Coluna

O novo campo de batalha da disputa presidencial

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Lula e Bolsonaro disputam o primeiro turno com objetivos diferentes: o ex-presidente busca vencer no primeiro turno, o atual presidente busca tentar sobreviver - Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/PR
Segunda semana de campanha chega na reta final com um gosto amargo para a campanha bolsonarista

Finalmente, depois de dois anos com a campanha eleitoral na internet e pequenas entrevistas que vez ou outra repercutiam na imprensa, finalmente a campanha chegou nas TVs de todo o Brasil. Primeiro, com as sabatinas no jornal mais assistido no Brasil em horário nobre e hoje, com a propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão.

Com isso a campanha fica ainda mais acirrada e qualquer deslize causa um dano ainda maior para quem errou e ataques podem ser potencializados.

São debates, sabatinas e todo tipo de evento nos veículos de comunicação e que ajudam os eleitores a decidirem o seu voto.

Se as discussões estavam restritas à efemeridade das redes, agora entram na casa de milhões de brasileiros das capitais, periferias e rincões do país.

Lula e Bolsonaro disputam o primeiro turno com objetivos diferentes: o ex-presidente busca vencer no primeiro turno, o atual presidente busca tentar sobreviver ao primeiro turno.

A segunda semana de campanha presidencial chega na reta final com um gosto amargo para a campanha bolsonarista, sem conseguir o protagonismo por alguma agenda positiva.

A diferença entre as sabatinas de ambos é gritante. Lula conseguiu atacar o Bolsonaro de forma contextualizada e acenar aos indecisos e outros eleitores fora da sua "bolha". Ele também tentou trazer todos os temas para o contexto do dia a dia dos brasileiros. E fez isso num contexto em que os âncoras claramente não abriram espaço para discussões sobre propostas. Só nisso já dá para afirmar que foi um 2 x 0 para Lula.

Bolsonaro não conseguiu fazer nenhuma dessas coisas, estava mais preocupado em não cometer nenhuma gafe monumental e acabou errando na estratégia.

O presidente focou em conseguir um empate quando na verdade precisava fazer gols. Já Lula, que poderia se contentar com um empate, marcou gols.

Os demais candidatos seguiram como já seguem nas pesquisas, sem protagonismo, brilho ou impacto.

E é nesse contexto que a semana se encaminha para um possível "grand finale" com o primeiro debate entre presidenciáveis da Band. Entre muitas especulações, a grande expectativa é de que os dois principais presidenciáveis estejam presentes.

Bolsonaro disse em entrevista à Jovem Pan que deverá participar aos debates. A declaração foi feita algumas horas depois da jornalista Malu Gaspar publicar uma nota de que a campanha do Bolsonaro confirmava a ausência do presidenciável no debate deste domingo (28).

A indecisão é compreensível. Bolsonaro está atrás nas pesquisas e como eu venho repetindo aqui: não basta a disputa ir ao segundo para sobreviver a ele. Hoje, segundo as pesquisas, Bolsonaro não consegue ampliar o seu eleitorado para uma virada no segundo turno.

Ele precisa de toda a mídia possível e o que mais for necessário. Ao mesmo tempo, é um fato notório que Bolsonaro não é alguém preparado, seja para governar o país, seja para um debate. Em 2018 ele desapareceu dos debates depois de duas participações vergonhosas na Rede TV e na Band.

Já é uma certeza da própria campanha de que se Bolsonaro for para o debate, conseguirá arrancar no máximo um empate, resultado que é bom para quem está na frente e não para quem está atrás. E ainda um empate em um evento com muitos riscos.

E embora eu defenda a presença de ambos nos debates pelo bem da democracia, falo isso do conforto de quem não coordena uma campanha. Quem coordena desenha o seguinte cenário: se Bolsonaro não for, será a alegria dos candidatos com um dígito nas pesquisas que poderão tentar usar Lula como uma espécie de palanque e uma completa perda de tempo para o ex-presidente que terá que discutir política com figuras irrelevantes.

Um debate que antecederá uma semana cheia de pesquisas de grande relevância e reconhecimento no país. Qualquer erro poderia já ditar os rumos da semana que se inicia algumas horas depois.

Hoje Bolsonaro vive o dilema clássico do "se ficar o bicho come, se correr o bicho pega". Qualquer escolha pode terminar em uma terceira semana de campanha negativa enquanto faltam menos de 40 dias para o primeiro turno. Tempo é ouro e Bolsonaro até o momento não soube minerar.

*Cleber Lourenço é observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Com passagens pela Revista Fórum e Congresso em Foco. Twitter e Instagram: @ocolunista_

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Nicolau Soares