7 de setembro

No RJ, Bolsonaro usa estrutura do 7 de setembro para fazer campanha; oposição vai à Justiça

No discurso, candidato à reeleição atacou Lula e apelou para pautas morais

São Paulo (SP) |
Bolsonaro usou as comemorações do bicentenário da Independência para discursar para seus apoiadores em Copacabana - ANDRE BORGES / AFP

No segundo discurso em atos no dia, realizado na tarde desta quarta-feira (7), o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltou a misturar a comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil com um ato político-eleitoral realizado após desfile e celebrações referentes à data. Em sua fala, repetiu o tom das declarações realizadas em Brasília pela manhã.

"Espere uma reeleição para ver se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição", afirmou Bolsonaro, em frase muito semelhante à utilizada no discurso realizado na capital federal.

Bolsonaro também entrou no tema da corrupção. "Não sou muito bem educado, falo palavrões, mas não sou ladrão", disse. Em outro momento, afirmou que o país está há três anos e meio sem escândalos de corrupção. 

Leia mais: 

No JN, Bolsonaro diz que corrupção acabou; escândalos e interferências provam o contrário

"Compare o Brasil com os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina, e compare com a Nicarágua. Todos são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil", disse, em referência ao ex-presidente e candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública."

Sem sair de sua estratégia de campanha, Bolsonaro também falou sobre as chamadas "pautas morais". "Mais do que questões materiais, nós nos preocupamos com a tradição do nosso povo. Nós somos um governo que sabe que o estado é laico, mas seu presidente é cristão", afirmou.

"Nós defendemos a vida desde a sua concepção. Não existe no nosso governo a ideia de legalizar o aborto. Nós sabemos o que uma mulher passa, uma mãe, quando tem dentro de casa um filho no mundo das drogas. Por isso, o nosso governo não aceita sequer discutir a legalização das drogas. Não admitimos levar adiante a ideologia de gênero."

Outra bandeira recorrente de Bolsonaro foi o aceno ao setor do agronegócio. Ele afirmou que "garantimos a nossa segurança alimentar e a de mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo", sem citar o aumento da fome no país. 

:: Fome se alastra no Brasil: 6 em cada 10 famílias não têm acesso pleno a alimentos ::

Repercussão

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição e um dos organizadores da campanha de Luiz Inácio Lula Silva (PT), criticou os discursos de Bolsonaro neste feriado e afirmou que irá contestar na Justiça Eleitoral o uso do aparato estatal em favor da campanha de reeleição do atual presidente.

"Ajuizaremos ação junto ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral] para apurar o abuso da máquina pública cometido por Bolsonaro hoje. Bom saber que ele tem tantos imóveis suspeitos para indenizar cada centavo do que desfalcou do Tesouro com esses atos explícitos de campanha e que ofendem a Pátria", declarou ele, no Twitter.

 

Randolfe afirmou também que Bolsonaro se apropriou das festividades do Bicentenário da Independência em favor de sua campanha. Disse que os símbolos nacionais serão recuperados e que a democracia sairá vitoriosa.

Lula, aliás, já havia lamentado essa apropriação mais cedo e também afirmou ter fé que o Brasil “irá reconquistar sua bandeira, soberania e democracia”. "200 anos de independência hoje. 7 de setembro deveria ser um dia de amor e união pelo Brasil. Infelizmente, não é o que acontece hoje", declarou, ainda pela manhã, também no Twitter.

A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, também criticou a postura de Bolsonaro. "Apropriação indébita do Bicentenário da Independência do Brasil por Bolsonaro. Ele roubou do povo a comemoração para fazer sua campanha. Apequenou o 7 de setembro. Usou um palanque para se auto elogiar e atacar Lula. Desprezível, quis se colocar acima do país!", disse ela.

O candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) cobrou uma ação da Justiça Eleitoral. “Bolsonaro transformou o 7 de Setembro dos 200 anos da independência no mais desavergonhado comício eleitoral já feito neste país. E houve outras transgressões políticas, institucionais e morais seríssimas”, disse ele.

Simone Tebet (MDB) lamentou o discurso machista de Bolsonaro em Brasília, no qual disse ser “imbrochável”. “Vergonhoso e patético! No dia da Independência do Brasil, o Presidente mostra todo seu desprezo pelas mulheres e sua masculinidade tóxica e infantil”, afirmou.

Já Soraya Thronicke (UB) também reclamou dos atos de Bolsonaro. “Não podemos admitir que sequestrem os nossos símbolos, e nossa esperança. Nem que façam do Dia da Independência uma data eleitoreira. A bandeira é nossa!”

 

Edição: Glauco Faria