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Ronda Política | Bolsonaro fora dos debates, Barroso livra Guedes de depoimento e mais

O presidente disse que não deve ir aos debates no primeiro turno e pediu perguntas combinadas para 'não baixar o nível'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"No segundo turno, vou participar", afirmou Bolsonaro em entrevista ao programa do Ratinho, no SBT - Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) não deve participar dos debates eleitorais no primeiro turno, conforme anunciou nesta terça-feira (31), em entrevista ao programa do Ratinho, no SBT. As participações devem começar somente no segundo turno.  

"No segundo turno, vou participar. Se eu for pro segundo turno, devo ir, vou participar. No primeiro turno, a gente pensa, porque, se eu for, os dez candidatos ali vão querer o tempo todo dar pancada em mim e eu não vou ter tempo de responder pra eles", afirmou.  

O presidente defendeu ainda que as perguntas a serem feitas durante os debates deveriam ser expressamente combinadas com os candidatos "para não baixar o nível". 

Nas eleições de 2018, o capitão reformado participou de apenas dois debates e depois justificou a sua ausência em decorrência da facada que levou em 6 de setembro daquele ano. Caso participe mesmo somente dos debates do segundo turno neste ano, Bolsonaro irá repetir a estratégia adotada por Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2006, quando só foi às discussões depois da primeira votação.


Lula discursa em lançamento de livro no teatro Tuca: Não adianta o Bolsonaro dizer que vai dar golpe / Ricardo Stuckert

O ex-presidente já defendeu a ideia de unir os veículos de comunicação para “fazer dois ou três debates, porque não dá para atender cada TV, rádio, rede social, se não a gente se tranca no estúdio”. A proposta do PT é que sejam feitos dois debates no primeiro turno e apenas um no segundo.  

Barroso livra Guedes de depoimento 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, cancelou o depoimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, no inquérito que investiga o senador Renan Calheiros (MDB-AL) por supostas fraudes no fundo de pensão dos Correios, conhecido como Postalis, entre 2010 e 2016. 

O depoimento estava marcado para ocorrer nesta quarta-feira (1) à Polícia Federal (PF). Em 12 de maio, no entanto, Guedes entrou com uma ação na Corte para recorrer da convocação, feita em abril. 

A defesa do ministro de Bolsonaro afirmou que Guedes não tem “qualquer relação” com o caso e que, por isso, não deveria ser convocado, ainda que na condição de declarante e não investigado. "Não há como se determinar que o peticionário preste um depoimento presencial perante a Polícia Federal às cegas, sem que lhe seja esclarecido sequer o motivo pelo qual a sua intimação foi requerida", disse a defesa de Guedes. 

Do outro lado, Barroso afirmou em sua decisão que a PF pode tomar depoimento "de pessoas não arroladas pelo Ministério Público Federal, considerando sua prerrogativa de conduzir a investigação criminal por meio do inquérito policial".  


Paulo Guedes / Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Ainda assim, alguns pontos deveriam ser observados em função da posição que Guedes ocupa hoje de ministro de Estado. "Nesse sentido, em hipóteses como a dos autos, devem ser ajustados de forma prévia o local, dia e hora para a inquirição", decidiu Barroso. 

Na semana passada, o procurador-geral da República, Augusto Aras, publicou sem querer no status do WhatsApp uma conversa sobre a dispensa de Guedes ao depoimento.  

“Seria possível receber o advogado do Paulo Guedes, o dr. Ticiano Figueiredo por 5 minutos? Assunto: possível dispensa de Paulo Guedes, junto à PF [Polícia Federal], em processo investigativo contra Renan Calheiros, onde Guedes não é parte”, diz a primeira mensagem. Em resposta, Aras teria dito: “Sim. Falaremos no celular e ajustaremos”. 

Em nota, a assessoria do Ministério Público Federal (MPF) informou que se tratava “de pedido de audiência recebido pelo procurador-geral da República com resposta indicando que seriam tomadas as providências para checar a viabilidade de futura agenda”. As mensagens foram apagadas posteriormente. 

Correndo perigo

Heitor Monteiro, ex-assessor do vereador do Rio de Janeiro Gabriel Monteiro (PL), disse que deve pedir reforço em sua segurança pessoal depois da morte de Vinícius Hayden Witeze, em um acidente de carro na estrada na Região Serrana fluminense.

Witeze, que também era assessor de Gabriel Monteiro, denunciou o parlamentar por assédio sexual e moral, e Heitor Monteiro testemunhou contra o vereador Conselho de Ética da Câmara Municipal. Ambos prestaram depoimento três dias antes de Witeze morrer. Em entrevista ao Estadão, Heitor Monteiro disse que está “correndo perigo”.  


Vinícius Hayden Witeze trabalhou para Gabriel Monteiro na Câmara dos Vereadores do Rio / Reprodução

Enquanto foi assessor de Gabriel Monteiro, Heitor editava os vídeos do ex-PM e youtuber. À polícia, Heitor relatou casos de assédio sexual e moral e que era orientado a manipular os vídeos. "Eu confirmei tudo aqui hoje. Meu compromisso é com a verdade. Tudo o que eu disse na delegacia eu reafirmei aqui. Tenho recebido ameaças, vou registrar na delegacia e tenho andado com seguranças", disse Heitor, horas após o depoimento. 

Antes de falecer, Witeze apareceu de colete a prova de balas ao depoimento no Conselho de Ética da Câmara. Depois, ele gravou um vídeo publicado nas redes sociais relatando ameaças. “Tenho que andar de carro blindado, colete à prova de balas. Tenho que cercear o meu direito de ir e vir porque o vereador gravou vídeos expondo o número de meu telefone pessoal, me colocando como se fosse uma pessoa que tivesse negociado com uma pseudo máfia do reboque", disse Witeze. “Ele [Monteiro] conseguiu me prejudicar de uma forma que eu não consigo nem visitar a minha filha.” 

Coalizão Negra lança candidaturas 

Na próxima segunda-feira (6), a Coalizão Negra por Direitos irá lançar mais de 50 pré-candidaturas, dentro dos partidos PT, PSOL, PC do B, PSB, PDT e Rede, a cargos no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas, numa iniciativa denominada “Quilombo nos Parlamentos”.  

No total, haverá pré-candidaturas ligadas à entidade nos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins, além do Distrito Federal. 


Evento discute a agenda de demandas, proposições e as estratégias de incidência da Coalizão rumo às eleições em 2022 / ASCOM Coalizão Negra

Em nota, a Coalizão afirmou que o ‘objetivo da ação - suprapartidária - é reduzir o hiato de representatividade no poder legislativo e contribuir para um projeto de país mais justo e menos desigual”.

“Com essa proposta, a Coalizão Negra Por Direitos pretende alterar a correlação de forças no Congresso, incluindo a pautas do movimento negro na agenda da política nacional. A população negra brasileira não está representada no Congresso e demais casas do Legislativo. Como resultado, somos derrotados cotidianamente nas ruas, com direitos negligenciados e ameaças constantes às nossas vidas. Se tivermos uma bancada negra em Brasília, isso pode mudar”, afirma Douglas Belchior, membro da Coalizão.

Bate-boca 

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), ameaçou retirar o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) do plenário após ter sido chamado de “ditador”, nesta terça-feira (31).  

“O deputado Glauber pode fazer o carnaval que ele quiser, mas se ele continuar faltando com o respeito à Casa ou a qualquer deputado, eu usarei de medidas mais duras para retirá-lo do plenário”, ameaçou Lira, cortando o microfone de Braga. Em resposta, o psolista disse: "O senhor não tem vergonha", disse. 

A discussão entre os parlamentes ocorreu depois que Arthur Lira tentou pautar a privatização da Petrobras. “Bolsonaro incluiu a Petrobras para privatização. São 308 votos em uma PEC para aprovar esse absurdo. Mas Lira quer PL de entrega de ações em que a União deixe deter maioria para dirigir a estatal. É privatizar também e por maioria simples. A oposição não pode ser dócil com esse sujeito”, disse Braga, em publicação no Twitter. 

“O Lira pode fazer qualquer tipo de ameaça, mas não adianta. Não vou me intimidar. O que esse cara está tentando fazer é um crime de lesa-pátria. Entregar a Petrobras, privatizar a Petrobras, em uma votação de maioria simples é um absurdo”, disse Braga em entrevista à Revista Fórum. 

Nada de novo sob o sol 

Ao redor do presidente do União Brasil, Luciano Bivar, 20 homens brancos, 2 mulheres brancas (a senadora Soraya Thronicke e a deputada Rose Modesto, ambas do Mato Grosso do Sul) e nenhum negro, durante o lançamento de sua pré-candidatura à Presidência, em Brasília nesta terça-feira (31).

Atualizada às 12h43

Edição: Nicolau Soares