Escândalo

Sakamoto: defesa de golpe por empresários acende temor por doação ilegal a Bolsonaro

Parte da elite é cumplice nas intenções autoritárias do presidente

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Luciano Hang e Bolsonaro - Marcos Corrêa/PR

 

Ricos empresários bolsonaristas defendendo golpe de Estado em caso de vitória de Lula em seu grupo de WhatsApp não é apenas um ataque bizarro à democracia, mas um clichê terrível.

A reportagem de Guilherme Amado, Bruna Lima e Edoardo Ghirotto, no portal Metrópoles, que mostrou as entranhas do grupo "Empresários & Política", é fundamental, pois confirma que uma parte da elite econômica está agarrada ao capitão não apenas por pragmatismo, mas por cumplicidade ao seu golpismo.

"Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo", afirmou José Koury, dono do Barra World Shopping.

Ganhou apoio de Afrânio Barreira, dono do Coco Bambu. E um comentário de André Tissot, do Grupo Sierra, dizendo que "o golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo".

Koury se justificou dizendo que "vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade". Ou seja, por estar em uma democracia, acredita que pode ter a liberdade de atacar a própria democracia.

Basicamente apela para o "paradoxo da tolerância". Se uma sociedade tolerante aceita a intolerância como parte da liberdade de expressão ela pode vir a ser destruída pelos intolerantes. Como analisou o filósofo Karl Popper, a liberdade irrestrita leva ao fim da liberdade da mesma forma que a tolerância irrestrita pode levar ao fim da tolerância.

A estratégia é largamente usada por Jair, que defende o "direito" de contar mentiras sobre o sistema brasileiro de votação, pilar da democracia, em nome da liberdade garantida pela democracia.

No caso do presidente e dos empresários isso é bem mais preocupante que cidadãos comuns porque eles têm recursos para implementar seus pontos de vista.

Declarações reacendem preocupação por doações ilegais e voto de cabresto

O episódio traz ao menos uma lição e um alerta.

A lição é para quem defendeu que o (necessário) manifesto encabeçado pela Fiesp, que reuniu uma parte importante do empresariado nacional para defender a democracia, afastava o golpismo por parte da elite.

Esta coluna já havia lembrado que os empresários bolsonaristas são numerosos, engajados, articulados e endinheirados. Além dos já citados, o grupo de zap reúne também Luciano Hang (Havan), José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), Marco Aurélio Raymundo, o Morongo (Mormaii), Meyer Nigri (Tecnisa), entre outros.

Já o alerta diz respeito à necessidade de monitorar eventuais apoios que possam ser dados de forma ilegal para a reeleição do presidente.

Nada impede que, como pessoas físicas, empresários doem à campanha de Bolsonaro, nos limites estabelecidos pela lei eleitoral e de forma registrada. Isso não inclui, contudo, bancar o impulsionamento de conteúdos contra adversários ou disparos em massa de mensagens, como ocorreu em 2018.

Tampouco tentar comprar o voto de funcionários, como apareceu no próprio grupo de WhatsApp, com uma sugestão de que empresários pagassem bônus aos empregados que votassem alinhados a eles. Em 2018, aliás, Luciano Hang foi denunciado pelo Ministério Público do Trabalho por tentar influenciar o voto de seus empregados.

No ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral manteve o mandato de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, apesar de reconhecer que disparos em massa foram feitos contra seus adversários via WhatsApp na eleição em que foi eleito. O atual presidente da corte, ministro Alexandre de Moraes, avisou que, se isso ocorrer em 2022, irá mandar os responsáveis "para a cadeia por atentarem contra as eleições e a democracia no Brasil".

Por fim, o grupo bolsonarista também ajuda a explicar a raiva de Jair Bolsonaro dos ricos empresários que assinaram a carta da Faculdade de Direito da USP e o manifesto da Fiesp em prol da democracia. Ele os chamou de "mamíferos", "caras de pau", "sem caráter".

Acostumado ao apoio incondicional dos integrantes do "Empresários & Política", o presidente acreditava que todo o rico era poroso a seus ataques à urna eletrônica e ao STF e suas ameaças à democracia. Ficou transtornado quando descobriu que o mundo era maior que um grupo de zap.

 

*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.