Sem "soberba"

Lula: "É possível conquistar votos que faltam para ganhar no primeiro turno"

O que está em jogo neste pleito “é a possibilidade de recuperar o bem-estar da família brasileira”, disse ele

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Ex-presidente Lula (PT), líder das pesquisas eleitorais para o Palácio do Planalto - Ricardo Stuckert

O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou na manhã desta terça-feira (13) que “é possível ganhar as eleições no primeiro turno”. Lula também reforçou a importância de eleger candidatos ao Congresso Nacional comprometidos com o povo brasileiro. E alertou para a necessidade de combater as abstenções. De acordo com o candidato, quem não vota “perde um pouco da autoridade” de cobrar os que foram eleitos. Lula manteve um encontro virtual com 7.866 comunicadores e comunicadores de todo o Brasil.

“Se tem candidato que tem 1% [de intenção de voto] e está acreditando que vai ganhar, eu que tenho 46% tenho que acreditar que é possível nesses próximos 20 dias conquistar os 4% de votos que faltam”, disse o ex-presidente.

Sem “soberba” nem “desprezo” aos adversários, Lula afirmou que uma vitória seria uma “lição de moral” àqueles que não acreditam na democracia e no ser humano. “Nessa gente que não gosta de sindicalista, que não gosta de negro, que não gosta de mulher. Que não gosta de solidariedade, que não sabe estender a mão para o próximo de forma fraterna”, ressaltou.

Pesquisa Ipec divulgada ontem mostra Lula com 46% das intenções de voto, 15 pontos percentuais à frente de Jair Bolsonaro (PL), com 31%. Considerando somente os votos válidos (excluindo branco e nulos), Lula vai a 51%, o que garantiria vitória se o primeiro turno fosse hoje.

Abstenções

Sobre as abstenções, Lula citou o exemplo dos Estados Unidos, em 2016, quando 6 milhões de eleitores deixaram de votar. Após a vitória de Donald Trump, eclodiram protestos contra a sua eleição. “É importante participar do processo. Porque mesmo as pessoas que querem se abster de votar, essas pessoas têm um pensamento para a sua família, para o país. Têm um desejo e um espelho do tipo de vida que ele quer para a sua família. E isso está muito ligado ao tipo de política que pode ser feita para o Brasil. Porque o Brasil tanto pode piorar, quanto pode melhorar”, alertou.

Primavera

Além disso, Lula voltou a citar adaptação de frase atribuída ao poeta chileno Pablo Neruda para se referir à luta pela democracia. “Os poderosos, ou os nossos adversários, poderão tentar matar uma, duas ou três rosas. Mas eles não conseguirão deter a chegada da primavera.” Neruda teria dito “Podrán cortar todas las flores, pero no podrán detener la primavera” – frase muito usada pelo cartunista Henfil nos anos 1980, na resistência à ditadura, referências aos opositores perseguidos pelo regime.

Nesse sentido, o candidato afirmou que a estação das flores “vai fazer com que o povo brasileiro se dirija à urna para digitar o seu voto com muita esperança, muito amor, muita paz, com muita leveza espiritual”. Lula disse aos comunicadores que acompanhavam a transmissão que o desafio não é apenas reconstruir economicamente o Brasil e criar empregos. “Mas nós temos que reconstruir o modo gostoso de viver”. Ele destacou que o que está em jogo nessa disputa eleitoral “é a possibilidade de recuperar o bem-estar da família brasileira”.

Lula aproveitou para criticar a campanha de Bolsonaro (PL), reconhecida pela utilização de robôs que disseminam fake news e mensagens de ódio pelas redes sociais.

“Nós não somos algoritmos. Somos seres humanos. Não queremos perder o nosso humanismo, nossos sentimentos. E é isso que a gente tem que colocar nas nossas mensagens para conversar com as pessoas. O cara que trabalha com robô não tem sentimento, não tem humanismo, não tem solidariedade e fraternidade. E nós precisamos colocar em cada mensagem nossa aquilo que toca mais profundamente na espécie humana, que é o coração”.

De acordo com o ex-presidente, as pessoas são movidas 20% pela razão e 80% pela emoção. Assim, ele defendeu uma “comunicação mais leve”, que toque emocionalmente as pessoas. “Vamos falar diretamente à mulher, diretamente ao homem, falar dos problemas que eles estão sofrendo. Neste instante, nossa candidatura representa a esperança”, acrescentou.

Troglodita da marmita

Lula ainda se disse “estarrecido” com o empresário Cassio Joel Cenali, de Itapeva (SP), a quem chamou de “troglodita”. O bolsonarista se negou a entregar marmita a uma mulher pobre, depois que ela declarou voto no petista. “Uma pessoa que tem a capacidade de tentar humilhar uma pessoa que está com fome, que está precisando de comida, certamente essa pessoa não tem valor. Certamente essa pessoa não é um ser humano, não tem sentimento. E é isso que a gente tem que colocar para fora”. O ex-presidente ainda citou que o empresário recebeu indevidamente R$ 5 mil do auxílio emergencial, e ainda enfrenta oito processos na Justiça, inclusive por passar cheque sem fundo na compra de cabeças de gado.

Estratégia virtual

O ex-prefeito de Araraquara (SP) e coordenador de comunicação da campanha de Lula e Alckmin, Edinho Silva, também disse estar convicto que a rede de comunicadores progressistas será capaz de derrotar o esquema de fake news bolsonarista. “Não vamos competir com a mesma estratégia de robôs, gabinete do ódio. Vamos nos organizar. Organizados, somo mais fortes, porque, se eles têm robôs, nós temos sonhos”, defendeu.

O deputado federal Andre Janones (Avante-MG), que abandonou a corrida presidencial para apoiar Lula, também tratou do combate de narrativas nas redes sociais. Ele destacou que cada rede social tem suas particularidades. Mas citou algumas estratégias em comum.

“É muito importante ter velocidade para desmentir as fake news. Nós vamos desmentir, mas é importante tentarmos sobrepor a narrativa. Eles começaram a narrativa deles, com uma fake news, a gente desmente, mas entra com outro conteúdo, com uma verdade. É preciso tomar a narrativa deles”, afirmou.

Janones alertou ainda que o eleitorado lulista “anda meio escondido”, mas destacou o potencial de mobilização da esquerda. Por outro lado, orientou para que a militância se afaste de qualquer enfrentamento que possa ser confundido com violência. “O bolsonarismo prega a violência, o ódio, eles são isso. O maior exemplo é esse, do eleitor dele que negou uma marmita.”