controvérsia

Intervenção sobre violência contra a mulher é retirada de museu em Santos

Artista acredita ter sofrido censura pelo tema da instalação; Museu do Café alega que não havia autorização para obra

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
IMAGEM ALEATÓRIA - Arquivo pessoal

Uma instalação artística que abordava o tema da violência contra a mulher, parte de uma exposição "Latino America Santista", foi retirada do Museu do Café, em Santos, depois de ser montada pela artista Yanaina Mella.

A exposição é uma iniciativa da Prefeitura de Santos como parte da programação da cidade durante a Conferência das Cidades Criativas da Unesco, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de julho.

Com 15 artistas, a exposição tinha como objetivo realizar intervenções artísticas nas ruas da cidade. Yanaina Mella, que também é cenógrafa e designer de interiores, foi uma das selecionadas. Ela conta que a curadoria da exposição delegou a ela a fachada do Museu do Café. 


Troca de mensagens com o responsável pela exposição mostra processo de concepção da obra na fachada do Museu do Café / Arquivo Pessoal

Sua obra consistia em lambe-lambes com frases sobre a violência contra a mulher e de dois manequins, que representavam duas mulheres, uma ajudando a outra a escapar de uma situação de violência.

"No dia da montagem (19), fomos abordadas algumas vezes por pessoas que pareciam ser do museu enquanto preparávamos tudo", diz Mella. "Eles abordaram a questão da temática, das cores, do que a gente estava fazendo ali. Reiteradamente tive que explicar que não havia tema político partidário nenhum. A cor vermelha era predominante, mas isso remetia ao sangue das vítimas".

Ela afirma que tentaram tirá-la do museu e alocá-la em outro local. Ela teria se negado a mudar de local, uma vez que a obra foi pensada para aquele espaço. 

Yanaina conta que ligou para o responsável pela exposição, que teria entrado em contato com o museu. Depois disso, um funcionário do museu a autorizou a trabalhar, que seria finalizada no dia seguinte. 

Ao retornar ao museu, na quarta-feira (20), Mella foi surpreendida pelo cenário. Os manequins haviam sido retirados do local. "Fomos hostilizadas, foi uma experiência horrível. Eles não queriam nos devolver as bonecas, ninguém desceu para dar satisfação. Um segurança serviu como porta-voz de uma pessoa que mandava recados por telefone", explica.

Depois de muita insistência, ela conseguiu reaver as bonecas, que estavam danificadas. Mesmo frustrada, ela voltou para colar os últimos lambe-lambes. "Três horas depois, os cartazes foram arrancados", conta ela. "Isso mostra que o problema não eram as bonecas ou a fachada, mas o tema", diz a artista.

"Estão tentando me culpar pela retirada da minha intervenção, de que eu invadi o espaço e que a fachada era tombada", explica. Mas ela havia recebido instruções sobre o que poderia ser feito na fachada, que não foi danificada durante seu trabalho. 

Em nota (leia abaixo na íntegra), o Museu do Café sustenta a versão de que a artista não tinha autorização para a instalação. Questionada sobre os fatos descritos por Yanaina, a assessoria do museu informou que o museu não iria se manifestar.

A Prefeitura de Santos, que patrocina a exposição, informou que não teve participação na retirada da instalação e que está buscando uma solução para que Yanaina possa montar seu trabalho em outro ponto da cidade. Até a publicação dessa matéria, ainda não havia ocorrido um acordo para que isso acontecesse.

Nota do Museu do Café

O Museu do Café esclarece que a intervenção artística citada não foi previamente acordada com a instituição e que a equipe não possuía nenhum tipo de informação sobre essa programação específica. Por se tratar de um patrimônio público e um ponto turístico que recebe milhares de visitantes, qualquer tipo de instalação (principalmente as suspensas) devem garantir a segurança dessas pessoas e a salvaguarda da edificação. Devido a esses fatores, o material foi retirado e entregue às artistas e, após esse fato, a instituição não teve mais nenhuma relação com o ocorrido. Reforçamos que um dos pilares do Museu do Café é incentivar o público a desenvolver olhares críticos em relação a assuntos sensíveis e muitas vezes invisibilizados na história do país.

Edição: Vivian Virissimo