Ronda Política

Lira reforça cortina de fumaça do governo na Petrobras, Bolsonaro aposta em Zé Trovão e mais

Artigo do presidente da Câmara apoia esforço do Planalto para fugir da responsabilidade sobre preço dos combustíveis

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O posicionamento de Arthur Lira se soma à conduta de Bolsonaro que vem construindo uma ofensiva contra a Petrobras - Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), falou em “abandonar à própria sorte” a Petrobras, com o objetivo de “tratar a companhia como outra empresa privada qualquer”, em artigo publicado neste domingo (19), na Folha de S. Paulo.  

"Sem nenhum tipo de regalia. Isso não significa punir. Mas ela não poderá mais fazer parte da ‘família’. A Petrobras não pode ser estatal quando lhe convém e privada e selvagem quando diz respeito aos seus lucros astronômicos — sobretudo quando os brasileiros mais vulneráveis mais precisam de apoio. Ou a Petrobras é uma coisa ou outra", disse.  

Lira ainda escreveu que a empresa foi "sequestrada por um presidente ilegítimo", em alusão a José Mauro Ferreira Coelho, que renunciou à presidência da estatal na manhã dessa segunda. Segundo Lira, Coelho praticaria "terrorismo corporativo" como uma forma de vingança contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). 


José Mauro Ferreira Coelho / Jefferson Rudy / Agência Senado

O posicionamento de Arthur Lira se soma à conduta de Bolsonaro que vem construindo uma ofensiva contra a Petrobras e o presidente da empresa, principalmente após o anúncio de reajuste da última sexta-feira (17) de 5,18% no litro da gasolina e de 14,26% no do diesel. 

No dia seguinte, o capitão reformado declarou que conversou com Arthur Lira sobre a possibilidade de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. "Na última sexta, com o anúncio do reajuste do preço dos combustíveis, a Petrobras perdeu R$ 30 bilhões em valor de mercado. Acredito que na segunda-feira, com a abertura da CPI, vai perder outros R$ 30 bilhões", disse durante um evento em uma igreja evangélica, em Manaus, no Amazonas.  

José Mauro Ferreira Coelho foi indicado pelo governo federal em abril deste ano para substituir Joaquim Silva e Luna no comando da Petrobras. Pouco depois, passou a servir de bode expiatório frente aos protestos contra os reajustes da empresa, com o objetivo de amenizar a responsabilidade do governo federal sobre a política de preços, diante da proximidade das eleições presidenciais deste ano.  

Hoje, no entanto, dos 11 membros que formam o Conselho da empresa, responsável por aprovar ou não os reajustes, seis foram indicados pelo governo Bolsonaro, já que o Estado é acionista maioritário.  

Bolsonaro aposta em Zé Trovão 

Além do esforço para isolar o presidente da Petrobras e se eximir da responsabilidade sobre a gestão da empresa, Bolsonaro recorreu ao caminhoneiro bolsonarista Zé Trovão na tentativa de impedir uma greve da categoria diante dos reajustes. 

O capitão reformado compartilhou em suas redes sociais um vídeo em que Marcos Antonio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, pede aos caminhoneiros que não entrem em greve nesta segunda-feira (20). 


Zé Trovão / Reprodução/Youtube

No vídeo, ele também pede que a categoria espere até a próxima segunda-feira, 27 de junho, para deliberar sobre uma greve, já que "Bolsonaro está fazendo tudo o que pode para conseguir viabilizar o transporte brasileiro". 

Entre as reivindicações da categoria, estão 25% de desconto no óleo diesel e 15% na gasolina e no álcool. "Se isso não acontecer, na semana que vem a gente vai fazer uma coisa organizada", disse Zé Trovão em vídeo. 

Reajuste também no cartão corporativo 

Entre janeiro e maio de 2022, a fatura média mensal do cartão corporativo do presidente Jair Bolsonaro atingiu R$ 1,2 milhão. Em 2021, o valor era de R$ 1,1 milhão. Em 2020, foram gastos uma média de R$ 862,1 mil por mês. E em 2019, a fatura era de R$ 736,6 mil, segundo uma reportagem da Folha de S. Paulo. 

O aumento recente, em período de pré-campanha, levou ao governo Bolsonaro bater recorde de despesas quando comparado aos seus antecessores. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) gastou R$ 960 mil por mês, em 2014. Já Michel Temer (MDB), quando chegou a ser pré-candidato, gastou R$ 560 mil em 2018.  

Fachin se reúne com militar 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realiza nesta segunda-feira (20) uma reunião conjunta da Comissão e do Observatório de Transparência Eleitoral, vinculados à Corte. A reunião será comandada pelo presidente do tribunal Luiz Edson Fachin e contará com a participação do representante das Forças Armadas na Comissão, o general Heber Garcia Portella. 

Na última sexta-feira (17), Fachin enviou ofício para o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que solicitou a reunião das Forças Armadas com as equipes técnicas do TSE. No documento, Fachin afirmou que quaisquer dúvidas poderão ser sanadas durante a reunião desta segunda-feira. 


Fachin conduzirá a presidência do TSE até 17 de agosto, quando assume o ministro Alexandre de Moraes / Nelson Jr./SCO/STF

O ministro do TSE aproveitou o ofício para tentar diminuir a tensão existente entre os poderes, depois dos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao processo eleitoral e a defesa contumaz da presença de militares na apuração dos votos. 

"Renovo o reconhecimento deste Tribunal não apenas pela contribuição das Forças Armadas no âmbito da Comissão, mas sobretudo pelo valioso suporte operacional e logístico prestado por elas em todas as últimas eleições", disse.  

Tarcísio de Freitas tenta se distanciar de Bolsonaro 

O publicitário da campanha do pré-candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), Pablo Nobel, informou que utilizará as cores verde e amarela em tons diferentes dos utilizados pela pré-candidatura do presidente Jair Bolsonaro. "Queremos mostrar que somos, sim, bolsonaristas, mas com nuances", disse Nobel.  

MPE denuncia Wellington Moura

O Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo denunciou o deputado estadual Wellington Moura (Republicanos) por violência de gênero contra a deputada estadual Monica Seixas (PSOL). A denúncia será analisada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). 

Na avaliação da procuradora regional eleitoral Paula Bajer, Moura tentou impedir e dificultar o "desempenho" do mandato de Seixas. "É inarredável a persecução penal de crime de violência política de gênero praticada por meio de palavras e expressões por parlamentar contra mulher detentora de mandato eletivo", disse Bajer. 


Deputado estadual Wellington Moura / Alesp

Seixas chegou a pedir a cassação do mandato de Moura, que é vice-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O parlamentar afirmou, em plenário, que colocaria um cabresto na boca da psolista. 

"Num momento que eu estava presidindo a sessão, ela [Monica Seixas] estava importunando o plenário [...] é o que vossa excelência faz. Sempre. Várias vezes. Mas num momento que eu estiver ali [presidindo a sessão], eu vou sempre colocar um cabresto na sua boca porque não vou permitir que vossa excelência perturbe a ordem", disse Moura a Seixas. 

Caso seja condenado, Moura poderá ser punido com uma pena de um a quadro anos de prisão, além de multa. 

Edição: Nicolau Soares