A capa do Correio do Povo, um dos mais tradicionais do Rio Grande do Sul, virou motivo de debate nas redes sociais. Nesta terça-feira (19), sua manchete é “A diplomatas, Bolsonaro critica o sistema eleitoral”. Não há foto do presidente ilustrando a matéria que trata da reunião com embaixadores para criticar a segurança das urnas eletrônicas. Mas logo abaixo da manchete, o jornal abriu uma foto que domina a página e tendo em primeiro plano uma imensa cabeça de vaca.
É uma matéria sobre abigeato – roubo de gado – onde os animais estavam sendo conduzidos dentro de uma camionete Kombi. Mas houve leitores que entenderam a solução gráfica da capa como uma referência, possivelmente inadvertida, ao presidente e aos seus admiradores apelidados “gado” pelos adversários políticos. Virou pretexto para ilações e piadas. A estranheza foi ainda maior já que o Correio do Povo integra o grupo Record, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus, dirigida pelo pastor Edir Macedo, sabidamente aliado de Bolsonaro.
Capa do jornal Correio do Povo desta terça ganhou destaque nas redes sociais / Reprodução
“Pecha que é senso comum”
O editor do Correio do Povo foi lacônico na resposta ao pedido de um comentário. “Não pretendíamos qualquer repercussão além das próprias notícias isoladas. E prefiro não falar sobre outras interpretações, equivocadas”, disse Telmo Flor. O professor de jornalismo e ex-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, comenta que “sem querer ser injusto acho que a foto foi colocada ali por engano ou erro”. Mas acrescentou: “De qualquer maneira, a repercussão dá conta de uma percepção que está arraigada na opinião pública: o gado bolsonarista não se livrará desta pecha que é senso comum”.
Também editor do jornal virtual de humor Grifo, Schröder entende que “a capa do Correio, intencionalmente ou não, entra para o anedotário do jornalismo gaúcho e brasileiro”.
O Correio do Povo é um dos mais antigos diários do Brasil. Foi fundado em 1 de outubro de 1895 pelo jornalista Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior. Durante nove décadas permaneceu sob controle da família do seu fundador. O último da estirpe foi o jornalista Breno Caldas. Até 1984, funcionou como porta-voz informal das elites gaúchas, sobretudo aquelas do setor agropecuário. Depois, foi adquirido pelo plantador de soja Renato Bastos Ribeiro que, em 2007, repassaria o controle da empresa, que ainda inclui as rádios Guaíba AM e FM e a TV Guaíba, ao grupo Record.
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