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Entidades indígenas e sociedade civil cobram investigações sobre mortes de Bruno e Dom

Indignação e cobrança de apuração marcam os posicionamentos, junto com o medo por quem fica no Vale do Javari

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Repeito pela luta de Bruno Andrade e Dom Phillips marca poscionamentos - Divulgação

Partidos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil manifestaram seu pesar pela perda das famílias do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, após a Polícia Federal (PF) ter localizado o que podem ser os seus corpos.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), entidade que acompanhou de perto as buscas, considerou como “perdas inestimáveis” as mortes dos dois e cobrou a continuidade das investigações tanto para elucidar o caso, que classificam como um “crime político”, quanto para garantir a proteção de outras pessoas ameaçadas da região. 

Na carta, a Univaja afirma que enviou ofícios ao Ministério Público Federal e à PF indicado a "composição de uma quadrilha de pescadores e caçadores profissionais, vinculados a narcotraficantes, que ingressam ilegalmente em nosso territórios para extrair nossos recursos naturais e vendê-los nos municípios vizinhos. Mas as providências não foram tomadas com a devida rapidez. Por isso, hoje assistimos ao assassinato de nossos parceiros”, afirma o texto. 

A entidade cobra a continuidade das investigações. "Pelado e Dos Santos fazem parte de um grupo maior, nós sabemos. Manifestamos preocupação com nossas vidas, a vida das pessoas ameaçadas (pois não era somente o Bruno Pereira), componentes do movimento indígena, quando as forças armadas e a imprensa se deslocarem de Atalaia do Norte. O que acontecerá conosco?", questiona a nota.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lembrou em nota a “atuação convicta” de Dom e Bruno em defesa dos povos indígenas, que lhes deu um “reconhecimento verdadeiro e uma estima extraordinária por parte dos povos indígenas, de seus aliados e de todas as pessoas de bem.” O texto cobra ainda que os assassinatos “sejam imediatamente apurados, alcançando todos os atores que lucram e participam dos esquemas de invasão e exploração ilegal na TI Vale do Javari. Exigimos, ainda, que sejam apuradas as responsabilidades políticas que permitiram a morte de Bruno e de Dom”. 

A Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Apib) manifestou sua solidariedade com as famílias e o "pesar e profunda tristeza " com a perda em sua conta no Twitter. "Nossa solidariedade às famílias daqueles que eram defensores dos povos indígenas, aliados das nossas lutas." 

 Terra do "vale-tudo"

Também na rede social, o perfil oficial do PSOL considerou o caso “um horror” e cobrou investigações sobre os mandantes do crime. “Baleados, esquartejados, incendiados e jogados na vala. É isso que teria acontecido com Dom Phillips e Bruno Pereira, disse o homem que confessou o crime, conforme a imprensa tem divulgado. Um horror! Ao se confirmar, a pergunta de quem mandou matá-los PRECISA ecoar pelo Brasil.”

Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) denuncia a omissão do Estado brasileiro m relação às ameaças sofridas por “funcionários da FUNAI, IBAMA, ONGs”, e destaca que os conflitos da região foram agravados “frente ao enfraquecimento da legislação ambiental, dos órgãos de fiscalização e do abandono dos órgãos de segurança em prover a adequada segurança aos trabalhadores e trabalhadoras responsáveis pelas respectivas áreas”. 

A ong ambientalista Greenpeace afirmou que nos últimos anos o país tem se configurado como "uma terra em que a única lei válida é a do 'vale-tudo'". "Vale a invasão e grilagem de territórios; vale a proliferação do garimpo; vale a extração ilegal de madeira; vale todo e qualquer conflito territorial… e vale matar para garantir que nenhuma dessas atividades criminosas sejam impedidas de acontecer. E tudo isso alimentado pelas ações e omissões do governo brasileiro. Quando quem busca advogar por um mundo mais verde, justo e pacífico tem sua vida colocada à prova, não restam dúvidas de que a nossa jovem democracia está em risco e se equilibra em uma corda bamba." 

Edição: Glauco Faria