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eleições 2022

Lula declara apoio a Danilo Cabral e fortalece aliança com PSB durante ato em Garanhuns

Visita do líder petista a Pernambuco também tem o objetivo de fortalecer candidatura de Teresa Leitão (PT)

Brasil de Fato | Recife (PE) |
No início do evento, nomes de figuras públicas do PSB foram vaiados, mas situação foi contornada - Comunicação PSB

O ato político no fim da manhã e início da tarde desta quarta-feira (20), em Garanhuns, foi o primeiro evento público em que o ex-presidente Lula (PT) e o deputado federal Danilo Cabral (PSB) estiveram juntos diante de milhares de pernambucanos. No estado, PT e PSB têm uma relação conturbada, de brigas e alianças, há pelo menos 16 anos. Parte do eleitor do PT rejeita os socialistas, mas os partidos estão unidos na disputa deste ano e apostam as fichas no poder de Lula para convencer o eleitor a votar no PSB.

Quando a locutora anunciou a composição do palco, o público vaiou os nomes do governador Paulo Câmara (PSB) e do prefeito do Recife, João Campos (PSB). O deputado federal e pré-candidato ao governo Danilo Cabral (PSB) teve recepção dividida, com vaias e aplausos, seguido de gritos favoráveis ao socialista por parte do público. Por volta das 12h30, Lula entrou no palco já segurando a mão de Danilo Cabral (PSB), blindando o aliado contra vaias e levando o pré-candidato ao governo em direção da plateia. O movimento foi seguido por Teresa Leitão (PT), Humberto Costa (PT), Luciana Santos (PCdoB), Paulo Câmara (PSB) e Geraldo Alckmin (PSB).

Apesar das expectativas depositadas pela Frente Popular, a afirmação de apoio de Lula para Danilo foi protocolar. “Eu vim aqui para dizer uma frase: eu tenho candidato a governador no estado de Pernambuco, que é o companheiro Danilo Cabral”, disse. E emendou. “Eu não confundo minha relação pessoal com a minha relação política”, em referência à boa relação que mantém com a ex-petista Marília Arraes (agora no Solidariedade), que também é pré-candidata ao Governo do Estado. Lula afirmou que eleger Danilo é necessário para “criar base, construir uma coalizão”. 

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Como Marília, Danilo e demais deputados pernambucanos votaram questões importantes em Brasília?

Marília Arraes (SD) já enviou curta nota para a imprensa dizendo que não vai se posicionar, mas afirmando que “lamenta que o PSB submeta o presidente Lula a tamanho constrangimento em Pernambuco”, citando ainda suposto “apelo popular” ao seu nome durante o evento.

Ainda na tarde desta quarta, Lula vai a Serra Talhada, onde participa de ato público a partir das 17h na antiga Estação Ferroviária do município. Em seguida o petista retorna ao Recife. Na manhã desta quinta, Lula participa de encontro fechado com artistas e produtores culturais no Teatro do Parque. Em seguida almoça na casa de Danilo Cabral (PSB) e, no fim da tarde, novo ato público, agora no Chevrolet Hall, a partir das 17h.

Emperrado abaixo dos 10% e precisando fidelizar o eleitor lulista, que tem se inclinado a votar em Marília Arraes (SD), Danilo Cabral iniciou seu discurso saudando os movimentos populares, sindicatos, os povos indígenas e cumprimentando nominalmente os petistas presentes no palco. Cabral afirmou que a chapa encabeçada por ele é a que tem “compromisso histórico de defesa da democracia”. “Qual é a chapa que tem a cara da educação, dos povos indígenas, do MST, dos trabalhadores rurais, da ciência, a cara do interior?!”, diz ele, que é natural de Surubim.

Danilo comemorou a confirmação do nome da atual vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) para se candidatar novamente a vice. “É importante ter uma chapa que fale para a política e que dê nitidez sobre o pensamento que nós representamos”, disse ele, afirmando confiança na vitória eleitoral.

Chapa de Lula x "Chapa dos Ressentidos"


Frente Popular tem Danilo Cabral (PSB) para governador, Luciana Santos (PCdoB) na vice e Teresa Leitão (PT) para o Senado / Comunicação PT

O socialista também disparou contra a líder nas pesquisas, Marília Arraes, com quem disputa a imagem de Lula. Ele acusou a ex-petista de montar uma “chapa de ressentidos”, já que além dela, que não conseguiu ser candidata ao governo pelo PT, o grupo tem ainda André de Paula (PSD), que não foi escolhido pela Frente Popular como candidato ao Senado. “Aqui não tem ajuntamento de projetos pessoais de ressentidos. Aqui tem um projeto político, um time que tem história e tem lado”, disparou.

Em 2018, a candidatura de Paulo Câmara (PSB), apesar da baixa popularidade, conseguiu vencer a disputa no 1º turno ao “grudar” nos adversários a pecha de “Time do Temer”.

Danilo também citou as mudanças de partido de Marília. “Aprendi que as pessoas têm que ter lado na política. Conheci Luciana Santos nos movimentos estudantis da universidade e ela já era do PCdoB. Teresa Leitão sempre foi do PT. E eu sempre fui, há 32 anos, filiado ao PSB”, comparou. Marília começou a carreira no PSB e, por divergências com Eduardo Campos (em 2014), Geraldo Julio e Paulo Câmara, deixou o partido e ingressou no PT (em 2016). E novamente por divergências, deixou o PT este ano e ingressou no Solidariedade, onde é “dona” da sigla.

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André de Paula confirma chapa com Marília Arraes, que defende “experiência” em voto para Senado

Ciente das vaias que seu nome recebera minutos antes, Danilo Cabral cumprimentou os contrários à sua candidatura. “Cumprimento a todos nessa plateia, inclusive os que discordam da gente, porque temos que valorizar a democracia”, disse ele, sendo aplaudido de imediato por parte do público. “Estamos aqui para respeitar os diferentes, valorizar a liberdade de as pessoas expressarem sua opinião”, disse ele, buscando simpatia.

O pré-candidato do PSB também mencionou o crescimento da fome, do desemprego e da violência contra mulheres, povos indígenas e imprensa, afirmando Lula como solução. “Quem vai devolver o Brasil ao brasileiro é este filho do Agreste, porque o povo conhece a história dele”, disse.

Gafe

A deputada estadual Teresa Leitão (PT), pré-candidata ao Senado, já no início de seu discurso, foi saudar as co-vereadoras Marília Ferro e Fernanda Limão, do mandato coletivo do PT em Garanhuns. Mas soltou um “Marília Arr...”, freou, engasgou, e repetiu várias vezes “Marília Ferro, Marília Ferro”, com gargalhadas do público. Teresa emendou um discurso sobre fidelidade partidária, aproveitando a ocasião para bater tanto em Marília Arraes como na outra co-vereadora do mandato, Fany Bernal, que decidiu apoiar Arraes e acabou expulsa do PT.


Mais famosa que muito candidato, a "toalha de Lula" estava à venda em Garanhuns, ao lado da bandeira do Brasil / Reprodução

Sem acesso

Foi dito que não haveria controle de entrada de apoiadores de outras candidaturas, o que poderia facilitar vaias organizadas. Mas a co-vereadora Fany Bernal, do mandato do PT em Garanhuns, foi impedida. Ela estava do lado de fora do evento com um megafone e distribuindo material de Marília Arraes. Já as outras duas integrantes do mandato coletivo, Marília Ferro e Fernanda Limão, foram até saudadas no palco.

Recentemente ela foi expulsa do PT por declarar apoio à candidatura de Marília ao Governo do Estado. Bernal também está comprometida com uma candidatura do Solidariedade para a Câmara Federal: trata-se de Maria Arraes, irmã de Marília.

Lideranças de outras chapas que também apoiam Lula, como as candidaturas de Marília Arraes (SD) e de João Arnaldo (PSOL), não participaram do evento, que foi voltado para a chapa da Frente Popular, aliança que o PT voltou a integrar no estado.

Defesa do PSB

O ex-deputado Silvio Costa, que será candidato como suplente de senador com Teresa Leitão (PT), fez um discurso em defesa de Danilo Cabral (PSB) e Paulo Câmara (PSB), afirmando que os anos de sua gestão no estado teriam sido prejudicados por uma “perseguição” do Governo Federal. Em seguida, Paulo Câmara foi chamado a discursar sob aplausos de parte do público. “Em Pernambuco estamos prontos para rodar o estado pedindo votos para o maior presidente que o Brasil já teve”, garantiu.


PSB espera reverter rejeição de petistas ao nome de Danilo Cabral / Comunicação PSB

Luciana Santos (PCdoB), vice-governadora e que será candidata novamente a vice, também defendeu Câmara. “Fui testemunha, governador Paulo Câmara (PSB), que você passou um dos piores momentos do Brasil – e você deixou Pernambuco de pé”, disse a comunista. Humberto Costa (PT) lembrou as parcerias de Lula na Presidência com Eduardo Campos (PSB) no governo. “Deu certo porque Eduardo era experiente e tinha política na cabeça, assim como Danilo Cabral”, afirmou Humberto, apontando Cabral como “o candidato das forças populares e de esquerda” em Pernambuco.

João Campos (PSB) afirmou que sua geração “nunca viu algo tão desafiador como o momento que estamos vivendo. (...) Unidade é a palavra de ordem”, disse ele se referindo às ameaças antidemocráticas. Campos também destacou que Danilo e Teresa têm em comum os anos dedicados à pauta da educação pública, Danilo como secretário estadual e Teresa como professora, sindicalista e parlamentar.

Movimentos, sindicatos e indígenas

Enquanto Lula ainda estava em Caetés, visitando a casa em que viveu seus primeiros anos de vida, por volta das 10h30, em Garanhuns teve início uma série de falas de lideranças do Movimento Negro Unificado (MNU), Central Única dos Trabalhadores (CUT-PE), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Juventude do PT (JPT), lideranças da luta LGBT, os deputados federais Renildo Calheiros (PCdoB) e Tadeu Alencar (PSB), o deputado estadual Doriel Barros (PT), além de poetas pernambucanas e garanhuenses.

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Destaque para a fala do presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Rocha, que fez questão de afirmar o apoio à candidatura de Danilo Cabral (PSB). “Não cabe você ter votado durante toda sua carreira política contra a classe trabalhadora, ter votado a favor da reforma trabalhista e da previdência, e agora dar uma de bonzinho”, disse ele, em indireta para André de Paula (PSD) e Severino Oliveira (Avante), respectivamente pré-candidatos a senador e vice-governador na chapa de Marília Arraes (SD).

Em seguida emendou que “Danilo votou em tudo a favor da gente”, mencionando ainda os constituintes Ulysses Guimarães (MDB) e Teotônio Vilela (PSDB) como políticos que teriam errado ao apoiar o golpe de 1964, mas que foram importantes para derrubar o regime militar. “As pessoas têm condições de refletir e avançar. E neste palanque está quem avança”, disse Paulo Rocha, amenizando o fato de Danilo Cabral (PSB) ter votado pelo impeachment que derrubou Dilma Rousseff (PT).

Discursaram ainda o cacique Marcos Xukuru (Republicanos), o prefeito de Garanhuns, Sivaldo Albino (PSB); o senador Randolfe Rodrigues (Rede do Amapá), que é nascido em Pernambuco; o vice-presidente nacional do PT, Márcio Macedo; o ex-deputado Silvio Costa. Também estavam no palanque o deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos), os deputados estaduais Doriel Barros (PT) e Clodoaldo Magalhães (PV).

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Lula também recebeu uma homenagem em forma de toré por parte de José Ademir Xukuru, Francisco Fulni-ô, Aílson Truká, Aurivan Truká, Francisco Kapinawá, Josué Kambiwá, Valdemir Pipipã, Cícera Pankará, Pedro Pankararu, Marcelo Pankararu, George Pankararu, Fernando Pankararu e Marcos Xukuru. Também compuseram o palco representantes do MST, Fetape, CUT e os primos de Lula, Heraldo e José. O ato foi iniciado com a caruaruense Gabi da Pele Preta cantando o hino nacional e o florestense Josildo Sá cantando o hino de Pernambuco.

Agenda

O ex-presidente Lula (PT) chegou a Pernambuco na noite desta terça-feira (19), tendo desembarcado no Recife, onde foi recebido pelo presidente estadual do PT, o deputado Doriel Barros, além do deputado Carlos Veras (PT) e os pré-candidatos da Frente Popular ao Senado, Teresa Leitão (PT), e ao Governo do Estado, Danilo Cabral (PSB).

Nesta quarta o avião do petista chegou por volta das 10h a Garanhuns, na região Agreste do estado, e seguiu direto para visitar a réplica da casa onde viveu seus primeiros anos, na zona rural de Caetés. A reconstrução da casa foi financiada pelo PT de Pernambuco e acompanhada de perto por Heraldo, primo do ex-presidente que segue vivendo no local. Lula também foi presenteado com uma miniatura da casa.


Lula, familiares e amigos visitaram a réplica da casa de Dona Lindu, em Caetés (PE) / Ricardo Stuckert

Edição: Elen Carvalho e Rani de Mendonça