Bruno e Dom Phillips

Dom e Bruno Pereira: PF confirma confissão de suspeito e localização de restos humanos

Pescador teria admitido crimes; perícia confirmará identidades das vítimas

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

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O repórter Dom Philips (esquerda) e o indigenista Bruno Pereira (direita) - Divulgação/Funai

A Polícia Federal (PF) informou ter encontrado os corpos que podem ser do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista da Funai Bruno Pereira nesta quarta-feira (15), dez dias após a dupla ter desaparecido enquanto navegava no rio Itaquaí, nos limites da Terra Indígena (TI) Vale do Javari, no oeste do Amazonas.

Segundo a PF, os corpos estavam enterrados no meio da mata, na região de Atalaia do Norte. A localização foi indicada por dois pescadores detidos sob suspeita de envolvimento no crime, os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, preso ontem (14) pela força-tarefa que investiga o caso. 

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“Ontem à noite nós conseguimos que o primeiro preso neste caso, conhecido por Pelado, voluntariamente confessasse a prática criminosa. Durante a confissão ele narra com detalhes o crime realizado e aponta o local onde havia enterrado os corpos”, disse o superintendente regional da PF, Eduardo Fontes, em coletiva de imprensa.

“Nós não descartamos a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas. Temos muito o que fazer no inquérito para coletar seguramente provas de autoria e materialidade.”

O material coletado será periciado em Brasília, e apenas depois de concluído esse processo as identidades das vítimas podem ser confirmadas.  

Pouco antes da entrevista coletiva da PF em Manaus, o ministro da Justiça Anderson Torres afirmou pelo Twitter que “remanescentes humanos foram encontrados no local, onde estavam sendo feitas as escavações”. A informação foi divulgada sem mais detalhes. 

 

 

As vítimas

Pereira era servidor público licenciado da Funai e trabalhava em parceria com as lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari desde 2019. No mesmo ano, ele foi exonerado do cargo de chefe da unidade do órgão indigenista no Vale do Javari, após ter apoiado operações de combate ao garimpo ilegal. 

Phillips era um prestigiado repórter internacional que morava havia 15 anos no Brasil, primeiro em São Paulo, depois na Bahia. Ele trocou a cobertura do mundo da música, na Inglaterra, para se dedicar aos problemas socioambientais no Brasil, com colaborações recorrentes ao jornal britânico The Guardian

Antes do desaparecimento, Phillips foi levado por Pereira para fazer entrevistas com ribeirinhos e indígenas. O objetivo do repórter era conhecer de perto a realidade da região, onde os moradores sofrem com a pesca e a caça ilegais, o tráfico de drogas e o garimpo. 

Desde 2019, quando se licenciou da Funai, o indigenista atuava em parceria com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), conduzindo um programa de vigilância e monitoramento do território e fortalecendo a autodefesa dos indígenas. Por isso, vinha sendo alvo de ameaças de morte dias antes do desaparecimento. 

Reação

Leia abaixo, a declaração de Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips:

Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno. Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor.  

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível.

Agradeço o empenho de todos que se envolveram diretamente nas buscas, especialmente os indígenas e a Univaja. Agradeço também a todos aqueles que se mobilizaram mundo afora para cobrar respostas rápidas.

Só teremos paz quando as medidas necessárias forem tomadas para que tragédias como esta não se repitam jamais. Presto minha absoluta solidariedade com a Beatriz e toda a família do Bruno.

Buscas incansáveis e apelos contra omissão

A confirmação das mortes vem após um período de angústia para familiares e amigos das vítimas, até então consideradas desaparecidas. Ao longo de 11 dias, buscas incansáveis foram feitas pelos indígenas do Vale Javari. No domingo (12), a PF informou ter encontrado uma mochila com pertences de Bruno e Dom. 

No mesmo dia, a Univaja afirmou ter localizado um embarcação que pertenceria a "Pelado". Na sexta-feira (10), a PF informou ter localizado material orgânico “aparentemente humano” em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte, que foi enviado para a perícia em Manaus (AM). 

O governo federal enfrentou a pressão de dentro e fora do Brasil por mais emprenho nas buscas pela dupla. Organizações indígenas e indigenistas, além de familiares das vítimas, criticaram a demorar para a disponibilização de aeronaves, consideradas fundamentais para a rápida localização de Pereira e Phillips. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho