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Vítimas, agressores e plateia: o que caracteriza a prática de bullying? Entenda no Radinho BdF

‘Vivi uma experiência de bullying relacionada ao meu cabelo e levo marcas desse período comigo até hoje’, diz criança

Ouça o áudio:

A perseguição do Cebolinha contra a Mônica, da Turma da Mônica, um dos casos de bullying mais famosos, é lembrado no Radinho - Reprodução
Alunos realizam projeto em escola para oferecer ajuda a vítimas e a resgatar agressores

Comentários desagradáveis sobre características de uma pessoa são sempre casos de bullying? O que caracteriza esse tipo de violência? Como as crianças e adultos podem identificar e buscar ajuda quando são vítimas ou quando presenciam esses casos? Que impactos ele pode trazer?

São essas algumas das perguntas respondidas na edição de hoje (01) do Radinho BdF, com a ajuda de alunos do Colégio Xingu, em Santo André (SP), que fazem parte da Equipe de Ajuda de Combate ao Bullying. Trata-se de um projeto realizado na instituição de ensino para que as crianças sejam protagonistas no combate a esse problema.

“O bullying é uma brincadeira de mau gosto, um ato de violência, que acontece frequentemente”, disse Ana Júlia Rocha, de 12 anos.

A aparência física é um dos principais alvos dos agressores, mas o gênero, a orientação sexual, a etnia e até o país de origem da pessoa podem ser pontos de comentários depreciativos ou julgamentos desagradáveis. Essa prática pode de dar apelidos de forma mal intencionada pode humilhar, desrespeitar e abrir portas para outras agressões verbais e até físicas.

Uma em cada três crianças no mundo já foi vítima de bullying, como revelou a pesquisa feita pela Unesco, em 2020. Por isso, o Radinho reforça: uma piada só é engraçada quando todo mundo ri. Se alguém fica triste, com raiva ou envergonhado com a piada pode ter certeza que ela não tem graça nenhuma.

“Eu já vivi uma experiência de bullying relacionada ao meu cabelo. Foi extremamente ruim. Eu levo essa experiência comigo ainda hoje: alguns pensamentos ainda vêm a minha cabeça, como um lembrete do bullying que fizeram comigo”, relata Maiara, de 12 anos. “Eu acho que um dos sentimento que mais prevaleceram foi incerteza de eu ser suficiente. Eu não esperava isso dos meus colegas de classe, mas é algo que eu estou trabalhando em mim mesma e estou superando.”

Consequências

Debates sobre bullying voltaram a ganhar destaque desde a última semana, depois de uma tragédia que ocorreu em uma escola dos Estados Unidos. No último dia 24, um jovem de 18 anos matou a tiros 21 crianças em uma escola do Texas. Ele era vítima de bullying por ser gago.

Essas são as consequências mais graves de uma violência que pode deixar diversas marcas ao longo de toda vida.

“As consequências do bullying podem se físicas e mentais. Pode levar a pessoa a ficar mais insegura, indefesa, se sentir fraca... Pode também levar a depressão, a ansiedade e em casos mais sérios a suicídio”, diz Gabriel Lemos, de 12 anos.


Uma em cada três crianças no mundo já foi vítima de bullying, como revelou a pesquisa feita pela Unesco, em 2020 / Divulgação/ Agência Senado

O Bullying

O termo bullying tem origem na língua inglesa: “bully” significa “valentão”, então bullying seria algo como “agir como valentão”.

Essa prática tem algumas características específicas, que devem ser vistas com atenção. “Ele pode ocorrer por meio de palavras, como ‘você está gorda’, ‘você emagreceu demais’, ‘odiei seu cabelo’ e isso pode levar a pessoa a depressão”, exemplifica Maria Eduarda Campos, de 12 anos.

Além dos comentários, esse tipo de violência tem outras características predominantes: “sempre tem um agressor, a vítima e uma plateia, que costuma rir ou não fazer nada, o que piora a situação. O bullying é algo constante, então se fizeram uma piada só um dia, não é bullying”, ponta Sofia Francisco Perez, de 12 anos.

A reação das pessoas que presenciam essa violência, chamados de “público” ou “plateia”, é fundamental para desincentivar o agressor.

“A plateia pode assumir três papéis: pode ser a que aplaude e ri, pode ser a que quer ajudar mas não sabe como e pode ser a não liga para o que está acontecendo”, conta Enzo, de 12 anos.


Um em cada dez adolescentes já foi ameaçado, ofendido ou humilhado nas redes sociais ou em aplicativos de celular / Foto: Rovena Rosa/Agência Brasi

Cyberbullying

Na escola, no clube ou no bairro. Não tem lugar certo para o bullying ocorrer. E com a internet e as redes sociais ele pode estar até dentro dos celulares e computadores. A prática é chamada de cyberbullying ou bullying na internet.

A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, publicada em 2019, aponta que um em cada dez adolescentes já foi ameaçado, ofendido ou humilhado nas redes sociais ou em aplicativos de celular.

Atrás das telas, os agressores se sentem mais encorajados a fazer comentários negativos ou ofensivos, já que é mais difícil de sofrer punições.

Buscando ajuda

Romper com um ciclo de violências não é fácil e exige coragem das vítimas e acolhida de adultos e crianças. Uma ideia é fazer como as crianças que participaram dessa edição do Radinho e montar um projeto na sua escola ou vizinhança para prevenir o bullying.

Por lá foi criado um programa de ações mediadoras de conflitos por meio da estratégia das “Equipes de Ajuda”, das quais as crianças ouvidas nesta edição fazem parte.

Trata-se de um grupo de alunos, eleitos pelos colegas em assembleia, atuam para que a convivência seja mais positiva entre os alunos, se ajudando mutuamente. Eles prestam apoio aos colegas, os escutam quando têm problemas e os auxiliam a resolver os problemas por meio da cooperação e do entendimento.

“É muito importante a família estar atenta para o comportamento dos filhos e perceber se há sofrimento, se não quer mais ir para escola. Neste caso é importante contatar a escola para ter mais informações”, diz Renata, que é professora de Convivência Ética. “Entretanto, pesquisas mostram que os alvos de bullying buscam colegas para contar o problema, entre pares. Por isso a gente utiliza sistema de ajuda entre pares, para as crianças identificarem e agirem.”

São os próprios alunos que elaboram campanhas para dialogar com a escola e com a comunidade sobre assuntos como o racismo, por exemplo. Eles fazem cartazes, organizam e assistem palestras e participam de grupos de discussão.

Atenção para os agressores

Muitas vezes o agressor também pode ser uma vítima, por isso é preciso ter atenção e dar acolhida também para quem pratica o bullying, tentando entender que motivos os levam a praticar esses atos.

“As vezes o agressor tem família muito agressiva, que não o respeita e que o critica, então ele não sabe como agir em outros ambientes. Por isso, em qualquer situação, ele reage agressivamente e acabada fazendo as pessoas se sentirem mal, como ele se sente em casa”, diz Sofia.

Pesquisas apontam que crianças e adolescente que praticam bullying tem mais propensão a se tornarem adultos violentos, a cometerem crimes e a usarem álcool e drogas.

“Eu penso que ninguém nasce uma pessoa ruim, mas faz pelo que tem em casa. Às vezes ela está passando por um momento difícil e é o único jeito de chamar atenção ou mostrar o que está acontecendo. Geralmente tem um motivo por trás, como tentar mostrar seu valor ou tentar se incluir em um grupo”, avalia Sarah.

História e músicas

Apesar do assunto sério, a edição do Radinho vem recheada de muita diversão. A Vitrolinha BdF põe para tocar “Paula e Bebeto”, do Milton Nascimento e “Abraçando as Diferenças”, do Clube da Anittinha.

Para completar, o arte-educador Victor Cantagesso conta “Flicts”, uma obra clássica de Ziraldo que, há gerações, discute sobre pertencimento, amizade e empatia.


Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais. / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].

Edição: Sarah Fernandes