Economia

Após pressão dos EUA, Opep aceita aumentar produção de petróleo

Cartel dos produtores aumenta extração do combustível após União Europeia encaminhar banimento do petróleo russo

São Paulo (SP) |
Refinaria de petróleo da Saudi Aramco na Arábia Saudita - Fayez Nureldine / AFP

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu aumentar consideravelmente o ritmo de sua produção de petróleo após reunião virtual nesta quinta-feira (2). Desde 2020, quando a pandemia de covid-19 afetou drasticamente o setor, o grupo de produtores tem aumentado gradualmente sua produção.

Nas últimas reuniões, foi acertado um aumento mensal de cerca de 400 mil barris de petróleo por dia entre os 13 membros do grupo e outros países associados, a chamada Opep+. Para julho e agosto deste ano, contudo, o plano é ter um aumento mensal de 648 mil barris de petróleo por dia. 

Os Estados Unidos defendem há tempos um fôlego maior na produção de petróleo diante da disparada nos preços do combustível e de sua inflação recorde. Em agosto de 2021, o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, criticou a Opep pelo ritmo de sua retomada da produção e disse ela poderia prejudicar o ritmo da recuperação econômica global. 

A mais nova decisão, desta vez, foi alvo de elogios. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, destacou a atuação do governo diante das “pressões sobre os preços da energia”.

“Reconhecemos o papel da Arábia Saudita como presidente da Opep+ e seu maior produtor na obtenção desse consenso entre os membros do grupo. Também reconhecemos os esforços e contribuições positivas dos Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque”, disse Jean-Pierre.

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Em comunicado, a Opep destacou o fim de lockdowns “nos principais centros econômicos globais”, em possível referência ao relaxamento de medidas de distanciamento na China, e destacou “a importância de mercados estáveis e equilibrados tanto para o petróleo bruto quanto para os produtos refinados”.

A decisão ocorre após lideranças da União Europeia anunciarem terem chegado a um consenso para banir a compra de petróleo russo por navios na sexta rodada de sanções contra Moscou. O anúncio ocorreu após semanas de negociação e de ceticismo de países dependentes do combustível russo.

Apesar do anúncio no começo da semana, todavia, a Bloomberg informou, também nesta quinta, que a Hungria bloqueou, ao menos por enquanto, a implementação desta nova rodada de sanções — a medida precisa ser aprovada por todos os 27 países do bloco europeu. 

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou em nota que a decisão da União Europeia terá um efeito “autodestrutivo” para o bloco europeu. “Tais ações alcançarão o resultado oposto — elas minarão a economia e a segurança energética da União Europeia e acelerarão a iminente crise global de alimentos, que Bruxelas busca verbalmente impedir”, disse a chancelaria russa

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), a Rússia foi a segunda maior exportadora de petróleo do mundo em 2019, atrás apenas da Arábia Saudita. 

Diplomatas dos Estados Unidos visitaram o reino saudita na última semana, e a Casa Branca estuda uma visita do presidente Joe Biden ao país em junho. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, também esteve na Arábia Saudita recentemente e destacou a importância da Opep para Moscou. 

"Os princípios de cooperação nesta base [da Opep] continuam importantes e relevantes", observou Lavrov após encontrar o chanceler saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, em Riade. 

Em um possível aceno a Moscou, a Opep decidiu em sua última reunião estender o período em que seus membros podem produzir abaixo das cotas determinadas pelo cartel até dezembro deste ano. Diante das sanções desencadeadas após a invasão da Ucrânia, os russos podem ter dificuldade em manter seu fluxo de produção de petróleo.

Edição: Felipe Mendes