Coluna

Chegamos na reta final das eleições

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Até aqui Bolsonaro segue com o crescimento médio de 1% ao mês - Evaristo Sá / AFP
Geralmente as pesquisas feitas neste ponto tendem a apontar os vencedores do pleito

Há quem acredite que as eleições começaram agora, se pararmos para pensar que a eleição de 2022 começou ainda em 2020, então é justo considerarmos que chegamos na reta final.

Geralmente as pesquisas feitas neste ponto tendem a apontar os vencedores do pleito, com exceção dos pleitos de 1994 e 2018, até mesmo as exóticas eleições de 2014 tiveram seus resultados apontados com brevidade.

Outra observação interessante vem do jornalista Thomas Traumann: em todas as eleições que foram para o segundo turno desde 89, quem terminou o primeiro turno na frente, permaneceu na frente e venceu no segundo turno.

Até o próprio Kassab disse essa semana que vê aumentar a chance de Lula ganhar no 1º turno, sobre o assunto ele declarou: 'Não é impossível'.

Além disso, encerra-se o prazo para a realização de convenções partidárias para deliberar sobre coligações e a escolher candidatos a presidente e vice-presidente da República, governador e vice-governador, senador e respectivos suplentes, deputado federal e deputado estadual e distrital.

Após 5 de agosto, qualquer anúncio de apoio não terá feito prático como aumento de tempo de teve ou afins, isso não impede que as costuras por palanques continuem e que eventuais desistências possam ocorrer, porém, agora fica mais difícil a negociação por dois motivos.

Não há como se beneficiar de possíveis coligações e desistências, agora, dependem unicamente do desejo dos candidatos, não passando mais por articulações partidárias. Ou seja: quem apostou no cavalo errado vai ter mais dificuldade de conseguir se desvencilhar.

A não ser que ocorra algo extremamente excepcional como foi a faca de 2018, dificilmente teremos grandes surpresas.

Há quem diga que o tempo na TV pode virar o jogo, uma vez que Lula e Bolsonaro vão se apresentar para a sociedade. Ambos os candidatos possuem uma altíssima taxa de conhecimento, além disso, o tempo de teve implica os candidatos criticarem os seus oponentes.

Até aqui Bolsonaro segue com o crescimento médio de 1% ao mês, errando a comunicação, perdendo apoio de setores da sociedade e desesperado a cada pronunciamento que faz prometendo qualquer coisa sem qualquer amparo na realidade.

Lentidão que também e visível na rejeição do presidente, Bolsonaro levou quase um ano para reduzir 7% da rejeição.

Tudo isso enquanto o ex-presidente Lula costura uma série de apoios formando a tão aclamada frente ampla contra Bolsonaro.

Se no quadro geral entramos na reta final, na pitoresca terceira via o clima é de final de festa:

Quando eu falo que o discurso nem-nem é a chave do fracasso e demonstra a incapacidade de análise política de alguns candidatos são por dados como os da última Quaest, a quando perguntado “sobre o que você tem mais medo”, 48% dos eleitores temem a permanência do Bolsonaro, 38% temem o retorno do PT e apenas 6% embarcam na estultice nem-nem.

Os temores sobre Lula e Bolsonaro são números semelhantes com a intenção de voto no segundo turno na mesma pesquisa.

O que mostra que não há mais espaço para um 3° nome despontar nas pesquisas. Aqui temos em definitivo o fato de que a eleição é um plebiscito sobre o governo Jair Bolsonaro.

A Quaest também apontou que há um amplo conhecimento sobre o reajuste eleitoral do valor do Auxílio Brasil, mas não pretendem mudar seu voto. Quase metade diz que isso não vai mudar a sua intenção de voto. No campo econômico as medidas não trazem grandes mudanças, tanto no ICMS quanto os R$ 200.

Por outro lado, a reunião das fake news com embaixadores diminui a vontade de 41% dos eleitores em votar em Jair Bolsonaro.

A percepção de que a capacidade de pagar as contas piorou nos últimos meses é altíssima em todos os cenários. Até mesmo entre os beneficiários do Auxílio Brasil, entre os eleitores de menor renda essa percepção fica acima dos 60%. Na média geral isso fica em acima dos 50%.

Um dado positivo para o Bolsonaro foi que a pesquisa mostrou que ele conseguiu consolidar a mentira de que a disparada dos combustíveis não é culpa sua. Embora 21% culpem o presidente, 34% responsabilizam fatores externos. Juntando com o fato de que parte do eleitor vê ele tentando resolver as coisas isso explica em partes a recuperação.

Bolsonaro segue queimando muito carvão para pouca velocidade. Precisou de quase um ano para melhorar sua avaliação e reduzir a sua rejeição. Se as medidas eleitorais dão um respiro, suas escaramuças contra a democracia freiam o pouco fôlego que ele consegue.

Embora eu seja cético sobre essa possibilidade, acredito que os R$ 200 devam proporcionar algo entre 3 e 5% para Bolsonaro. Não é o suficiente para virar o jogo e ainda não é um voto tão consolidado, é um voto maleável e sensível aos outros discursos e candidatos disponíveis.

Significa que Lula já ganhou e que não é necessário fazer mais nada? Pelo contrário! Até o momento muita da estagnação do presidente Jair Bolsonaro se dá pelo seu comportamento errático e agressivo, ou seja: Bolsonaro é o maior opositor de Bolsonaro.

O que diz isso? A rejeição! Bolsonaro tinha 44% de rejeição no Datafolha de outubro de 2018. Agora Bolsonaro levou 8 meses para sair da rejeição de 60% para 53%, quase 1% por mês.

Em 2018 Haddad tinha 52% de rejeição, hoje Lula tem 36%, ele apenas oscilou na margem de erro nesses 8 meses (tinha 34%).

Quem está atrás já começa errando ao não ter trabalhado por um amplo arco de alianças. Maioria das candidaturas nanicas serão chapas-puras ou com no máximo um ou dois partidos. Agora o tempo passou.

O próprio Bolsonaro se isolou. Hoje ele se agarra estritamente aos quase 30% de eleitores cativos e radicais e faz uma campanha para deputado federal, onde isso seria suficiente para garantir a sua eleição. Ele se esqueceu ou deliberadamente ignorou do resto do país. É um presidente que se comporta feito um deputado. Tanto no Planalto como na campanha. Ele não sabe se comportar em uma eleição majoritária e ainda reclama das urnas.

A eleição na reta final não significa que já dá para estourar o champagne e gritar “já ganhou”, na verdade é um aviso de que ganhará quem errar menos.

*Cleber Lourenço é observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Com passagens pela Revista Fórum e Congresso em Foco. Twitter e Instagram: @ocolunista_

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo