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Sementes de Chico Mendes, quintais produtivos geram renda e recuperam florestas desmatadas

Famílias que vivem na Reserva Extrativista Chico Mendes usam técnica para gerar renda e segurança alimentar

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A inclusão dos quintais florestais nas políticas de desenvolvimento municipal de Xapuri constroem o legado de Chico Mendes no Acre - Resex
É o trabalho de recuperar, né? Aquelas áreas que foram desmatadas, que foram para uso de roçados

Fortalecer práticas agroecológicas e da agricultura familiar, garantindo alimentos de qualidade e geração. E ainda favorecer a recuperação florestal. Essa é a proposta dos quintais produtivos, política implementada em Xapuri, no Acre, que são a germinação de sementes deixadas pelo líder extrativista Chico Mendes. 

A produção garante alimentos de qualidade a toda a população da cidade, sendo importante fonte de renda para as mulheres, como explica Gabriela Souza, consultora estadual da Agroecologia nos Municípios (AC). 

"Esses quintais dentro dos pólos agroflorestais são responsáveis por abastecer a feira municipal, então abastece toda a cidade de Xapuri. E mais do que abastecer a cidade, 80% dessa produção é feita pelas mulheres produtoras", relata Gabriela. 

O projeto é realizado nos Polos Agroflorestais, uma modalidade de assentamento rural criado no Acre no qual se incentiva a adoção de sistemas de produção que envolvem a associação de frutas nativas e espécies florestais, com eventual intercalação de culturas anuais alimentares e ocasional complementação do criatório de animais. 

Extrativista e Secretária municipal de Floresta e Agricultura do município de Xapuri (AC), Leide Aquino, destaca que o trabalho é feito com diversificação de espécies frutíferas e lenheiras. “É o trabalho de recuperar, né? Aquelas áreas que foram desmatadas, que foram para uso de roçados, né? E que eles recuperam exatamente com essas culturas mais permanentes, como as frutíferas, e também madeiras mesmo, como a própria seringueira, a própria castanheira, e outras espécies madeireiras florestais”, explicou.  

Leide também destaca a importância do reconhecimento do papel das mulheres nessa produção e na preservação ambiental. “Essas mulheres já produzem e abastecem o município, comercializam inclusive para fora do município, mas não tem isso reconhecido. Nem pela associação, nem pela cooperativa, nem pela própria prefeitura. E o que a gente quer é potencializar ainda mais. Tanto esses espaços, como territórios produtivos, como também o incremento da questão ambiental, já que o nosso município tem essa vocação fortemente, por termos uma reserva extrativista que contempla quase setenta por cento do território rural”, detalhou.  

A inclusão dos quintais produtivos no plano municipal de Xapuri surgiu de uma iniciativa da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), promotora do projeto Agroecologia nos Municípios, iniciado no ano passado. A ideia está presente em 26 estados brasileiros e busca criar uma rede de municípios agroecológicos. Entre os principais parceiros na construção desse processo, está o Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (STTR), palco das muitas lutas de Chico Mendes. 

“Nós precisávamos também de outros atores e quais são os atores principais: o movimento de base. E o sindicato é um movimento de base que sempre esteve presente, que está presente desde lá do Chico ainda vivo, depois do assassinato do Chico continua presente e é referência para o mundo inteiro, para o Brasil inteiro com a sua forma de organização e tudo mais”, explica Gabriela.  

A implementação dos quintais produtivos como política pública é um passo importante em um estado cuja história é marcada pela luta popular em defesa da floresta amazônica. A partir dos anos 1970, a mobilização de lideranças comunitárias, organizações e movimentos socioambientais se tornou referência mundial. 

O grande líder desta causa, o ambientalista Chico Mendes, foi assassinado por fazendeiros na cidade de Xapuri, em 1988. Sua luta culminou na criação do conceito de reserva extrativista, uma nova política de proteção aos direitos coletivos das comunidades tradicionais. Quase a metade do território do Acre hoje são áreas protegidas, como Terras Indígenas demarcadas e Unidades de Conservação. 

Edição: Rodrigo Gomes