Roupa "Verde"

Cultura do brechó ganha força e resgata consumo consciente e sustentável

No Ceará, iniciativas lideradas por mulheres buscam reduzir impactos ambientais da indústria da moda

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Casa fredericas
Brechós e marcas com reaproveitamento são um exemplo de consumo consciente - Divulgação/ Fredericas
A gente usa materiais de origem natural e tem um plano interno de redução de impacto de lixo

Todos os anos, a indústria têxtil consome cerca de 93 trilhões de litros de água, o que significa 4% da captação mundial de água doce anual. Os dados são da Ellen Macarthur Foundation. Os números são grandes mesmo: equivalem a algo em torno de 37 milhões de piscinas olímpicas. Sim, isso a cada ano.

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Só para você ter uma ideia do impacto gerado, são necessários, por exemplo, 2.720 litros de água só para fazer uma camiseta de algodão, mesma quantidade que uma pessoa consome em torno de 3 anos. Por isso, atualmente essa realidade passou a nortear as preocupações de pequenos negócios, que têm pensado alternativas para diminuir os impactos ambientais e incentivar um consumo mais consciente.

Os brechós são um bom exemplo. Apesar de não ser novidade, foi mais recentemente que quebraram com a imagem ligada a produtos velhos. Tanto que a compra e venda online de usados cresceu 27% em 2020, contra uma queda de 23% no varejo como um todo.

Luciana Valente, fundadora do brechó Susclo fala como estas experiências vem mudando: “Susclo é um brechó online onde você pode vender ou comprar peças incríveis de 2º mão, com muita qualidade. Não é nada desse estigma de que a gente tem de que brechó é aquele lugar escuro, sujo, com peças mofadas. De forma alguma, a gente recebe os desapegos, faz todo um controle de qualidade e coloca pra vender para que outras pessoas também possam consumir essa moda de segunda mão”. 

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O brechó da Luciana vai muito além do consumo de peças de segunda mão: “O impacto socioambiental sempre esteve presente na marca, a nossa ‘suscolinha’, por exemplo, começou sendo feita como uma embalagem com resíduo têxtil. Então a gente faz a coleta de empresas que produzem resíduo têxtil e a gente transforma isso em embalagem para que ela possa ser reutilizada por outras pcamilaessoas”, enfatiza Luciana.

Ela ressalta ainda que quem consome de brechó quebra uma cadeia baseada na lógica do consumo desenfreado. Os benefícios vêm descritos em cada item adquirido na Susclo: “A gente relata tudo isso na etiqueta de cada pedido, falando quanto você conseguiu economizar em média, tanto em gás carbônico quanto em água, em cada pedido”, explica. 

Mas além dos brechós, pequenas marcas também têm colocado a questão ambiental na premissa de seus negócios. Mesmo vendendo peças novas, trabalham a questão socioambiental a partir de outras perspectivas.

É o que explica Mari Figueiredo, que desde o início do seu negócio pensa em como diminuir os impactos negativos da indústria do Fast Fashion na sua loja de moda autoral: “A gente usa materiais de origem natural, seja linho, algodão, viscose, e a gente tem um plano interno de redução de impacto de lixo. A gente tem modelagens desenvolvidas para fazer aproveitamento total dos tecidos, produz brindes com os refugos, então toda a nossa produção já era pensada na sustentabilidade desse ponto, tanto da matéria-prima como da produção”.

Mudança pelo exemplo


Casa Fredericas reúne negócios sustentáveis dirigidos por mulheres. / Divulgação/ Casa Fredericas

Em comum, as duas marcas cearenses dividem um espaço coletivo. A casa, batizada de Fredericas, tem como premissa negócios dirigidos por mulheres, em sua maioria mães, e que tenham essa mesma pegada.

Como explica Mari, idealizadora do espaço: “Trazer isso para esse nosso espaço da casa acabou extrapolando horizontes. Desde a criar uma composteira, para que a gente tenha menos impacto com o lixo produzido aqui, a horta, a ter enfim um aproveitamento total dos resíduos que a gente produz, para que a natureza tenha de volta um pouquinho do que a gente tira tanto dela no dia a dia. Trazer isso como uma empresa, falando de dentro para dentro, falando da moda como algo que pode mudar a sociedade porque todos nós estamos vestidos, incentiva as pessoas a terem atitudes diferentes”.

Edição: Camila Garcia