DESAPARECIMENTO

Mochila e pertences localizados no Vale do Javari eram de Bruno Pereira e Dom Phillips, diz PF

Mergulhadores do Corpo de Bombeiros encontraram mochila preta amarrada em uma árvore submersa na margem do rio

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Objetos foram encontrados na tarde de domingo em uma área de igapó, no Vale do Javari - Divulgação/Corpo de Bombeiros do Amazonas

A Polícia Federal informou, na noite de domingo (12), que encontrou uma série de pertences do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos desde o dia 5 de junho na região do Vale do Javari, oeste do Amazonas.

Continua após publicidade

Mais cedo, o Corpo de Bombeiros havia informado a localização de uma mochila. Agora, a PF informa que foram encontrados os seguintes itens: um cartão de saúde, uma calça preta, um chinelo preto e um par de botas pertencentes a Bruno e um par de botas de Dom.

A polícia também confirma que a mochila, da marca Equinox, é de Dom e continha roupas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, os objetos foram achados por mergulhadores. A mochila estava amarrada a uma árvore, em uma área de igapó.

::"Povos serão aniquilados": indigenista desaparecido alertava em 2019 para avanço do garimpo::

Indígenas localizam barco

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou neste domingo (12) ter encontrado uma nova embarcação na mesma região em que são realizadas as buscas. Os dois estão desaparecidos desde 5 de junho na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares. Horas depois, a PF confirmou a informação.

“O que a equipe de busca encontrou foi um possível local onde vestígios, observados na beira de barranco, apontam que uma embarcação poderia ter sido arrastada no local. Essa informação foi repassada às autoridades responsáveis pelas investigações e, por essa razão, o local foi isolado pelas autoridades competentes para que a busca e a perícia sejam realizadas”, diz o informe assinado pelo procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo.

Ainda segundo o comunicado, nas proximidades do local foi encontrada também uma embarcação que pode ser de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, detido para investigação. "A informação sobre a propriedade da embarcação ainda precisa ser confirmada pelos responsáveis pelas investigações", ressalta o documento.

::Como começou o conflito no Vale do Javari e por que os indígenas decidiram se defender::

Material genético encontrado

Na última sexta-feira (10), a Polícia Federal (PF) no Amazonas, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. Ainda não há informação se a amostra recolhida tem alguma relação com o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira.

O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal é quem vai realizar a análise pericial do material recolhido, como também fará a perícia em vestígios de sangue encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como “Pelado”.

Ele é suspeito de envolvimento no caso e teve a prisão temporária por 30 dias decretada na noite de quinta-feira (9) pela juíza plantonista Jacinta Santos, durante a audiência de custódia na Comarca de Atalaia do Norte (AM). O processo segue em segredo de justiça.

Além dessas perícias, serão analisados materiais genéticos coletados por investigadores de referência de Dom Phillips, em Salvador, e de Bruno Pereira, no Recife. As amostras serão utilizadas na análise comparativa com o sangue encontrado na embarcação.

:: Desaparecimento de Dom Philips e Bruno Pereira completa uma semana sem respostas ::

Suspeito preso

Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira (9).  Ele foi preso por porte e munição de uso restrito. 

Uma testemunha ouvida pelo Brasil de Fato afirmou que “Pelado”, como ele é conhecido, ameaçou os dois, um dia antes do desaparecimento. Segundo o relato, ele apontou duas armas para o grupo com o qual Pereira e Philips estavam e disse, “vocês vão levar tiros.”

“Nós chegamos à nossa base [de fiscalização], em frente a um lago de nome Jaburu. O senhor ‘Pelado’ passa beirando a nossa canoa com uma cartucheira de mais ou menos uns 30 cartuchos. Nós fizemos o vídeo e fizemos fotos. O repórter [Dom Philips] tirou foto e filmou. Todo o material estava em nossas mãos para tentar incriminar esse invasor”, contou a testemunha.

Manifestações

Neste domingo (12), manifestações pedindo agilidade nas buscas foram realizadas no Rio de Janeiro, em Salvador e em Belém. Dom Philips é casado com uma brasileira e reside na capital baiana. Os sogros dele e outros parentes da esposa vivem no Rio de Janeiro.

Além da presença de familiares e amigos, os protestos foram acompanhados por artistas, militantes e ativistas. 

No sábado (11), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) aprovou um pedido de medida cautelar cobrando ações urgentes sobre o caso. 

Phillips e Pereira não são vistos desde o último domingo (5), quando navegavam de uma comunidade ribeirinha até o município de Atalaia do Norte. O indigenista acompanhava o repórter, que apurava informação para um livro no qual estava trabalhando, com o título "Como Salvar a Amazônia".

Os moradores do Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, sofrem com intensas invasões, principalmente de pescadores ilegais, que lucram alto com peixes valorizados, como o Pirarucu. A carne é consumida nas cidades do entorno e contrabandeada para fora do país.


Com informações da Agência Brasil.

Edição: Vivian Virissimo