NOVA CONCERTACIÓN?

Presidente do Chile reforma ministérios após derrota em referendo constitucional

Boric substitui aliados por representantes de partidos da Concertación, antiga coalizão governista (1990 - 2010)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Reforma de gabinete de ministros foi anunciada após reunião do presidente Boric com líderes da Câmara e do Senado do Chile - Presidência Chile

O presidente do Chile, Gabriel Boric, confirmou sua primeira reforma ministerial trocando chefes de quatro pastas e abrindo mais espaço para a centro-direita no governo.  A partir desta terça-feira (6), Carolina Tohá, do Partido pela Democracia (PPD), assume o ministério do Interior. Ana Lya Uriarte, ex-chefe de gabinete da antiga ministra Izkia Siches, assume a Secretaria Geral da Presidência.

No ministério da Saúde, a medica cirurgiã Ximena Aguilera assume no lugar de María Begoña Yarza. Diego Pardow será o novo Ministro de Energia, substituindo Claudio Huepe. Por fim, Silvia Díaz assume o ministério da Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Informação, sucedendo Flavio Salazar.

Com isso, o chefe de Estado confirma um giro do gabinete para a centro-direita, dando mais espaço para a coalizão Socialismo Democrático, que reúne os partidos da antiga Concertación. 

Izkia Siches, amiga pessoal e ex-coordenadora de campanha de Boric, deixa a pasta do Interior e fica de fora do governo. Já Giorgio Jackson foi tirado da Secretaria Geral da Presidência, mas assume o Ministério de Desenvolvimento Social. 

Os anúncios estavam previstos para o meio dia, mas foram oferecidos com hora e meia de atrasado, em transmissão no Palácio La Moneda, sede do governo. Segundo meios locais, Boric teria voltado atrás em duas nomeações pelas polêmicas suscitadas na imprensa e nas redes sociais sobre os nomes de Manuel Monsalve, que deveria assumir o Ministério do Interior, e Nicolás Cataldo, atual subsecretário de Educação que passaria para a pasta da Defesa. 

"Tinha que doer e doi, mas era necessário. Esta mudança de gabinete não é só protocolar, nem para uma foto. Aqui mudamos também o comitê político, que é a condução do nosso governo", disse o presidente. 

Dessa forma, o Comitê Político do governo será formado por cinco mulheres e um homem: Carolina Tohá (Interior), Jeannette Jara (Trabalho), Antonia Orellana (Mulher), Camila Vallejo (porta-voz), Ana Lya Uriarte (Segpres) e Mario Marcel (Fazenda). 

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Estudantes secundaristas convocaram uma manifestação contra as mudanças no gabinete de ministros. Apesar de pacíficos, os atos foram reprimidos pela polícia militar chilena, os carabineros. Até o momento, seis pessoas foram detidas. 

Os estudantes também exigem liberdade aos presos políticos da revolta social de outubro de 2019, que deu início ao processo constituinte no país. 

Quem são os novos ministros?

Carolina Monserrat Tohá Morales é graduada em direito, fundadora do Partido pela Democracia e desde a década de 1990 já ocupou alguns cargos na administração pública: deputada, ministra e prefeita da capital, Santiago. 

Tohá assume o mesmo cargo exercido por seu pai, Jorge Tohá, em 1970, no governo de Salvador Allende. Após o golpe militar, Tohá foi preso e torturado pelos militares, vindo a falecer em 1974.

Silvia Díaz é doutora em química pela PUC-Chile e foi assessora da pasta de Ciência e Tecnologia, desde a sua criação em 2018.  Agora assume o ministério somando mais uma militante do Partido pela Democracia (PPD) no gabinete.

Ana Lya Uriarte é advogada, membro do Partido Socialista e foi chefe do Conselho Diretivo da Comissão Nacional do Meio Ambiente durante a primeira gestão de Michelle Bachelet (2007-2010). A nova ministra da Saúde, Ximena Aguilera é especialista em saúde pública e fez parte do Conselho Assessor Externo para determinar medidas de contenção à pandemia de covid-19. 

O ministro de Energia, Diego Pardow é advogado, membro do partido governante Convergência Social, e foi coordenador da campanha presidencial de Boric. Pardow viveu na Espanha até os dez anos de idade, exilado junto a sua família, durante a ditadura de Pinochet. 

 

 

* Atualizado em 06/09/22 às 17h

Edição: Thales Schmidt