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Seis semanas e um destino

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Ao contrário do mal-estar de Bolsonaro, Lula parecia estar em seu habitat natural na posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE - Reprodução Instagram
Agora é jogar o jogo. Depois do próprio Alexandre de Moraes, Lula foi a estrela na posse do TSE

Olá! Lula, Bolsonaro, Alexandre de Moraes e o dragão da inflação estão postados na linha de partida. Foi dada a largada para a mais importante eleição do século.

.Que eleição é essa? É a nona eleição nacional desde 1989. E como aquela, esta também tem algo de inédito. É a primeira vez desde 1994 que o número de candidatos é menor do que no pleito anterior, talvez como efeito das novas regras aprovadas em 2021. O número de candidatos à reeleição na Câmara também é recorde, indicando que a taxa de renovação deverá ser baixa. Mas também há alguns sinais positivos: pela primeira vez há mais candidatos autodeclarados negros do que brancos, e o número de mulheres bateu recorde, com 33% do total das candidaturas. Inédito é haver um candidato à reeleição presidencial pagando de outsider. Mais uma vez, Bolsonaro aproveitou um evento público para se apresentar como o patinho feio rejeitado pelo sistema. Claro, talvez tenha sido um erro de cálculo ir à solenidade de posse de Alexandre de Moraes no TSE. Mas, para além da humilhação pública e do isolamento político, a carranca do capitão é coerente com seu histórico de negacionismo das eleições. Outra novidade é ter um ex-presidente concorrendo e um candidato à reeleição com desempenho tão ruim. O mesmo vale para o número recorde de pesquisas eleitorais, acompanhadas semanalmente ao ritmo de novela pelo jornalismo. Só agora se vê uma diminuição da distância entre as intenções de votos em Lula, que segue na liderança, e em Bolsonaro. Mas Thomas Traumann lembra que, com o naufrágio da candidatura de Simone Tebet, a desistência de André Janones e as medidas eleitoreiras aprovadas pelo Congresso, isso já era esperado. Ou seja, não importa que Bolsonaro esteja subindo, o importante é ver até onde ele vai. E, por enquanto, as esperanças de uma vitória de Lula no primeiro turno não foram dissipadas. O problema é que também deve ser inédito o número de fake news em circulação, que tende a superar a onda de 2018, apesar das tentativas do TSE de restringir a disseminação de notícias falsas nas redes sociais

.Agora é jogar o jogo. Depois do próprio Alexandre de Moraes, Lula foi a estrela na posse do TSE. Ao contrário do mal-estar de Bolsonaro, o petista parecia estar em seu habitat natural. Mas ainda que os momentos simbólicos sejam importantes, não é ali que se vence eleição. Um dos pontos que pesam é a estrutura nos estados. E, neste quesito, parece haver certo equilíbrio. Consolidado à frente das pesquisas, mas vendo seu adversário diminuir a distância, Valério Arcary insiste que a campanha de Lula tem que fugir de algumas armadilhas: o clima “já ganhou” que desarma a militância, a tentação de um giro ao centro para agradar os moderados, a romantização do passado como referência de programa e o “Deus nos acuda” com a possibilidade de um segundo turno. Claro que a estratégia tipicamente lulista é dar uma no cravo e outra na ferradura. O que inclui mais um encontro para tentar conquistar a confiança do empresariado ao mesmo tempo em que dá centralidade ao problema da fome e da corrosão da renda pela inflação. Aliás, é preciso reconhecer que se a retirada da candidatura de André Janones teve pouco efeito na migração de votos, ela possibilitou a Lula um quase monopólio do tema da renda mínima. Ao mesmo tempo, o petista deixa um espaço para falar a língua dos evangélicos, diálogo que enfrenta o fogo amigo de uma parte da militância que não está disposta a poupar críticas às igrejas. E com vantagem confortável no nordeste, a atenção da campanha petista deve ser mesmo o sudeste, buscando conter o mais rápido possível a recuperação iniciada por Bolsonaro nas últimas semanas.

.Mais do mesmo. Além da insistência em se apresentar como marginal na disputa eleitoral, a campanha Bolsonaro deve requentar outras estratégias que já estão em campo desde 2018. Mesmo que o governo ainda sonhe em colher os frutos do pacote de medidas eleitorais, o tom da campanha deve ser dado pela luta do “bem contra o mal”, o que significa apostar no eleitorado evangélico e nas narrativas de demonização e fake news, como a ameaça de fechamento de igrejas, contra um candidato que já governou o país duas vezes e não fez nada disso. A dualidade é a tônica também dos outdoors ofensivos que supostamente teriam sido pagos por apoiadores sem centralização do partido em diversas cidades. Outro tema recorrente no discurso bolsonarista que deve ser realçado é o armamentismo e a segurança, aproveitando o silêncio petista sobre a área da segurança pública. Mas o trunfo mesmo do bolsonarismo é o número de candidatos aos parlamentos nos estados, o que capitalizaria a candidatura majoritária no interior do país. Além disso, 1500 policiais e militares devem concorrer neste ano, a maioria deles pelos partidos que apoiam o capitão. A surpresa é que o discurso golpista e contra as urnas eletrônicas deve sair discretamente do repertório depois das cartas pela democracia e da posse de Alexandre de Moraes. Seja pelo enfraquecimento dos seguidores, seja pela costura de um armistício entre militares e o TSE, o 7 de setembro deve ser esvaziado. Sem a presença dos militares e limitado a um ato em Copacabana, o evento tende a se tornar apenas mais uma motociata, o que deve desagradar os 23% de bolsonaristas que defendem que o candidato não aceite os resultados em caso de derrota, incluindo a turma do empresariado que defende o golpe, as fake news e a homofobia.

.O ano do dragão. O problema de Bolsonaro é que o maior cabo eleitoral de Lula segue sendo a inflação. O Auxílio Brasil pode ter diminuído a rejeição ao governo, mas a percepção da população é de que a medida é eleitoreira, segundo as pesquisas Quaest e Datafolha. Mas, principalmente, até chegar na mão do beneficiário, o auxílio já virou cinza, corroído pela inflação. Sem cobrar atestado ideológico, o dragão da inflação não poupa os redutos bolsonaristas. Ao contrário, nas fortalezas do agronegócio no centro-oeste ou nos municípios do sul, os preços também dispararam e os bolsões de pobreza se espalham. Já o auxílio caminhoneiro chegou apenas a 20% dos beneficiários, enquanto a máquina eleitoral da Petrobras pode reduzir o valor na bomba, mas não resolve a disparada dos preços do gás de cozinha. Os resultados são visíveis no cotidiano. O Estadão apurou que 4.997 milhões de itens foram abandonados na boca do caixa dos supermercados nos primeiros seis meses deste ano. Refrigerantes, óleos e leite lideram os produtos que os brasileiros não conseguem levar no carrinho. Enquanto a inadimplência dos cartões de créditos se agrava para quem recebe entre um e dois salários mínimos. 

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

 

.Partido militar: mais de 1,5 mil candidatos militares concorrem nas eleições neste ano. A Agência Pública identifica os candidatos ligados às forças armadas e policiais nestas eleições e seus rendimentos.

.Ruralômetro 2022. O Repórter Brasil disponibiliza uma ferramenta para acompanhar a posição dos parlamentares sobre temas ambientais e agrários.

.Lobistas da mineração criam programa para vender a ilusão de um garimpo ambiental correto.  O Intercept conta como empresários e pastores criaram a farsa do garimpo sustentável.

.Desvendando o voto evangélico. A Piauí analisa ponto a ponto as características e opiniões do eleitor evangélico.

.A nova batalha de Xangô. Marcia Cruz escreve sobre os mais de 500 ataques à religiões afro-brasileiras registrados nos últimos anos.

.Consignado do Auxílio Brasil: o que pensa quem vai pegar empréstimo e quem vai passar longe. Com juros de até 79% ao ano, veja as motivações e os riscos para quem faz empréstimos consignados ao Auxílio Brasil. Na BBC Brasil.

.Bolsonaro tem chance de chegar ao segundo turno, avalia economista. Em entrevista para o Brasil de Fato, o economista Paulo Nogueira Batista Júnior analisa a conjuntura econômica e política atual e as perspectivas para o futuro.

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Edição: Glauco Faria