Poder

Ronda Política | Haddad pensa em Marina como vice, "BrizoLula" incomoda PDT e mais

Nome da ex-ministra expõe divergências entre PSB, Rede e PSOL na construção da chapa encabeçada pelo PT, em São Paulo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

PT de Haddad vê com bons olhos o nome de Marina (Rede) para vice, mas depende de acordos com o PSB de Alckmin - Daniel Ramalho/AFP

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) ventila a possibilidade de ter a ex-ministra Marina Silva (Rede) como sua candidata a vice-governadora na disputa do governo de São Paulo. O objetivo é apresentar uma chapa menos à esquerda ao estado em que 631 das 645 cidades elegeram Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

A porta-voz da Rede, Mariana Lacerda, afirmou que Marina Silva agregaria “demais a São Paulo e ao Brasil”, seja como candidata à Câmara dos Deputados ou na chapa com Fernando Haddad. “Vamos construir em conjunto o que for melhor para o Brasil, para a Rede e para o governo Haddad, mas, entendo que, sobretudo, essa é uma decisão dela”, disse Lacerda ao Estadão. 

A possibilidade, no entanto, enfrenta resistência nas articulações com outros partidos. O PT de São Paulo busca o apoio do PSB, que fechou aliança no âmbito federal com a pré-candidatura de Geraldo Alckmin à vice-presidência ao lado de Lula. Caso isso aconteça, a expectativa é que o partido indique o ex-governador Márcio França ao Senado, mas não há definiçõa, uma vez que os socialistas até o momento mantém a decisão de lançar nome próprio ao governo de São Paulo.

Nesse cenário, a federação formada por PSOL e Rede ficaria com a vaga de vice ou a candidatura ao Senado. No entanto, entretanto, o PSOL exige a indicação de um nome da sigla para a chapa, já que é maior partido da federação.


Fernando Haddad / Ricardo Stuckert

Lideranças do PT, porém, afirmam que um nome do PSOL não ajudaria o petista a conquistar uma parcela mais conservadora do eleitorado paulista. "Tem que facilitar a vida do cidadão que vai assimilar o seu pedido. Esse eleitor pensa: ‘já estou engolindo o PT e agora vem o PSOL junto?’ Precisa achar alguém deglutível para o eleitor", afirmou Luiz Marinho, presidente do PT-SP, à Folha de S. Paulo.

Em resposta, o presidente do PSOL em São Paulo, João Paulo Rillo, disse que Marinho foi "deselegante" em sua fala. "Foi um pensamento deselegante e infeliz dele com o PSOL e o Juliano [Medeiros, presidente nacional do PSOL], que tem sido muito leal e diplomático e foi uma figura importante para construir nosso apoio ao Lula", afirmou Rillo. "O PSOL tem peso político e retirou a candidatura do [Guilherme] Boulos ao governo, que tinha dois dígitos nas pesquisas, em nome da unidade."

Rio de Janeiro 

Marcelo Freixo, pré-candidato do PSB ao governo do estado do Rio de Janeiro, André Ceciliano, pré-candidato ao Senado pelo PT do Rio, e Leonel Brizola Neto, pré-candidato a deputado federal também pelo PT do Rio, lançam às 17h desta segunda-feira (6) o Comitê "BrizoLula". 

O objetivo é reunir quadros históricos que eram aliados do fundador do PDT Leonel Brizola, que faleceu em 2004, em apoio a Lula. "Todos unidos com @LulaOficial presidente para enterrarmos os filhotes da ditadura", publicou em seu perfil no Twitter, na noite deste domingo (5), Brizola Neto. 

O diretório estadual do PT no Rio publicou também no Twitter que “no encontro estará toda nossa militância junto com históricos brizolistas que apoiam Lula. A unidade é a única forma de vencer o bolsonarismo e reconstruir o Brasil”. 


Leonel Brizola Neto e Lula seguram foto do ex-presidente com Leonel Brizola / Ricardo Stuckert

Porém, a iniciativa causou irritação entre os atuais quadros do PDT, que lançou Ciro Gomes para a disputa presidencial e Rodrigo Neves para a corrida eleitoral ao governo do Rio de Janeiro. 

"É pura provocação, sem nenhuma legitimidade", disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ao jornal O Globo. Na mesma linha, o ex-deputado federal Carlos Draudt Brizola, outro neto do ex-governador do Rio, afirmou que se trata de uma “utilização completamente ilegal e indevida da imagem de Brizola para inauguração de um comitê de campanha” no que seria "mais um oportunismo” da campanha de Marcelo Freixo. 

Pernambuco 

O PT deve iniciar um processo de expulsão de quatro integrantes da sigla que declaram apoio à pré-candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco pelo Solidariedade.

Assinaram um manifesto de apoio a Arraes Fany Bernal, co-vereadora pela Mandata Coletiva Fany das Manas em Garanhuns – sem o apoio das outras co-vereadoras –, Matheus Araújo, secretário da juventude petista da capital pernambucana, Chico Gomes, presidente do PT Igarassu, e José Ronaldo, vice-presidente do PT de Bom Jardim. 


Geraldo Alckmin ao lado de Marília Arraes / Caroline Oliveira

A dissidência também é acusada de agir contra a deliberação coletiva da Juventude do PT e de criar uma página fake em nome do partido para apoiar a candidata do Solidariedade, em nota assinada por dirigentes da Juventude do PT (JPT) no estado e integrantes da executiva estadual do PT Pernambuco. 

Sub judice 

A despeito inelegibilidade que ronda sua carreira política, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) já se apresenta como pré-candidato à única vaga para o Senado pelo Rio de Janeiro. Mesmo a campanha do presidente Jair Bolsonaro, que tem apoio contumaz de Silveira, acredita que, ainda que o deputado consiga se eleger, terá problemas para manter o mandato.

Silveira foi condenado a oito anos e nove meses de prisão por ataques e ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros. O deputado, entretanto, foi salvo por um indulto concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

O procurador-geral da República, Augusto Aras, já afirmou, entretanto, que os efeitos do indulto de Bolsonaro valem apenas para a condenação penal e não têm efeito sobre eventual responsabilização no âmbito eleitoral.


Daniel Silveira exibe o decreto com o indulto concedido a ele por Jair Bolsonaro / Evaristo Sa / AFP

De acordo com a lei da inelegibilidade (Lei Complementar nº 64, de 1990), são inelegíveis “os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes: contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público”. 

A previsão é que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mantenha o entendimento de inelegibilidade. 

Devoluções e cassações de mandatos 

O deputado federal Márcio Macedo (PT-SE) disse que tem “plena convicção” de que irá recuperar seu mandato, após ter sido afastado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na sexta-feira (3). 

Macedo afirmou em nota publicada na noite de sábado (4) que impetrou mandado de segurança com pedido de liminar contra a decisão. “Essa decisão foi tomada em caráter cautelar, podendo ser revista não apenas pelo próprio relator, pelos órgãos colegiados do STF e também pelo presidente. Para que essa revisão ocorra, estão sendo apresentados recursos pelo Partido dos Trabalhadores e por mim”, disse. 


Márcio Macedo / Reprodução/Facebook

O afastamento foi anunciado por Lira depois que o ministro do STF Kassio Nunes Marques anulou a cassação do mandato do deputado federal de Valdevan Noventa (PL-SE). Ele havia sido cassado, ainda em março deste ano, por captação e gasto ilícito de recursos por meio de depósitos de origem não identificada, durante a campanha eleitoral de 2018. Macedo ocupada seu lugar na Câmara. 

Nunes Marques também suspendeu a cassação do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR). Nesta terça-feira (7), o plenário do STF irá julgar as decisões de Nunes Marques. 

Se Lula for, Bolsonaro vai 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que se Lula for para os debates eleitorais no primeiro e segundo turnos, ele também participará. “É questão de estratégia. Talvez eu compareça. Agora, se Lula for, eu vou junto com ele”, afirmou à imprensa no sábado (4). 

Em entrevista ao programa do Ratinho, no SBT, em 31 de maio, Bolsonaro havia dito que avaliava não participar dos debates eleitorais no primeiro turno. "No segundo turno, vou participar. Se eu for pro segundo turno, devo ir, vou participar. No primeiro turno, a gente pensa, porque, se eu for, os dez candidatos ali vão querer o tempo todo dar pancada em mim e eu não vou ter tempo de responder pra eles", afirmou.   

O presidente defendeu ainda que as perguntas a serem feitas durante os debates deveriam ser expressamente combinadas com os candidatos "para não baixar o nível".  


"No segundo turno, vou participar", afirmou Bolsonaro em entrevista ao programa do Ratinho, no SBT / Alan Santos/PR

Nas eleições de 2018, o capitão reformado participou de apenas dois debates e depois justificou a sua ausência em decorrência da facada que levou em 6 de setembro daquele ano. Caso participe mesmo somente dos debates do segundo turno neste ano, Bolsonaro irá repetir a estratégia adotada por Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2006, quando só foi às discussões depois da primeira votação. 

PCO se aproxima da extrema-direita 

O presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, considerou o bloqueio das redes sociais do partido, determinado pelo STF, pior do que a censura praticada pela ditadura militar. A fala foi feita durante uma transmissão ao vivo feita no final da tarde deste domingo (5). Ao mesmo tempo, o jornal do partido, o DCO, caracterizou o ministro do STF Alexandre de Moraes como “mais fascista do que Bolsonaro”.

Moraes incluiu o Partido da Causa Operária (PCO) no inquérito das fake news, na última quinta-feira (2). O inquérito é o mesmo que investiga Bolsonaro e seus aliados por divulgação de informações falsas. O magistrado deu cinco dias para que a Polícia Federal escute o presidente da sigla, Rui Costa Pimenta, e também determinou o bloqueio das redes sociais do partido.  

"É a mesma coisa de terem mandado fechar o Estadão ou a Rede Globo. Isso nem a ditadura pensou em fazer uma coisa parecida com isso. Nos bons e velhos tempos da ditadura, nós temos que dizer isso aqui, porque nós caímos numa situação pior do que a época da ditadura militar. A ditadura ia lá na redação do jornal, lia o que o pessoal estava publicando e censurava uma matéria, duas, um trecho da matéria... Nós podíamos publicar uma matéria sem aquela matéria. Agora, a ditadura militar mandar a Polícia Federal pro Estadão e falar 'vou fechar' nunca, sobre a cabeça de ninguém”, disse Rui Costa Pimenta durante a live. 


Rui Costa Pimenta / Valte Campanato/Agência Brasil

Na decisão, Moraes escreveu que "o Partido da Causa Operária, além das publicações no Twitter, utiliza sua estrutura para divulgar as mesmas ofensas nos mais diversos canais", como Instagram, Facebook, Telegram, Youtube e TikTok, ampliando "o alcance dos ataques ao Estado Democrático de Direito" e atingindo "o maior número possível de usuários nas redes sociais, que somadas, possuem quase 290 mil seguidores".  

O ministro disse ainda que há indícios de que o PCO utilize o dinheiro público que recebe enquanto partido político de forma "indevida" com o objetivo de viabilizar e impulsionar a propagação das declarações criminosas.  

"Portanto, há relevantes indícios da utilização de dinheiro público por parte do presidente de um partido político – no caso, o PCO – para fins meramente ilícitos, quais sejam a disseminação em massa de ataques escancarados e reiterados às instituições democráticas e ao próprio Estado Democrático de Direito, em total desrespeito aos parâmetros constitucionais que protegem a liberdade de expressão", acrescentou Moraes.

Edição: Nicolau Soares