"Isso é apartheid"

Movimentos populares protestam na Palestina ocupada contra visita de Joe Biden a Israel

Ativistas denunciam papel dos EUA e cobram mudança das políticas de apoio a Israel

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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"Senhor presidente, isso é apartheid', diz outdoor posto em Jerusalém por movimento de direitos humanos das zonas palestinas ocupadas por Israel - Agência Wafa

Centenas de palestinos se manifestaram nesta quinta-feira (14) contra a visita do presidente dos EUA, Joe Biden, à Israel. Com cartazes e faixas espalhadas em Jerusalém e outras regiões ocupadas da Palestina, denunciam o apartheid aplicado por Israel. 

Em viagem pelo Oriente Médio, após a reunião com o primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, realizado nesta quinta, o presidente dos EUA deve encontrar-se com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), na sexta-feira (15), em Bethlehem (Belém), na Cisjordânia.

"Biden não é bem vindo à Palestina" e "Não às políticas estadunidenses" expressaram os manifestantes em cartazes.

O Centro de Informação Israelense para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados (B’Tselem) também se somou aos protestos contra a visita do presidente dos EUA. "Washington deve reconhecer que a área ocupada entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo está governada por um regime de apartheid e, diante disso, deve mudar sua atitude em relação à Israel", afirmam em comunicado

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) pediu que Abbas suspenda sua reunião com Biden. O porta-voz do Movimento de Resistência Islâmica Palestina (Hamas), Hazem Qasem, também afirmou que o objetivo da viagem de Biden é aumentar a produção de petróleo e aproximar os laços entre Israel e Arábia Saudita. 

"A visita do presidente estadunidense só servirá aos interesses israelenses em detrimento da causa palestina", disse Qasem. 

Em resposta, o assessor do presidente da ANP, Nabil Amr, disse "não esperamos um abraço cálido como o que Biden dará nos israelenses".


"Biden não é bem-vindo na Palestina", diz cartaz de manifestantes no centro de Ramallah / Zaid Ataya / Centro de Informação Palestina

No dia 14 de maio de 1948, o estado de Israel foi fundado, o que fez com que 750 mil palestinos fossem expulsos pelas tropas israelenses e tivessem que fugir de suas casas para países vizinhos ou outras regiões da própria Palestina. De lá pra cá, a política de ocupação ilegal do território palestino só se intensificou. A Agência de Refugiados Palestinos das Nações Unidas (Unrwa - siglas em inglês), afirma que hoje existem 5,4 milhões de palestinos refugiados no mundo.

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Na última Conferência sobre Crianças e Conflitos Armados das Nações Unidas, realizada na quarta-feira (13), o secretário geral do organismo, António Guterres, revelou que, somente em 2021, o exército de Israel matou 78 crianças palestinas, mutilou 982 e prendeu outras 637.

Guterres pediu que "Israel investigue todos os casos em que munição real foi usada", pois reconheceu pela primeira vez que "há uma falta sistemática de responsabilidade pelas violações israelenses contra crianças palestinas".

O relatório ainda apontou que 16 mil crianças palestinas foram vítimas de algum tipo de violação, como sequestro, violência sexual ou tiveram o acesso negado a hospitais e escolas pela ação dos militares israelenses.


Biden se comprometeu a aumentar em US$ 1 bilhão a cooperação militar com Israel após encontro com o premiê Yair Lapid, nesta quinta-feira (14) / Gil Cohen Magen / AFP

Biden e Lapid

Durante a reunião com o premiê israelense, Joe Biden defendeu a existência de dois Estados como solução para o conflito. "Israel deve continuar sendo um Estado judeu, independente e democrático", disse o chefe da Casa Branca.

Ambos países já possuem um acordo de cooperação militar no valor de U$ 38 bilhões (cerca de R$ 206 bilhões). Agora os EUA se comprometem a extrapolar esse orçamento em até US$ 1 bilhão.

Na declaração conjunta, assinada ao final do encontro, ressaltam o "compromisso inabalável dos EUA com a segurança de Israel, e especialmente com a manutenção de sua vantagem militar qualitativa".

Os EUA afirmam que não irão permitir que o Irã desenvolva seu programa nuclear e irão "trabalhar em conjunto com outros parceiros para enfrentar a agressão e as atividades desestabilizadoras do Irã, sejam estas executadas diretamente ou por meio de representantes e organizações terroristas como Hezbollah, Hamas e Jihad Islâmica Palestina".

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Biden também reuniu-se com o ex-primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu, hoje na oposição ao governo, para debater o que classificaram como o "problema nuclear iraniano". 

Netanyahu defendeu que "sem uma opção militar confiável será impossível deter o Irã" e ainda disse que as sanções econômicas não eram suficientes. Para ele, seria necessária uma "ofensiva militar". O ex-premiê declarou à imprensa local que Biden estaria de acordo com sua posição. 

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, respondeu à declaração, afirmando que "os esforços estadunidenses não irão garantir a segurança dos sionistas de nenhuma maneira" e destacou o apoio da China e dos países europeus signatários do Pacto Nuclear (Alemanha, França, Rússia, Reino Unido) para uma retomada das negociações. O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA - siglas em inglês) foi assinado em 2015 e estabeleceu mecanismos de controle ao desenvolvimento nuclear de Teerã em troca da suspensão das sanções aplicadas contra a economia do país.

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Durante a administração Trump, os EUA romperam de maneira unilateral o acordo e o Irã voltou a enriquecer urânio. 

Depois de visitar a Cisjordânia, Biden segue para a Arábia Saudita, onde finaliza sua viagem, no dia 16 de julho, sábado. Lá ele participará do encontro entre os países do Golfo Pérsico e buscará selar um acordo de livre acesso para aviões militares de Israel ao espaço aéreo do país árabe. 

*Com informação de Hispantv, Prensa Latina e Agência WAFA

Edição: Arturo Hartmann