salário

Dieese: apenas 8% dos trabalhadores conseguiram reajuste acima da inflação em abril

Resultado é o pior de 2022 e o segundo pior dos últimos 15 meses, período em que a média dos reajustes foi negativa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Com reajuste médio negativo, trabalhadores ficam expostos à inflação elevada - Foto: Giorgia Prates

Apenas 8% das categorias com data-base em abril conseguiram aumento salarial acima da inflação. O dado é do levantamento mensal feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Trata-se da menor proporção de reajuste com ganho real em 2022 e o segundo menor índice nos últimos 15 meses, acima apenas de novembro de 2021. 

Leia mais: “É preciso que a eleição debata o preço da comida e da gasolina, o emprego e os salários”

O estudo preliminar analisou 163 negociações realizadas em abril. Os dados mostram ainda que 46% das categorias conseguiram reajustes iguais ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e outros 46% tiveram ganhos abaixo da inflação, patamar considerado elevado.

"Esses dados mostram uma dificuldade das categorias em conseguir reajustes acima ou iguais à inflação nessa conjuntura atual. A economia permanece com sinais negativos, vários indicadores apontam para um desempenho ruim e isso se reflete nas negociações coletivas e, depois, no bolso do trabalhador e da trabalhadora", afirma Luís Ribeiro, sociólogo do Dieese e responsável pelo estudo.

Renda em queda, inflação em alta

O estudo mostra ainda que a variação real média dos reajustes foi de -0,76%, reforçando a tendência de perda do poder de consumo da classe trabalhadora. Em todas as últimas 15 datas-bases, a variação real dos reajustes foi negativa, especialmente em julho de 2021 (-1,94%).

"As categorias não estão conseguindo a recomposição dos salários, e isso implica que, na média, o trabalhador e a trabalhadora estão perdendo na atual conjuntura de elevada inflação", explica Ribeiro. Ele enfatiza ainda que a referência para os reajustes é a inflação passada, ou seja, os trabalhadores não estão conseguindo repor os salários à altura dos aumentos de preços já registrados em meses anteriores.

"Esses trabalhadores e trabalhadoras vão sofrer ainda mais com a inflação futura, porque as projeções indicam uma manutenção dessas altas taxas de inflação. Então, não só eles não recuperaram o que recebiam no passado, como entram já numa situação de muita desvantagem para o futuro, porque dia a dia, semana a semana, mês a mês, os preços estão subindo e o salário cada vez mais encolhendo", ressalta.

Leia mais: Análise | Brasil verde e amarelo: sem direitos, sem trabalho e sem renda, por Mônica Francisco

O Dieese calculou o reajuste necessário para dar conta do aumento de preços registrado no mês de abril pelo INPC como um índice na ordem de 1,04%. As negociações precisaram garantir ao menos 12,47% de aumento aos trabalhadores, maior valor registrado pela série histórica do estudo. 

Centro-Oeste é destaque negativo

Os reajustes abaixo da inflação representam 40,8% do total no ano, frente a 31,6% de reajustes iguais à inflação e apenas 27,6% de negociações com ganhos reais. O setor com maior proporção de ganhos abaixo da inflação foi o de serviços, 45,1% do total de negociações do ramo. 

Em termos regionais, o destaque negativo fica para o Centro-Oeste, onde 63,7% dos reajustes ficaram abaixo do INPC-IBGE. A região Sul teve o maior percentual de negociações com ganho acima da inflação, com 77% dos casos analisados.

Edição: Nicolau Soares