DIGITAL BOLSONARISTA

Acordo do Exército com empresa israelense, alvo do TCU, envolve aliado de Eduardo Bolsonaro

Porta-voz da CySource, Hélio Cabral Sant'Ana é dono do domínio de site de instituto chefiado pelo filho do presidente

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Hélio e Sérgio Cabral Sant'Ana: amigos de Eduardo Bolsonaro; na foto, militares e urnas eletrônicas - Divulgação

Um dos representantes da empresa israelense CySource no acordo de cooperação técnica firmado com o Comando de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro, assinado em março deste ano, tem ligação com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro.

O analista de sistemas Hélio Cabral Sant'ana, ex-diretor de Tecnologia da Informação da Secretaria-Geral da Presidência da República, porta-voz da CySource no acordo com o Exército, é dono do domínio do site do Instituto Conservador Liberal (ICL), presidido por Eduardo Bolsonaro.


Currículo de Hélio Cabral Sant'Ana que era exibido no site da Secretaria-Geral da Presidência; agora, ele atua em empresa israelense / Reprodução/GOV.BR

Fundado pelo filho do chefe do Executivo, o ICL tem como uma de suas principais realizações a organização de um encontro que reúne líderes da extrema direira global. Inspirada em um evento que ocorre nos EUA desde os anos 70, o CPAC já teve duas edições em sua versão brasileira, em 2019 e no ano passado.

No último deles, realizado em Brasília, participaram Donald Trump Jr., filho do ex-presidente americano, e Jason Miller, fundador da rede social de direita Gettr. Miller acabou sendo interrogado pela Polícia Federal ao deixar o país, no âmbito do inquérito das milícias digitais.

Clique aqui para acessar as informações do site do ICL na plataforma WhoIs, que armazena as informações sobre quem são os proprietários de domínios na internet. Abaixo, leia os dados do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do ICL, consultados nesta sexta-feira (20). Para fazer a consulta, clique aqui.


Dados da Receita Federal mostram que Eduardo Bolsonaro é o presidente do Instituto Conservador Liberal / Reprodução/Receita Federal

Porta-voz de empresa israelense e irmão de diretor do ICL

Na celebração do acordo da CySouce com o Exército, Hélio Cabral Sant'Ana atuou como porta-voz da empresa israelense em comunicados oficiais. Para sair do Executivo Federal, em março deste ano, e assumir o cargo na CySource, ele teve autorização da Comissão de Ética Pública da Presidência.

Além disso, Hélio é irmão de Sérgio Cabral Sant'Ana, ex-assessor especial do ministro Abraham Weintraub (Educação, entre 2019 e 2020). Atualmente, Sérgio ocupa o cargo de diretor-executivo do ICL. Ele chegou a ser cotado para assumir o MEC, em junho de 2020, com apoio de Carla Zambelli (PL-SP) e do vereador Carlos Bolsonaro (PL), de acordo com informações do jornalista Cláudio Humberto, do Diário do Poder.


Sérgio Sant'Ana tem uma série de publicações ao lado de Eduardo Bolsonaro; na foto, ao lado de outros integrantes do governo federal e do vereador Tenente Santini / Reprodução/Twitter

Fatos reforçam pedido do Ministério Público ao TCU

As informações reforçam a relação apontada pelo subprocurador-geral do Ministério Público Federal (MPF) Lucas Rocha Furtado, que pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar possíveis irregularidades no acordo de cooperação

O subprocurador cita a revelação da reportagem do Brasil de Fato de que, no quadro de executivos da CySource, está Hélio Cabral Sant'ana. Furtado aponta que o acordo tem indícios de desvio de finalidade que podem colocar em risco as eleições de outubro.

No documento, argumenta que o general Héber Garcia Portella, comandante de Defesa Cibernética do EB (ComDCiber), já tinha sido nomeado para integrar a Comissão de Transparência das Eleições (CTE) quando assinou o contrato com a empresa israelense.

O subprocurador aponta que o general frequentemente “tem reforçado o discurso de Jair Bolsonaro no sentido de que o sistema de votação brasileiro contém riscos e fragilidades que podem vir a comprometer a lisura das eleições”.

Por isso, segundo ele, o acordo teria sido celebrado “não com vistas à satisfação de uma finalidade pública, mas, sim, em flagrante desvio de finalidade, com vistas a investigar os supostos riscos e fragilidades do sistema de votação brasileiro”.

“No meu entender, é inadmissível que a estrutura do Exército Brasileiro seja usada para atender a um capricho de Jair Bolsonaro, que, de forma insistente, tem questionado a segurança das urnas eletrônicas e dos procedimentos de apuração eleitoral adotados pelo Tribunal Superior Eleitoral”, escreveu.

O caso foi revelado com exclusividade pelo Brasil de Fato na dia 6 de maio. Desde o último dia 9, após o pedido feito pelo sub-procurador geral, o processo tramita no TCU para apuracão do caso. Clique aqui para acompanhar as movimentações processuais.

:: General que questiona eleições contratou empresa israelense de ex-chefe de TI de Bolsonaro ::

Exército nega relação com eleições

Em nota enviada à reportagem na tarde de 9 de maio, o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que "o acordo foi firmado sem custos para a União e não possui nenhuma relação com eventos externos, como as eleições".

Leia a íntegra:

O Centro de Comunicação Social do Exército informa que a Escola Nacional de Defesa Cibernética (ENaDCiber) é o Estabelecimento de Ensino subordinado ao Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) responsável pela qualificação de recursos humanos para o Setor Cibernético.

As capacitações proporcionadas pela ENaDCiber são obtidas mediante cursos, estágios e treinamentos conduzidos pela própria Escola ou mediante parcerias e convênios firmados com a rede de ensino nacional e internacional.

Nesse contexto, foi celebrado acordo de cooperação técnica entre a União, representada pelo Comando do Exército, por intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia, por meio do Comando de Defesa Cibernética, e a empresa CySource LTDA, para fins de capacitação continuada na área de Segurança Cibernética, conforme divulgado na página 31 da Seção 3 do Diário Oficial da União de 28 de abril de 2022.

Cabe ressaltar que o acordo foi firmado sem custos para a União e não possui nenhuma relação com eventos externos, como as eleições.

CySource

A CySource foi fundada por veteranos das forças de defesa militar de Israel. Após anos atuando com segurança cibernética para organizações militares, a empresa afirma contar com "a melhor plataforma de educação e treinamento em segurança cibernética baseada em Inteligência Artificial do mundo".

O diretor executivo da CySource, Amir Bar-El, assim como os outros fundadores da empresa, tem experiência no setor de defesa israelense. Ele atuou nas unidades de inteligência do Mossad, serviço secreto de Israel. Depois, fez carreira na iniciativa privada.

“Ao longo dos últimos anos estabelecemos academias de segurança cibernética para diversas organizações militares e unidades de segurança em todo o mundo, o que nos permitiu consolidar conhecimento estratégico na defesa cibernética”, afirmou Bar-EI no comunicado da parceria com o Exército Brasileiro.

Em nota enviada à reportagem nesta semana, Amir Bar-EI negou que o acordo com o Comando de Defesa Cibernética, chefiado pelo representante das Forças Armadas no TSE, esteja relacionado às eleições de outubro.

Leia a íntegra da nota da CySource sobre o caso

A CySource é líder israelense em treinamentos em cibersegurança e serviços profissionais. Nossos especialistas em segurança treinaram milhares de estudantes e trabalhadores, provendo globalmente segurança à organizações contra ataques cibernéticos. Nós identificamos o Brasil como um mercado estratégico para investimento devido às necessidades emergentes com relação à cibersegurança. A CySource trabalha para apoiar empresas na criação de uma força de trabalho em cibersegurança de excelência e espera criar milhares de empregos para os trabalhadores no Brasil. Como parte dessa estratégia, nós contactamos diversas organizações no país para apresentar nossas capacidades.

A CySource assinou um acordo de cooperação de treinamento sem qualquer custo com a Escola Nacional de Defesa Cibernética (ENaDCiber), com foco na capacitação profissional de pessoal militar, não havendo relação com quaisquer eventos externos, como as eleições. A empresa é uma dentre as diversas organizações de treinamentos trabalhando com a ENaDCiber. A CySource continuará trabalhando para uma comunidade segura por meio da confiança em parcerias estratégicas e colaborações.

Edição: Rodrigo Durão Coelho