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Sem-terra gay é assassinado em assentamento na Paraíba; MST denuncia crime de homofobia

Suzy vivia há 9 anos no pré-assentamento Vanderlei Caixe, em Pedras do Fogo

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |

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Foto de Suzy inclusa no livro de comemoração aos 5 anos do Coletivo LGBT Sem Terra - Foto: Rafael Stedile

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciou, nesta segunda-feira (4), o assassinato do militante gay sem-terra Severino Bernardo da Silva, a Suzy, residente do pré-Assentamento Vanderlei Caixe, localizado no município de Pedras de Fogo, na Paraíba.

O corpo de Suzy, que morava no local há nove anos, foi encontrado pelos vizinhos às 5h da manhã, ao lado da casa onde vivia só. O corpo continha sinais de violência, golpes de facão, faca e perfurações de um escavador.

A polícia de Pedras de Fogo foi ao local para dar início às investigações. A linha de investigação assumida pelo delegado do caso é de crime de homofobia. 

Em nota, o MST informa que Suzy participava assiduamente das atividades do movimento e tinha o sonho de tornar-se assentada da reforma agrária. Em seu pedaço de terra, cultivava macaxeira, batata-doce, inhame, abacaxi, mamão, maracujá, banana e abacate.

Para Alessandro Mariano, do Coletivo Nacional LGBT do MST, trata-se de um crime de ódio.

 "Nenhum ser humano merece o que aconteceu com a Suzy. Na verdade, isso só reforça a importância de movimentos sociais como o MST fazerem a luta contra a LGBTfobia, que segue violentando muitas LGBTs que vivem no campo, mas também que assassinam, que tiram vidas e sonhos. Na verdade, estamos muito sentidos, e agora espera-se que a Justiça, que a polícia possa fazer investigações e, de fato, punir quem fez isso", declara ele.

Max Castelo Branco, da Direção Estadual e Coletivo LGBT Sem Terra, conversou com o Brasil de Fato PB sobre o crime:

Brasil de Fato PB: Como é que vocês, a população LGBTQIA+ do MST, receberam a notícia da morte de Suzy?

Max Castelo Branco: É muito doloroso saber que a gente não garantiu um espaço tranquilo, onde a pessoa pudesse viver a sua identidade, viver para amar e ser feliz, porque nós conseguimos garantir dentro do nosso território, mas para fora não.

Como se fosse assim: dentro de casa eu tô seguro, mas quando eu boto o pé na rua, eu tenho que me preparar para tudo o que vem. Então, dentro do nosso território, hoje, nós já podemos garantir segurança, mas para fora é um absurdo, e nós não queremos uma ilha para proteger os LGBT.

Como é ser LGBTQIA+, no MST, hoje em dia? 

Max: Dentro do MST conseguimos a nossa visibilidade, como cidadãos, como ser político de luta, esse reconhecimento pela nossa identidade, o respeito pela diversidade dentro do movimento. Então, o MST avançou muito nesse processo de debate, estudo, discussão e o reconhecimento do Coletivo, do sujeito de luta LGBT dentro da construção do movimento.

Tanto é que (o movimento) mudou as suas regras, suas diretrizes, incluindo essa população como sujeito de luta. Mas é claro que nós temos uma tarefa importante, que é dar continuidade ao trabalho de base nessa perspectiva da acolhida desses cidadãos dentro dos nossos territórios. Na construção desse território livre de homofobia, não só livre do veneno, não só pensando no princípio da produção da alimentação saudável, mas do respeito à vida, do respeito à diversidade, desse colorido que é a vida, que é a diversidade.

Então são desafios, mas a gente avançou muito comparado ao que a gente já viveu dentro do movimento, de repressões e punições por dirigentes machistas e misóginos.

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Maria Franco