AMAZÔNIA

FOSPA: Fórum reúne lideranças em defesa da Pan-Amazônia

Encontro tem participação de nove países da Amazônia para debater mobilização e resistência

Brasil de Fato | Imperatriz (MA) |

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A ideia central do encontro, criado há 20 anos, é a defesa da Amazônia e seus povos tradicionais - Mácio Ferreira/Ag. Belém

O coração da amazônia brasileira, Belém, no Pará, se torna  entre os dias 28 e 30 de julho o centro mundial dos debates em torno da defesa do meio ambiente e da vida, com a realização da 10ª edição do Fórum Social PanAmazônico – o FOSPA.

O encontro reúne lideranças indígenas, ribeirinhas, camponesas e urbanas a nível, local, regional e internacional, com a previsão desenvolver mais de 260 atividades, entre rodas de conversa, atos em homenagem aos mártires da Amazônia e manifestações contra o fascismo, o autoritarismo, o fundamentalismo e o ecocídio.

O coordenador da ONG Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) na Amazônia, Guilherme Carvalho, aponta que para além de um evento, o Fórum é uma rede de articulação de movimentos sociais, entidades e pastorais em defesa de pautas na defesa da emancipação humana e do meio ambiente.

"O Fórum Social Pan-Amazônico é uma experiência de articulação política de organizações que pretendem ganhar escala nos seus processos de resistência, de construção de alternativas, de denúncias de violações de direitos. O Fórum, portanto, é uma rede. Está se construindo e se fortalecendo enquanto uma rede que pretende atuar desde os territórios, nas mobilizações de comunidades, povos indígenas, comunidades tradicionais, como também incidir nos planos regionais, nacionais e no plano internacional", explica.


O encontra foi criado em Belém (PA) e retorna ao local quase vinte anos depois / FOSPA

O FOSPA surgiu em 2001, também em Belém, com raiz a partir do acúmulo de troca de experiências no 2º Encontro pela Humanidade e contra o Neoliberalismo, em 1999, e logo depois, durante o 1º Fórum Social Mundial.

Com o objetivo de analisar a realidade amazônica e propor ações de resistência e luta dos povos, o Fórum reúne representantes dos nove países da Pan-Amazônia: Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, além de outros países da Europa e Ásia.

A última edição aconteceu em 2020, na cidade de Mocoa, na Colômbia, em formato virtual devido à pandemia e retorna neste ano modelo presencial, no ápice das discussões em torno da preservação da Amazônia, que vem sofrendo sucessivos massacres a nível global.

A organização acredita que nesta edição o encontro tem um papel ainda maior, uma vez que a escolha do Brasil para sediar o encontro de 2022 está relacionado às ofensivas do governo Bolsonaro ao bioma e aos direitos dos povos tradicionais, mas também à necessidade de fortalecer e propor novas alternativas de governabilidade e ações estratégicas para a defesa da Amazônia.

"Neste momento o Fórum se constitui de uma relevância ainda maior, dado que em alguns países como Colômbia e com a mudança no perfil do governo, e no Brasil, com um governo de ultradireita, que viola direitos e não tem nenhuma perspectiva na defesa da Amazônia, da floresta e dos seus povos, o Fórum Social PanAmazônico é esse momento de articulação política, de construção de plataforma e definições de ações estratégicas conjuntas em defesa da Amazônia, do meio ambiente e dos seus povos", explica Carvalho.


Canteiro de obras do mais novo projeto da Vale, o S11D, em Canãa dos Carajás. / Foto pública

O Pará é um dos estados que mais desmata na Amazônia brasileira, em razão da mineração e de grandes projetos como a construção de complexos portuários e e hidroelétricas, como a de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu.

Dessa maneira, segundo a organização, a sede do encontro, Belém, se constitui enquanto espaço simbólico de luta e resistência dos movimentos sociais em defesa das águas e das florestas e o encontro tem como objetivo alertar para essa realidade em todo o mundo e pensar alternativas de ações conjuntas, a nível internacional.

"Para a gente, é muito importante sediar esse Fórum, principalmente nesse período que estamos vivendo, de ataques às lutas sociais, às resistências sociais e as lutas do povo amazônico. Precisamos construir resistência frente ao capital, ao agronegócio, mineração, latifúndio, às grandes empresas que estão poluindo nossos rios, onde ribeirinhos não podem mais se banhar, já não podem mais pescar seu alimento. Precisamos estar fortalecidos", explica Jane Cabral, da direção do Movimento Sem Terra do Pará.


Programação é dividida em sete eixos temáticos que destacam a cultura e preservação da Amazônia / FOSPA

PROGRAMAÇÃO

O primeiro ato do encontro será uma espécie de comunhão entre todos os povos com a Marcha de Abertura, que acontece nesta quinta-feira (28), às 15h, com concentração na Escadinha da Estação das Docas, na Praça Waldermar Henrique

Após a marcha, a programação será dividida por meio das chamadas "casas", que são as grandes temáticas do encontro: Casas de Saberes e Sentires; Grandes Eventos; Atividades Autogestionadas; Plenárias; Atividades Culturais; Tendas; e Atividades Coligadas.

Entre os destaques está a pré-estreia do documentário "Pisar Suavemente na Terra", produção que apresenta históricas de resistência para adiar o fim do mundo a partir dos conflitos enfrentados na Amazônia. seguido de debate com a líder indígena Kátia Silene Akrãtikatêjê e Ailton Krenak.

Se destacam também os tribunais em defesa da Amazônia, que trouxeram ao país uma delegação de "juízes éticos" (como são chamados os membros do Tribunal) – que antes do encontro visitaram aldeias, áreas rurais e comunidades protetoras da Amazônia e devem levar as denúncias apuradas a organismos das Nações Unidas.

Membra do comitê internacional e estadual do Fórum, Socorro Papoula reforça o convite para o encontro e o destaque da participação das mulheres

"De 28 a 31 de julho, em Belém, acontece o X Fórum Social PanAmazônico, o FOSPA, um importante espaço de articulação dos povos e movimentos sociais. E nós, mulheres das águas e das florestas, estaremos presentes participando ativamente. Belém, a capital da trincheira da resistência e dos povos!"

Mais informações sobre a programação e cobertura em: FOSPA.

Edição: Thalita Pires