ENTREVISTA

Juliane Furno: "A solução dos nossos problemas passa sempre pela organização política"

Economista acentua que o preço do feijão, da carne ou da luz são muito mais resultado da política do que da economia

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Para Juliane, se omitir na política não significa não participar: "Esta pessoa está sendo dirigida" - Foto: Imprensa SMetal

Menina, Juliane Furno não conviveu com livros em casa. Adolescente, não teve acesso a cursos, mas foi a primeira pessoa da família a entrar na faculdade. No caso, a Faculdade de Economia da UFRGS. O que aconteceu, diz ela, através do novo mundo que se descortinou junto com a tomada de consciência e o ativismo. “A militância me fez admirar militantes que estavam na universidade.” E seguiu o mesmo caminho.

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Economista, fez mestrado na Unicamp, onde estudou as alterações no mercado de trabalho das empregadas domésticas nos governos Lula e Dilma. Também cursou doutorado, quando estudou a política de conteúdo local para o setor de petróleo e gás, e – entre outras frentes – trabalhou na escola de formação sindical da CUT. Aqui, Juliane fala pouco de economia e muito sobre a importância da ação política nas nossas vidas.

Leia a entrevista completa:

Brasil de Fato RS - Quando a política entrou na tua vida?

Juliane Furno - O que me despertou foi um professor da 8ª série nas aulas de História sobre a II Guerra Mundial, a Guerra Fria... Depois fui estudar no Julinho (colégio estadual Júlio de Castilhos). Já na primeira semana teve uma manifestação contra o aumento das passagens e vi a violência da polícia. Entrei no PT e desde lá tenho uma vida marcada pela consciência de classe.

Parte da tua participação política se deu no Levante Popular da Juventude. Qual o papel do Levante nos últimos anos para a politização dos jovens?  

Quando estava no 3º ano do ensino médio conheci o Levante. É a minha experiência de vivência coletiva na política. É minha grande morada ainda hoje, meu alimento do espírito. É um movimento com a complexidade de estar na universidade, nas periferias, no campo. E com um espírito muito crítico que retoma a esperança e a rebeldia da juventude não para ser uma rebeldia vazia, mas ligada à concretização de um projeto de sociedade.    

Se a gente não se organiza, alguém organizado irá nos organizar

Muita gente olha para a ação política – sobretudo a política dos partidos – como uma atividade suspeita ou criminosa. A que se deve isso?  

Talvez melhor que a coerção – a impossibilidade legal de associação política – seja essa maneira de criminalizar as organizações. Criminalizar a política como lugar do profano, do corrupto, dos interesses corporativos e as pessoas não se organizam e se acham autossuficientes. Outro elemento é a falta de esperança. A solução dos nossos problemas passa pela organização política.

Na história da classe trabalhadora as grandes transformações foram obra de organizações políticas. Não é uma romantização. Nelas há uma perspectiva de mudança da sociedade como um todo e de comportamentos internos. É o que há de melhor. É viver em comunhão e solidariedade com os companheiros que dividem o mesmo sonho e a mesma perspectiva ideológica.

O que dirias para quem torce o nariz e se omite de participar da vida política do país?     

Esta pessoa está sendo dirigida. O fato dela se omitir não significa que não participa. Ela participa de forma subordinada. Se a gente não se organiza, alguém está organizado e nos organiza sem a possibilidade de nos tornarmos sujeitos da nossa própria história.

Não há uma mão divina que coloca o preço nas mercadorias

Como se explica à população que aquele choque semanal que ela leva no supermercado está intimamente relacionado com a escolha política feita em 2018?

Tudo é política e a economia é política. Não é uma ciência neutra. Como se a movimentação de variáveis econômicas se desse sem nada a ver com as decisões políticas. O preço dos alimentos, a (oscilação) do dólar em relação ao real ou a fuga de capitais são decisões da política econômica. O preço do feijão, da carne, da luz, não decorre de processos naturais. Não há uma mão divina que coloca o preço nas mercadorias.

As pesquisas sinalizam que são as mulheres (53% do eleitorado) e os jovens que mais rejeitam o governo atual...

Tem a ver com dois elementos. O primeiro é dizer que as mulheres nascem de fraquejadas. E as falas de cunho machista. Para a juventude, a redução do FIES e do Prouni e o fim das políticas públicas para a cultura.


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Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko