Sopa de letrinhas

Ômicron, BA.1, BA.5? Entenda o balaio de informações sobre as novas variantes do coronavírus

Linhagens causam novas ondas de reinfecções no planeta, mas cuidados seguem os mesmos: vacina, máscara e distanciamento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula (azul) fortemente infectada com partículas do vírus SARS-CoV-2 (verde), isolada de uma amostra de paciente. - NIAID

Dados recentes divulgados pela Rede Genômica Fiocruz alertam para a possibilidade de uma nova onda de reinfecções causada por duas linhagens da variante Ômicron no Brasil.

Ao mesmo tempo, autoridades em saúde do mundo todo estão de sobreaviso para uma variante identificada inicialmente na Índia e que já está presente em mais de dez países. 

Sobram notícias sobre a possibilidade de que essas cepas possam ser responsáveis por uma piora global na propagação do coronavírus. Na sopa de letrinhas, fica difícil entender quais são os riscos reais e o que recomendam as autoridades de saúde do mundo todo. 

A reportagem do Brasil de Fato buscou as respostas para algumas perguntas básicas sobre o cenário atual da pandemia.

A ciência realmente descobriu a variante mais grave do coronavírus recentemente?

As linhagens do coronavírus que mais têm tomado as manchetes dos jornais e os debates nas redes sociais são a BA.5 e a BA 2.75, ambas mutações da Ômicron. Não é possível afirmar com certeza que nenhuma das duas sejam as piores cepas já identificadas ao longo da pandemia.

No entanto, há sinais que realmente indicam uma propagação mais acelerada, principalmente no caso da BA.5.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de covid-19 relatados entre a última semana de junho e a primeira semana de julho aumentaram em 30% no mundo todo. Parte considerável desse avanço foi impulsionada pela linhagem BA.5 e também pela BA.4, também da família da Ômicron.

A OMS alerta para o impacto sobre os sistemas de saúde em várias regiões do planeta. Há preocupação também com mudanças recentes nas políticas de testagem dos países, o que aumenta as suspeitas de subnotificação. 

Nesta semana, o diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Michael J. Ryan, chamou atenção também para redução significativa no sequenciamento do vírus e para o fato de que diagnósticos, tratamentos e vacinas não estão sendo implantados de forma eficaz. 

"O vírus está circulando livremente e os países não estão gerenciando efetivamente a carga da doença com base em sua capacidade, tanto em termos de hospitalização para casos agudos quanto no número crescente de pessoas com condição pós-covid-19 . Há uma grande desconexão na percepção de risco do COVID-19 entre comunidades científicas, líderes políticos e o público em geral", destacou Ryan.

Foi identificada uma variante mais transmissível na Índia que está causando temor às autoridades de saúde?

A linhagem BA 2.75, observada inicialmente na Índia, causa preocupações às autoridades de saúde da mesma forma que qualquer mudança no coronavírus quando identificada. Embora já tenha sido registrada em pelo menos dez países, a OMS afirma que ainda é cedo para saber se há maior risco de transmissibilidade.

De acordo com a cientista-chefe da organização, Soumya Swaminathan,  não há sequenciamentos genéticos realizados em volume suficiente para tirar conclusões sobre a capacidade de propagação ou severidade da BA.2.75.

Em material divulgado pela OMS, Swaminatha explicou que a subvariante parece ter mutações nos componentes que se conectam às células humanas que demandam atenção, mas ainda não está incluída na lista de variantes de preocupação.

"A qualquer momento, se houver emergência de um vírus que pareça diferente o suficiente de um anterior, para ser chamado de uma variante de preocupação, o comitê vai fazer isso", ressaltou.

Quais são as subvariantes em circulação no Brasil?

De acordo com a Rede Genômica Fiocruz, o Brasil vive tendência crescente de presença da BA.4 e da BA.5, o que pode levar a uma nova onda de reinfecções. O informe mais recente do grupo indica uma mudança na dinâmica da pandemia em território nacional com maior detecção dessa duas linhagens.

Em 81 casos de reinfecção avaliados entre 16 a 30 de junho, 68 estavam associados à Ômicron, incluindo pessoas contaminadas duas vezes por linhagens distintas. 

"Casos de reinfecção pelo Sars-CoV-2 podem ocorrer com frequência, especialmente quando uma variante antigenicamente muito diferente começa a circular (...) algo similar pode ser esperado neste momento, com a crescente circulação das variantes BA. 4 BA. 5, que são bem distintas da BA. 1 e da BA. 2, que dominaram o cenário epidemiológico brasileiro no primeiro semestre deste ano", explica texto divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

Se for confirmada a predominância dessas subvariantes no Brasil, o país seguirá a tendência observada em mais de 80 nações, segundo a Organização Mundial da Saúde. Países do continente Europeu, da Ásia e da América do Norte já notam crescimento de casos impulsionado pela presença da BA.5. 

Como posso me proteger

A boa notícia em relação à descoberta de novas subvariantes do coronavírus é que as medidas de combate ao agravamento do cenário já são conhecidas. As mais básicas são o uso de máscara e a imunização. 

Ainda que as linhagens causem infecções em quem já recebeu a vacina ou pegou a covid-19 recentemente, os óbitos não acontecem no ritmo observado em outros momentos de propagação intensificada. Isso indica que a imunização surte efeito para evitar mortes e casos graves.

Nesta semana, o Ministério da Saúde (MS) divulgou que mais de 21,5 milhões de pessoas que já tomaram a primeira dose devem procurar os postos de saúde para receber o reforço da vacina. Entre a população  de 18 e 29 anos de idade são mais de 5,4 milhões nessa situação.

As medidas de quarentena e as regras de distanciamento social, deixadas de lado por boa parte das nações, ainda podem pesar muito no controle da propagação. Com a impossibilidade de ficar em casa, a população deve evitar aglomerações em geral, principalmente em locais fechados. 

O Ministério da Saúde mantém no ar as orientações para medidas não farmacológicas de controle da pandemia. Além do distanciamento e do uso de máscara, a pasta lista etiqueta respiratória, higienização das mãos, limpeza e desinfeção de ambientes, isolamento de casos suspeitos e confirmados e quarentena dos contatos dos casos de covid-19.
 

Edição: Thalita Pires