trabalho

Motoristas de ônibus de SP fazem assembleias e avaliam nova greve

Sindicato convocou assembleias para avaliar entraves na negociação e possibilidade de nova paralisação

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Motoristas e cobradores estão em campanha salarial há cerca de dois meses - Sindmotoristas

Duas semanas após uma paralisação que durou cerca de 15 horas, motoristas e cobradores de ônibus da capital paulista voltarão a se reunir nesta terça-feira (28) e podem dar início a uma nova greve, ainda sem data confirmada. A assembleia da categoria está marcada para 14h, em primeira convocação, e 16h, em segunda convocação.

Saiba mais: Motoristas de ônibus anunciam greve em SP a partir da meia-noite desta quarta

Os trabalhadores estão em campanha salarial há cerca de dois meses. A paralisação aconteceu no último dia 14 de junho e terminou após assinatura de um acordo entre o sindicato que representa a categoria, o Sindmotoristas, e as empresas. O acordo garantiu a principal reivindicação dos profissionais, reajuste de 12,47% retroativo à data base (1º de maio), e colocou um prazo de cinco dias úteis para que empresas e poder público apresentassem uma proposta para os demais itens reivindicados pela categoria.

"Com o reajuste garantido, debateremos outras questões que ainda estão pendentes, como o fim do horário de almoço não remunerado, PLR [participação nos lucros e resultados] e o pagamento de 100% das horas extras", disse na ocasião o presidente em exercício do Sindmotoristas, Valmir Santana da Paz, conhecido como Sorriso. 

Garantir empregos

A negociação entre motoristas e cobradores com as empresas de ônibus de São Paulo é marcada pelo contexto da pandemia no Brasil. Em 2020, logo após o início da pandemia de covid-19, a categoria enfrentou uma campanha salarial em um cenário muito adverso.

Com a quarentena e avanço do trabalho remoto, a circulação de passageiros caiu drasticamente, em todo Brasil. Um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres apontava a perda de 70 mil postos de trabalho somente entre os trabalhadores do transporte público urbano e metropolitano de passageiros até fevereiro de 2021. 

Apenas na cidade de São Paulo, as empresas de ônibus falaram em até 5 mil demissões. Nesse contexto, o sindicato atuou para evitar os desligamentos e aceitou a redução de valor ou suspensão de diversos itens da convenção coletiva. 

“Tivemos que entrar na justiça para obrigar as empresas a fornecer máscara e álcool em gel. Também lutamos contra a redução da frota que as empresas queriam e que iria colocar a população em risco, fizemos a luta para voltar a frota circulante antes”, relembra Nailton Francisco de Souza, diretor executivo do Setor dos Trabalhadores de Manutenção do Sindmotoristas.

Recuperar direitos

Um exemplo diz respeito à jornada de trabalho da categoria. Nailton explica que motoristas e cobradores têm uma jornada de 7 horas e 10 minutos, aí incluída uma pausa remunerada de 30 minutos para almoço. No entanto, no contexto da pandemia, essa pausa foi retirada, reduzindo a jornada total para 6h40 – e os salários, na mesma proporção. Segundo Nailton, a perda salarial chega a R$ 600 por mês para motoristas e R$ 400 para cobradores. Os trabalhadores reivindicam o retorno ao modelo anterior. 

Também no contexto da pandemia, foi feito acordo para o não pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), uma vez que o setor enfrentava perdas. Agora, os trabalhadores cobram um valor de R$ 2.500, a ser pago linearmente para todos os funcionários - a última PLR recebida foi em 2019, com valor de R$ 2000 pagos em duas vezes. 

“O sindicato deu a sua contribuição. Entendemos as dificuldades, tivemos o bom senso de entender essa situação, imaginando que as empresas fariam o mesmo quando a situação voltasse ao normal. Esperamos que as empresas tenham o mínimo de racionalidade”, sustenta. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho