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A nova corrida pela Ciência e Tecnologia no mundo

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"No Brasil, o investimento em Ciência e Tecnologia deve estar ligado ao desafio de minorar e reverter a médio prazo a emergência climática e a degradação ambiental" - Coordcom/UFRJ
A Ciência, a Tecnologia e a Cultura são os grandes motores do desenvolvimento sustentável

A aprovação, em 27 de julho último, de uma legislação nos Estados Unidos sobre a política de Ciência e Tecnologia, incluindo seu financiamento, o “CHIPS and Science Act”, depois de 2 anos em elaboração, prevê um investimento de US$ 280 bilhões em 5 anos para tentar competir com a China em uma disputa global pela liderança tecnológica. Esse projeto aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado estadunidenses permite tirar lições e configurar uma percepção mais nítida da nova Sociedade do Conhecimento que já se configurou no momento, assim como lançar luzes sobre qual deve ser o papel do Brasil nesse novo cenário.

O projeto aprovado pelo Congresso estadunidense estabelece mais do que o dobro do orçamento da National Science Foundation (NSF) - agora US$ 8,8 bilhões - em 5 anos, assim como projeta uma elevação dos US$ 7,5 bilhões do Escritório de Ciência do Departamento de Energia (DOE) em 45% e o aumento em 50% do investimento de pesquisa de US$ 850 milhões por ano no Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia.

Essa movimentação dos Estados Unidos leva a algumas constatações. A primeira é sobre o papel do Estado como grande planejador, indutor e financiador não somente da política de Ciência e Tecnologia, mas também como grande puxador e promotor do desenvolvimento econômico, social e ambiental. Mesmo no país que é central no Capitalismo mundial, a ideologia do livre mercado, do Estado mínimo, das privatizações e da redução do papel do Estado na regulação e implementação de políticas públicas não é mais levada em conta. Certamente o sucesso de uma economia planificada e com forte atuação do Estado como a chinesa, que em poucas décadas já rivaliza com os Estados Unidos em tamanho da Economia e desenvolvimento científico e tecnológico, serviu para uma mudança de sua postura sobre o papel do Estado. 

Uma segunda constatação é que a Ciência, a Tecnologia e a Cultura são os grandes motores do desenvolvimento sustentável, e um país que não investe nesse tripé não conseguirá alcançar e manter a sua soberania. Soberania não é assegurada apenas com exportação de matérias primas de baixo valor agregado, agrícolas e minerais, como o Brasil tem se especializado nos últimos anos, quando sua indústria encolheu e sua Ciência e tecnologia são relegadas a terceiro plano.  O Brasil tornou—se uma grande fazenda de produção de commodities com um alto impacto ambiental, que deve inclusive inviabilizar a continuidade do modelo centrado no atual agronegócio. Dentro de poucos anos, os países importadores das matérias primas brasileiras cumprirão sua promessa de colocar barreiras comerciais para os produtos de uma produção com uso intensivo de agrotóxicos, emissão exagerada de carbono, queimadas, desmatamento e degradação das condições de vida das populações.

No Brasil, o investimento em Ciência e Tecnologia deve estar ligado ao desafio de minorar e reverter a médio prazo a emergência climática e a degradação ambiental, em investir em pesquisa de nossa sociobiodiversidade, em vez de destruir os biomas mais ricos do planeta nessa espiral suicida de exploração predatória. Podemos nos tornar a primeira potência ambiental do globo, com amplos programas de investimento em pesquisas de genética, biotecnologia, farmacologia, alimentação e produção com alto valor agregado de bioinsumos, mas também precisamos investir nas pesquisas da energia solar e eólica, na expansão desses investimentos, assim como na construção de uma indústria automotiva elétrica.

Por fim, a Sociedade do Conhecimento se consolida na contemporaneidade; ela é a sociedade da economia da Cultura e economia criativa, que envolve as artes e abarca tudo que resulta da criatividade, da inovação, de bens culturais com alto valor agregado, que englobam a arquitetura, a engenharia, a tecnologia da informação, o cinema e o audiovisual, a Ciência, os serviços de educação e Saúde, dentre outros. 

 

*Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Lorena Carneiro