderes, a ONU não consegue agir. Então não é justo dizer “Por quê que a ONU não está agindo?”. A ONU é uma vítima das divisões das grandes potências mundiais.

A OTAN será mais poderosa, a ONU é uma vítima das divisões das grandes potências. Ao mesmo tempo, eu sinto como se estivessem desejando novos desafios de segurança para os países. Eu espero muito que organizações regionais como a União Africana, talvez CELAC (na América Latina), que essas organizações regionais subam à mesa e digam “Veja, nós não queremos escolher lados. Nós queremos ter uma política externa independente e não-alinhada. Seria muito interessante se a CELAC, na América Latina, articulasse diretamente e utilizasse o termo “não-alinhado”. Seria proveitoso se a União Africana também usasse esse termo, se as organizações do sudeste asiático fizessem o mesmo. Sinto que estamos num momento em que queremos que os países se levantem e digam “Não queremos ter que escolher” ao invés de termos países escolhendo.

Como você analisa o crescimento de novos fascistas, de novas formas de pensar e de grupos de extrema direita no século XXI? Esses grupos são agora capazes de alcançar países que são muito importantes para a ordem internacional, como os Estados Unidos, Índia, Brasil. A democracia está em risco? Quais são as perspectivas para a esquerda diante de tudo isso que nós estamos vendo agora?

Uma das coisas interessantes é que essas forças não precisam mais realizar golpes de Estado para tomar o poder. Acho que eles reconhecem isso. Há um tipo de intimidade fatal, uma intimidade muito fatal entre as forças da extrema direita e as instituições burguesas, as instituições democráticas. É certo que eles usarão a lei como arma, exatamente o que fizeram no Brasil para se livrarem da Dilma. Contra a Dilma utilizaram, na verdade, o poder legislativo como arma. Mas contra o Lula usaram a lei. Em alguns países eles fazem isso, em outros eles apenas usam o dinheiro para superar outras forças políticas e vencer as eleições. Então um ponto é a extrema direita ter reconhecido que eles podem usar instituições democráticas formais para chegar ao poder. Eles não precisam necessariamente de um golpe fascista de Estado, essa é uma coisa que precisamos admitir. Em segundo lugar, o liberalismo colapsou.

A afinidade do liberalismo com a privatização, com o que chamamos de políticas neoliberais, colapsou há pelo menos uma geração. Nenhuma resposta para os problemas materiais correntes que as pessoas enfrentam. E pelo fato de o liberalismo não possuir respostas para os problemas materiais que as pessoas enfrentam, porque a esquerda é fraca, a extrema direita conseguiu emergir. É uma consequência do colapso do liberalismo, não do colapso da esquerda. Quando o fascismo surgiu, na década de 1920, ele surgiu para atacar a esquerda. Agora, o fascismo chegou porque o liberalismo basicamente colapsou. O liberalismo tem se tornado a religião da elite e essa multidão apareceu essencialmente porque eles dizem que os liberais não sabem lidar com o desemprego e todas essas questões. Este é um dos grandes perigos. A razão pela qual a esquerda precisa crescer e fortalecer a sua confiança é porque nem os liberais nem os extremistas de direita têm respostas pra os problemas da humanidade. Nós temos algumas respostas e temos que ser mais agressivos. Não podemos esperar que os liberais salvem o dia. Eles não vão salvar nada.

Onde assistir ao programa

O Caminhos para o Mundo tem duração de 30 minutos e vai ao ar quinzenalmente, às terças-feiras, sempre às 20h, nos canais do Brasil de Fato e da TVT no YouTube.

Na TV aberta, o programa é exibido na TVT, canal 44.1 - sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC. 

Edição: Thales Schmidt